A
fome é caracterizada pela ausência de qualquer tipo de alimentação por períodos
prolongados. A desnutrição é uma condição patológica causada pela falta de
ingestão ou falta da absorção de nutrientes para correto funcionamento do corpo
humano. Já a fome oculta é derivada de uma deficiência de micronutrientes no
organismo, não atingindo apenas as pessoas que não ingerem uma quantidade satisfatória
de alimentos, mas também aquelas que consomem alimentos em excesso, porém de
baixo índice nutricional.
Estes são problemas que podem se relacionar, mas que não necessariamente têm a
mesma causa. Mas a principal característica de todos eles é a falta de
vitaminas e minerais essenciais para que o organismo funcione de forma
adequada, inclusive mantendo a imunidade fortalecida, algo muito importante
durante toda a vida e que vem sendo muito falada por estarmos em meio a uma
pandemia viral global.
De acordo com o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatísticas), realizado entre 2017 e 2018, 15 pessoas, em média, morrem de
fome todos os dias no país. Em cinco anos, aumentou em cerca de 3 milhões o
número de pessoas sem acesso regular à alimentação básica, atingindo, ao menos,
10,3 milhões de pessoas no país. Em 2018, o Ministério da Cidadania realizou o
Mapeamento da Insegurança Alimentar e Nutricional (MAPA InsAN); os dados
mostraram que, em média, 427.551 crianças com menos de cinco anos tinham algum
grau de desnutrição, calculado de acordo com o déficit de peso por idade ou
altura. Para ter um parâmetro global, a Organização das Nações Unidas estimou
que quase 690 milhões de pessoas passaram fome em 2019.
Agora, se falarmos em desnutrição, a FAO (Organização para Agricultura e
Alimentação das Nações Unidas) estima que haja aproximadamente 2 bilhões de
pessoas desnutridas no mundo e 840 milhões de pessoas subnutridas nos países em
desenvolvimento, destes, mais de 200 milhões são crianças. A fome oculta é a
principal causa de anemia e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, 30%
da população mundial é anêmica, em especial crianças abaixo de dois anos e
mulheres de diferentes faixas etárias, embora também possa ocorrer em homens e
idosos. No Brasil, estima-se que 40% a 50% das crianças tenham anemia.
Dentre diversas ações e planos possíveis para solucionar esses problemas está a
fortificação de alimentos essenciais, como as farinhas de trigo e milho que são
fortificadas com ferro e ácido fólico, o sal, enriquecido com iodo e o leite
com adição de vitamina D, entre outros. Para isso, muitos governos realizam
ações e parcerias público-privadas para que alguns alimentos sejam fortificados
com vitaminas e micronutrientes, esse é um caminho extremamente eficiente.
A vitamina D, por exemplo, vem sendo muito considerada por médicos e
nutricionistas por estar associada à saúde óssea - melhora a absorção de
cálcio, o que reduz o risco de fraturas - e também porque está associada à melhora
da imunidade e redução no risco de infecções no trato respiratório. Em tempos
de Covid-19, esse último fator é extremamente importante. Inclusive, a OMS
passou a recomendar a vitamina D para infecções respiratórias, já que pesquisas
recentes apontam que o nutriente tem um efeito protetor no trato respiratório
superior, podendo evitar que o organismo seja infectado e, caso seja, o vírus é
combatido e tratado com mais agilidade e reduz as chances de sintomas mais
severos.
É inegável que o sol é a melhor fonte de vitamina D, isso porque os raios
ultravioletas do tipo B (UVB) são capazes de ativar a síntese desta substância
no nosso organismo, mas há evidências científicas de que praticamente o mundo
todo sofre com deficiência de vitamina D. Por isso, muitos reguladores e
entidades científicas recomendam sua complementação em alimentos.
Por fim, a melhor forma de prevenir a desnutrição é garantir o consumo de uma
dieta balanceada, rica em vitaminas e micronutrientes. Tornar isso acessível a
toda a população é um trabalho árduo e complexo. E, diante disso, a parceria
público-privada é essencial para trilhar esse longo caminho que temos a seguir.
Giovani Saggioro - graduado em Ciências
Farmacêuticas e vice-presidente de Nutrição Humana para a DSM América Latina.
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