Pesquisa apontou que a microbiota da região bucal
pode contaminar a região palpebral com o uso da máscara
Enquanto
não há tratamento e nem vacina para todos, as medidas sanitárias, como o uso da
máscara e do álcool gel, são fundamentais para combater o covid-19.
Entretanto, segundo uma pesquisa publicada pelo American Journal of Ophthalmology,
em fevereiro de 2021, o uso da máscara facial está
relacionado ao aumento da incidência do terçol e do calázio, inflamações que
atingem as bordas das pálpebras.
Os pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, realizaram
uma análise retrospectiva de registros médicos da região, comparando a
incidência do calázio antes e depois da recomendação do uso da máscara facial.
O aumento, a partir do mês de abril de 2020, em comparação ao mesmo período de
2019, foi muito significativo. Em junho de 2020, por exemplo, o número de casos
praticamente dobrou em relação ao mesmo período do ano anterior.
Brasil
segue mesma tendência
De acordo
com a oftalmologista, Dra. Tatiana Nahas, especialista em doenças da
pálpebra, Chefe do Serviço de Plástica Ocular da Santa Casa de São Paulo,
a pesquisa corrobora o que acontece na prática clínica. “Realmente, é
impressionante a quantidade de casos de terçol e calázio que temos recebido no
consultório desde junho do ano passado, com progressivo aumento esse ano”.
A oftalmologista explica que o calázio é uma progressão do terçol. “O terçol é
um abcesso. Na maioria das vezes, o líquido é drenado pelo organismo e se
resolve sem intervenção. Porém, quando a drenagem não ocorre, a lesão se
encapsula e se chama calázio. O que traz o paciente ao consultório é o calázio,
cujo tratamento é cirúrgico”.
Bactérias
do mal
“Quando
estamos de máscara, a respiração é direcionada para a região periorbital. Isso
significa que o microbioma, ou seja, as bactérias que colonizam nosso sistema
digestivo, entram em contato com nossos olhos. Isso aumenta muito o risco de
desenvolver inflamações e infecções nas pálpebras, como o calázio e o terçol”,
explica Dra. Tatiana.
“Além disso, a máscara facial acelera a evaporação das lágrimas, piorando os
sintomas do olho seco. E sabemos que olho seco está associado tanto a blefarite
quanto ao calázio. A secura ocular também altera a glândula de Meibômio. Quando
essa estrutura fica obstruída, pode gerar o calázio”, reforça a oftalmologista.
Por fim, o Staphylococcus aureus, por exemplo, está comumente associado
à blefarite e é um componente frequente da flora oral humana. Na prática, esses
patógenos se incorporam às gotículas expelidas por meio de atividades como
falar, espirrar e tossir. Vale lembrar ainda que as pessoas acabam levando a
mão ao rosto diversas vezes para ajustar a máscara, o que também contribui para
a contaminação da região ocular.
É
possível prevenir
O uso da
máscara é obrigatório. Obviamente, não é o único fator de risco para
desenvolver terçol e calázio. Mas, é nítido que contribui para essas condições.
Dra. Tatiana recomenda manter a higiene bucal em dia, com escovação, uso de fio
dental e de um antisséptico bucal. Além disso, as máscaras de pano precisam
estar sempre lavadas e higienizadas.
“A umidade e o calor são condições perfeitas para a proliferação das bactérias.
Por isso, quando a máscara ficar úmida, é hora de trocá-la. É importante
evitar também o ajuste excessivo da máscara para reduzir o contato
das mãos com o rosto”, ressalta a especialista.
“Uma dica que pode ajudar é colocar uma fita adesiva, o micropore, na parte
superior do nariz, entre os olhos. Isso serve tanto para evitar a contaminação
pela respiração quanto para reduzir a necessidade de ajustar a máscara a todo
momento”, cita Dra. Tatiana.
Por último, quem tem blefarite, que é uma inflamação crônica das pálpebras,
deve realizar a higiene das pálpebras diariamente, com um xampu neutro
infantil.
“Como vimos, temos estratégias importantes que podem ser adotadas para evitar o
calázio, nos mantendo protegidos com o uso da máscara”, finaliza Dra. Tatiana.
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