Saiba os principais mitos sobre o transtorno bipolar e a relação com a pandemia
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde
(OMS), o transtorno afetivo bipolar atinge atualmente cerca de 140 milhões de
pessoas no mundo. A mudança brusca na rotina e o isolamento social acendeu um
alerta sobre a importância da saúde mental durante a pandemia. A tarefa de
controlar o estresse, medo e ansiedade gerados pela atual situação é bastante
complexa, mas é ainda mais difícil para pacientes com transtornos psiquiátricos,
como o transtorno bipolar.
A psicóloga e psicanalista Caroline Severo,
Coordenadora da Residência Terapêutica da Holiste Psiquiatria, explica que a
depressão bipolar - diferente da depressão unipolar - se caracteriza pela
transição de períodos de extremo desânimo para extrema euforia. “O transtorno
bipolar se caracteriza pela oscilação de episódios de rebaixamento e elevação
de humor. Na depressão, é comum sentimentos de culpabilidade e autocensura. Na
euforia, há a predominância de comportamentos impulsivos, excitações
incontroláveis e perda da capacidade de autocrítica, com risco de exposição a
si e a terceiros”.
Diante do cenário de confinamento, distanciamento
social e falta de perspectiva, é preciso se atentar às emoções que se fazem
mais presentes e se há uma grande dificuldade de lidar com a realidade e de se
reinventar diante do mal-estar atual, uma vez que essa esses sentimentos podem
gerar sintomas patológicos e desencadear quadros de depressão ou de mania - ou
seja, servir como gatilho emocional.
Bipolaridade e vida familiar
Assim, uma pessoa aparentemente produtiva e
extremamente entusiasmada pode estar passando, na verdade, por uma condição
psiquiátrica complexa: a bipolaridade. A especialista explica que durante a
fase de mania ou euforia é comum que haja maior comportamento de desinibição,
gastos excessivos e aumento da irritabilidade, variando de níveis. O episódio
pode ser um desafio também para a família que - em tempos de isolamento -
passam mais tempo juntas.
“O transtorno bipolar se caracteriza por oscilações
entre estados de depressão, em que a pessoa pode ser tomada por intensas
ideações de ruína e pela mania, sendo tomada por sentimentos de onipotência e
perda da noção de perigo. Ambas as condições podem levar a situações de alto
risco. O entendimento dos quadros é fundamental: é preciso diferenciar os
aspectos da personalidade, uma crise de mania ou de depressão. Este é um passo
importante na reconstrução dos laços familiares geralmente desgastados por
conta do desconhecimento da doença”, comenta.
Mitos sobre bipolaridade
Caroline alerta sobre a confusão entre o que é uma
manifestação de uma crise no transtorno bipolar com o que são características
da personalidade da pessoa. “Ouvimos frases como ‘ele é bipolar, está bem e
daqui a pouco já está mal’ ou ‘ela é bipolar, muda de humor muito rápido’. Essa
questão é muito importante, pois muitas pessoas estão subtratadas, não
diagnosticadas ou resistentes ao tratamento por haver dúvidas entre aspectos da
personalidade e sintomas de mania ou de depressão”.
A profissional esclarece que o entendimento é
fundamental para que a bipolaridade não se transforme num estigma e comprometa
a adesão da pessoa ao tratamento. “A primeira questão a ser esclarecida é que o
paciente com diagnóstico de transtorno bipolar, tem mudanças de humor, mas
estas não são do dia para a noite. Um paciente deprimido ou em mania pode
apresentar os sintomas de cada fase por semanas, meses ou até anos. Não há, por
exemplo, um paciente que acorda deprimido e vai dormir em mania ou vice-versa”,
define.
Bipolaridade e Tratamento
O tratamento da bipolaridade é uma conjugação de
diversas especialidades médicas: remédios e psicoterapia. “A abordagem
farmacológica do transtorno bipolar é um aspecto fundamental do tratamento para
estabilizar o humor. Já a psicoterapia se dedica às questões singulares do
paciente. Não se trata apenas de esclarecer o diagnóstico, mas de questionar
subjetivamente o que deflagra e mantém as crises de mania e depressão,
construindo a partir daí novas formas de lidar com a repetição sintomática”,
detalha.
Contudo, a principal estratégia para o sucesso do
tratamento é a frequência. A especialista explica que o tratamento efetivo é
aquele que o indivíduo mantém sem interrupções - mesmo durante a pandemia.
“Atualmente, os atendimentos podem ser realizados de forma remota, ou seja,
online, garantindo a sustentação do tratamento. A rotina durante a pandemia foi
bastante impactada, o que é uma questão sensível aos pacientes que têm esse
diagnóstico”.
Para finalizar, a psicóloga dá uma dica: “Mesmo em
casa, sustente uma rotina que contemple os seus interesses e a própria
singularidade. Junto ao tratamento, os cuidados com a subjetividade e com o
corpo são de extrema importância para evitar novas crises”, encerra.
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