Segundo
o IBGE, o desemprego rompeu a barreira dos 10% da população economicamente
ativa (aquela em condições de trabalhar), chegando a 11 milhões de
desempregados. É uma situação muito grave. A primeira observação é: o número de
pessoas trabalhando depende do tamanho do Produto Interno Bruto (PIB). Quando o
PIB de 2014 ficou do mesmo tamanho do ano anterior e o de 2015 caiu 3,5%, a
consequência natural seria o aumento do desemprego que viria mais adiante. E veio.
Há
pelo menos três tipos de desemprego. O primeiro é o desemprego keynesiano
(explicado por John Maynard Keynes na grande depressão de 1930). Neste, a causa
é a insuficiência de demanda agregada (consumo das pessoas, consumo do governo,
investimentos das empresas, investimento do governo e demanda do resto do
mundo). Caindo a demanda, a produção é reduzida, pessoas são demitidas e parte
do estoque capital (fábricas, infraestrutura, máquinas, equipamentos etc) entra
em ociosidade.
O
segundo é o desemprego marxiano (explicado por Karl Marx no período 1850-1870).
Neste, há insuficiência de capital para ocupar toda a mão de obra disponível.
Ou seja, mesmo que haja demanda, a estrutura de capital produtivo não é capaz
de absorver todas as pessoas em condições de trabalhar, e há duas
consequências: aumento do desemprego e queda dos salários. Neste ponto reside a
essência da bronca de Marx com o capitalismo, para quem o sistema promoveria a
redução de salários pelo excesso de pessoas procurando trabalho.
No
tempo de Marx (ele morreu em 1883), a Revolução Industrial estava no começo e
não havia capital instalado para ocupar toda a mão de obra disponível, entre
outras razões, porque a população crescia exponencialmente. Em 1830, o mundo
tinha 1 bilhão de habitantes e, em 1930, 2 bilhões. Ou seja, o dobro em apenas
100 anos. Ao dizer que a religião era o “ópio das massas”, Marx acusou a igreja
de criar o conformismo entre os pobres e nada fazer para conter a explosão da
população.
O
terceiro é o desemprego tecnológico. Em 1970, o Brasil tinha 46% da população
vivendo na zona rural. Hoje, apenas 12% dos brasileiros vivem no campo, como
resultado das tecnologias produtivas, que diminuem a necessidade de gente. Nas
últimas décadas, o mesmo aconteceu com a indústria de transformação. A
expressão “colarinho branco” surgiu em meados da década 1950, quando o número
de empregados de macacão na lavoura e nas fábricas tornou-se menor que o número
de trabalhadores em setores administrativos e de serviços. No futuro, a maioria
das fábricas irá operar praticamente sem operários, substituídos por robôs
sapiens.
No
Brasil, os três tipos de desemprego estão presentes. A compreensão desse
problema não é tão simples quanto transparece nas discussões de nossos
governantes, dos parlamentares e da maioria dos dirigentes sindicais.
Certamente, a maioria deles nunca parou para estudar seriamente o tema e fazer
um debate profundo sobre essa problemática (ressalvadas as honrosas exceções de
praxe), livres de cacoetes partidários e ideológicos.
Afora
os periódicos especializados, a imprensa em geral também perpassa esse assunto,
roçando a superfície do tema sem se aprofundar em explicações teoricamente mais
elaboradas. Isso é ruim, porquanto se trata de uma das mais complexas e graves
questões sociais. Voltarei ao tema em outro artigo.
José Pio Martins - economista e
reitor da Universidade Positivo.
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