pixabay |
Profissionais que
lidam com sexualidade humana afirmam que comportamento sexual passa por
transformações inéditas que levam desde o aumento da assexualidade, quanto a
buscas por novas formas de sexo
O que Alexa, Siri, Google Assistente e pandemia têm
a ver com sexo? Tudo. É o que profissionais e pesquisadores de sexualidade
humana do mundo todo estão constatando em atendimentos e estudos voltados a
entender os efeitos do distanciamento social sobre o comportamento humano. Na
visão dos especialistas, assim como o home office já era uma tendência que
foi acentuada pela necessidade do distanciamento social, a revolução sexual em
curso também foi acelerada, consolidando tendências como a busca por formas artificiais
de prazer que farão parte do novo normal daqui por diante.
Para dar conta dessa revolução, disparou a produção
de artigos e a busca por atendimento especializado em sexologia. “Como tudo em
nossa sociedade da ansiedade vira sintoma para diagnóstico, a
procura pelos consultórios médico-psicológicos ou por aconselhamento em
instituições sociais aumentou. A problematização sintomática da libido é
inicialmente uma busca de saída rápida e fácil pela via da medicação – em alta
em tempos de indústria farmacológica –, mas, em seguida, vem um mal-estar pela
consciência dos efeitos colaterais dos remédios, dentre os quais, sempre a
diminuição da própria libido”, alerta Ocir de Paula Andreata, pós-doutor e
doutor em Teologia, psicólogo especialista em Sexualidade Humana e coordenador
da pós-graduação em Sexualidade Humana da Universidade Positivo (UP).
O especialista chama atenção para a diminuição e a
inibição do desejo, que antes já eram as principais queixas nos consultórios,
mas que com a pandemia pioraram. “Motivação do desejo sexual pela fantasia é
algo que não pode acabar. É preocupante o desinteresse que tem feito crescer a
assexualidade, ou seja, a morte do desejo, que é o grande elemento que move a
sexualidade, desde a estrutura biológica do impulso afetivo até a conexão com
relações sociais de prazer sexual”, pondera.
Na avaliação dele, o que é considerado involução,
são formas abusivas e esvaziadoras que minam a confiança e sem alimentação
afetiva da alma. Já a adesão à tendência mundial, muito anterior à pandemia, do
chamado sexo “tinder-pornô” de prazer livre sem vínculo afetivo, pode ser
classificada como um comportamento que reflete o contexto tecnológico e de
valores das gerações que caminham para relações mais fluídas, complexas e
desapegadas de grandes definições. “O pornográfico se tornou o paradigma do
sexo, a facilidade de encontro feito por aplicativos virou símbolo de relações
fugazes apenas para o prazer-orgásmico, e os relatos de mulheres e homens são
de um vazio na contínua busca por um sexo que seja também amor”, revela.
Solteiros X casados
De acordo com a própria experiência como
profissional da área e relatos de colegas e ex-alunos que viram lotar as
agendas de atendimento durante a pandemia, o especialista afirma que o sexo
parece ter diminuído para os casados e compromissados e que esteja “mais
diversificado” para solteiros de livres relacionamentos. “A libido diminuiu e
se recolheu em relações estáveis a ponto de levar a separações e aumento da
violência doméstica. Por outro lado, em solteiros de todas as idades,
especialmente os de meia-idade, aumentou a busca por contatos diversificados de
parceiros e novas formas de prazer sexual via redes de comunicação, que deixam
as relações mais horizontais, e de aplicativos de contato, que facilitam
interações e encontros com finalidade exclusivamente sexual para o prazer”,
aponta.
Tal situação acompanha o que já foi descrito em
algumas pesquisas no mundo. Durante o primeiro mês da pandemia, o Instituto
Kinsey, junto à Universidade de Indiana, nos EUA, fez uma pesquisa on-line
sobre a situação do sexo na pandemia, com 1.559 pessoas adultas. Na pesquisa,
quase metade da amostra relatou um declínio na vida sexual, mas um em cada
cinco participantes relatou expandir seu repertório sexual incorporando novas
atividades. Os acréscimos mais comuns foram conversas eróticas on-line por
aplicativos, experimentar novas posições sexuais e compartilhar fantasias
eróticas.
Ressignificação da sexualidade
Andreata considera que a pandemia serviu para
trazer à tona problemas relacionais já existentes, questões indefinidas de
gênero e subjetividades inquietas por outras formas de prazer e amor. “Nota-se
um aumento da ansiedade por retorno aos encontros sexuais fáceis do
tinder-pornô. Mas observa-se também certa vontade de algum novo aumento do
desejo que tanto inove as relações de prazer quanto retorne ao afeto
sustentador”. Nesse sentido, ele acredita que a revolução sexual deve caminhar
no sentido de uma ressignificação da sexualidade. “Acima de tudo, é o sujeito desta
atual modernidade que está em crise e não necessariamente a identidade ou os
modos de gozo, os quais, aliás, quanto mais comuns e populares, mais banalizam
a experiência sublime do sexo”, ressalta.
Sobre o curso de Sexualidade Humana
O curso de Pós-Graduação em Sexualidade Humana:
Clínica e Educação é, há sete anos, um ambiente de pesquisas, formação e
fomento de projetos na área da sexualidade humana em suas mais diversas
modalidades de acontecimento. O corpo docente, formado por cerca de quinze professores,
doutores e mestres, profissionais e pesquisadores da sexualidade em suas áreas
médica, psicológica, fisioterápica, educacional, antropológica, relacional,
organizacional e bioética, têm entre si algumas percepções compartilhadas. O
curso reúne a experiência prática, pesquisas, estatísticas de dados e leitura
analítica. Em 2020, foi o curso que registrou maior aumento na procura na
Universidade Positivo, com 42% de crescimento no número de alunos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário