O resultado de um estudo com pacientes que precisam fazer cirurgias pode influenciar a programação de imunização da COVID-19 no Brasil e no mundo. A pesquisa aponta que se a vacina for aplicada previamente em pacientes que irão passar por cirurgias eletivas pode evitar dezenas de milhares de mortes pós-operatórias relacionadas à COVID-19, por reduzir significativamente o risco de complicações da doença. Esta é a conclusão da pesquisa conduzida no Reino Unido com a participação de cientistas brasileiros, entre eles médicos do Instituto Integra Saúde e do Hospital A.C. Camargo Cancer Center, ambos em São Paulo, Capital. O estudo analisou dados de pacientes cirúrgicos com câncer, com outras doenças benignas e a população em geral, num total de 56.589 casos eletivos, 141.582 casos de mais de 1.660 hospitais no mundo. O objetivo do estudo foi apurar informações que mostrassem o impacto da imunização na redução da mortalidade de pacientes submetidos a qualquer tipo de cirurgia eletiva.
O trabalho revela que mesmo em regiões onde é
baixa a taxa de contaminação por COVID-19 na população, os pacientes cirúrgicos
correm maior risco ao serem infectados no hospital.
Ao vacinar o grupo de pacientes que passarão por tratamento
cirúrgico mais complexo e necessário, é possível reduzir significativamente o
número de mortes por COVID-19 no pós-operatório, segundo Felipe José Fernández
Coimbra, cirurgião oncológico, diretor do Instituto Integra Saúde e head
da equipe médica da Cirurgia Abdominal do A. C. Camargo Cancer Center.
“O estudo vem mostrar que esse é grupo prioritário para a vacinação”, afirma o
oncologista e participante do estudo. Ele acredita que o Sistema Público de
Saúde (SUS) e o Ministério da Saúde devem considerar esses dados na atualização
de grupos prioritários, de acordo com a maior disponibilidade de imunizantes.
A pesquisa, divulgada em abril de 2021, analisou dados de
vacinação e dos índices de prevenção das vacinas. Foram separados três grupos
por faixa etária e em três condições diferentes: um grupo de pacientes com
cirurgias por câncer, um outro de pacientes por cirurgias em geral e o terceiro
na população que não passaria por nenhum procedimento.
“Foram feitas projeções estatísticas baseadas nessas
informações, de quantas pessoas vacinadas precisariam para diminuir uma morte”,
comenta Coimbra. O novo achado se deu em relação ao grupo de cirurgias, se
comparado ao grupo da população em geral. “Foi observado que dentre os
pacientes que precisam de cirurgia, aqueles que farão cirurgia por câncer é a
que teve a melhor relação de prevenção de morte por COVID-19, indicando que
pacientes que obrigatoriamente precisam de uma cirurgia oncológica, neste
momento de pandemia, é um dos grupos que mais se beneficiaria da vacina antes
da cirurgia”, afirma.
Os resultados mostraram que, ao imunizar pessoas em tratamento
de câncer e que serão operadas, a possibilidade de diminuir o número de mortes
é significativamente maior, se forem vacinados o mesmo número de indivíduos,
que não passariam por operação.
A pesquisa também confirmou que o grupo composto por integrantes
com faixa etária mais elevada teria a melhor relação de números de pessoas
vacinadas para prevenir uma morte. “Quanto mais idade, ao vacinar, maior é a
chance de prevenir a mortalidade por COVID-19”, explica. Ele relata que essa
informação já era conhecida, tanto que a imunização começou com os mais velhos,
exceto algumas prioridades que estão começando a surgir.
Coimbra comenta que o paciente que desenvolve COVID-19 após a
cirurgia tem um risco de mortalidade muito maior, principalmente em procedimentos
complexos, como os do aparelho digestivo. “A mortalidade dos pacientes que
desenvolvem COVID-19 no pós-operatória de cirurgias complexas aumenta em 200% a
300%, então essa vacinação é muito importante”, assegura. Estes dados resultam
de outra pesquisa do mesmo grupo colaborativo internacional, chamada COVIDsurg,
nesta linha de investigação científica e que conduziu a pesquisa atual.
Coimbra explica que nos pacientes contaminados por SARS-CoV-2, o pulmão é um
órgão-alvo importante, apesar de o vírus acometer severamente também os vasos
sanguíneos e o rim. Porém, o complicador está no fato de o pulmão ser
muito exigido na recuperação de uma cirurgia de alta complexidade. “Daí o risco
maior na recuperação porque além de ele estar recuperando da cirurgia, se ainda
tiver mais uma agressão, que é o desenvolvimento da COVID-19 numa forma mais
grave, os riscos de complicação, de aumentar a permanência hospitalar e mesmo
de mortalidade são muito evidentes”, atesta Coimbra.
O problema no Brasil e no mundo é a disponibilidade da vacina. O
próprio estudo sugere que, à medida que a vacina estiver disponível para a
maior parte da população, a vacinação para grupos de maior risco deve ser
considerada, incluindo pacientes com doença pulmonar, diabéticos e obesos, dentre
outros. “Neste caso, o estudo ajuda a entender que pacientes que precisam de
tratamento cirúrgico inadiável e, principalmente, pacientes com câncer, devem
ser considerados grupos prioritários para vacinação, pois eles teriam grande
benefício nessa imunização prévia”, comenta.
O médico lembra que a cirurgia é um dos principais tratamentos
para muitas doenças. No caso do câncer, 80% dos doentes precisam de algum
procedimento cirúrgico, nos vários momentos do seu tratamento. Para o biênio
2020-2021, devem ser registrados 600 mil novos casos de câncer no país. Esse
universo significa cerca de 480 mil pessoas em cirurgia, incluindo os vários
graus de complexidade. Este número é muito maior, se consideradas as operações
por causas diversas. “Por isso é extremamente importante falar da cirurgia em
câncer e da vacinação pré-operatória desses pacientes”, afirma.
A pesquisa
A apresentação dos resultados é relevante para inserir pacientes
com recomendação de cirurgia dentro dos grupos prioritários na vacinação, visto
que, segundo o estudo, ao longo de 2021, a maioria dos governos priorizará o
acesso à imunização para pessoas com maior risco de mortalidade por COVID-19. A
pesquisa foi publicada recentemente no British
Journal of Medicine, uma das mais conceituadas publicações sobre medicina
no mundo.
Os cientistas acreditam que ao vacinar os pacientes que serão
submetidos a cirurgias eletivas, será possível retomar esses procedimentos com
maior segurança para os pacientes de câncer ou sem câncer, nas faixas etárias dos
18 aos 70 anos, homens ou mulheres. As operações agendadas com antecedência
foram suspensas em diversas regiões do Brasil e do mundo, por conta da pressão
sobre as unidades de saúde resultante da pandemia. No entanto, quando for
possível retomar a realização desses procedimentos, a vacinação pré-operatória
poderá imprimir maior segurança a essas atividades.
O estudo explorou o impacto da vacinação contra SARS-CoV-2 em
pacientes adultos, nas faixas etárias de 18 a 49 anos, de 50 a 69 anos e a
partir de 70 anos de idade, que passaram por qualquer tipo de cirurgia eletiva
de internação. A pesquisa foi estratificada por faixa etária porque a
mortalidade por COVID-19-19 está mais associada a pessoas com idade avançada.
No estudo foi definido como qualquer diagnóstico de SARS-CoV-2
feito após a cirurgia, até e incluindo o dia 30° pós-operatório, em pacientes
com e sem sintomas. Os pesquisadores buscaram definir o número necessário
para vacinar (NNV) para prevenir uma morte relacionada à COVID-19-19 ao longo
de um ano, considerando que os pacientes cirúrgicos seriam imunizados antes da
operação. O NNV é uma métrica usada na avaliação de vacinas e na elaboração de
políticas de imunização. A estratificação de cirurgias de câncer e sem câncer
foi adotada porque são diferentes a priorização e o planejamento desses dois
grupos de procedimentos.
Sobre a eficácia da vacina, o artigo resultante do estudo
informa que “nenhuma morte por COVID-19-19 foi relatada além de uma semana após
a vacinação contra a SARS-CoV-2 nos estudos de fase III publicados até o
momento. A análise principal foi, portanto, baseada na vacinação contra
SARS-CoV-2 sendo 95% eficaz na prevenção de morte por COVID-19-19”.
O documento relata que as descobertas foram consistentes em
todos os ambientes, independentemente das taxas de infecção da comunidade. A
vacinação contra SARS-CoV-2, de acordo com a pesquisa, pode prevenir dezenas de
milhares de mortes pós-operatórias relacionadas ao COVID-19-19. Ainda
segundo o artigo, pesquisas futuras devem avaliar qual das vacinas licenciadas
é mais eficaz em pacientes cirúrgicos e o momento ideal para a vacinação
pré-operatória.
Instituto Integra Saúde
O Instituto Integra Saúde, sediado em São Paulo, Capital, é uma
instituição de tratamento amplo em oncologia e saúde bucal, formada por
médicos, equipe multidisciplinar, dentistas e pesquisadores altamente
especializados, que atuam no cuidado integral dos pacientes e aplicação de
terapias mais avançadas no diagnóstico e tratamento dos tumores de esôfago,
estômago, duodeno, vesícula biliar, pâncreas, fígado, intestino delgado e
cólon. A proposta do Instituto Integra Saúde é oferecer cuidado completo ao paciente
nas áreas de oncologia clínica, cirurgia oncológica, odontologia e equipe
multidisciplinar de apoio.
Cientes da relevância da prevenção e do diagnóstico precoce no
sucesso de todos os tipos de tratamentos para os diversos tumores, o Instituto
está intensificando suas ações de educação e divulgação de conhecimento, por
meio do Integra Conhecimento. O objetivo é levar informações de maneira
compreensível para que as pessoas possam se informar com conteúdo de qualidade.
Com essa finalidade, terão início em maio de 2021 séries de lives sobre
tumores do sistema digestivo e os avanços nas terapias e cirurgias.
Também
faz parte do Instituto Integra Saúde uma equipe de
dentistas especializados em diferentes áreas, que atua desde o nascimento dos
dentes até cuidados que envolvem o acompanhamento de pacientes oncológicos,
reabilitação oral, ortodontia, endodontia, periodontia e estética bucal, dentre
outros.
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