Estudo da Unifesp avalia riscos de aquisição de imunizantes não ser coordenada pelo PNI
Na ausência da coordenação do Ministério da Saúde para a
execução do Plano Nacional de Imunização (PNI), prefeitos de municípios por
todo o Brasil estão se juntando numa espécie de consórcio para a compra de
vacinas contra a Covid-19. Contudo, a aquisição decentralizada gera riscos para
uma compra desordenada, o que pode acentuar as já grandes desigualdades
existentes entre municípios no país. O alerta é dado em estudo realizado pelo
Departamento de Economia da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da
Universidade Federal de São Paulo (EPPEN/Unifesp).
"Apesar de ter amparo em decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF), tal movimento gera mais desigualdade e iniquidade no acesso à saúde,
além de prejudicar as possibilidades futuras de crescimento econômico, dado que
municípios mais ricos, localizados em regiões mais ricas, conseguirão
participar mais desses consórcios e, possivelmente, comprar vacinas para suas
populações. No entanto, aqueles municípios historicamente mais vulneráveis,
localizados em regiões com menos recursos econômicos serão alijados do processo
de compra ‘pulverizada’ de vacinas. Assim, os moradores dos rincões do país não
serão imunizados, viabilizando inclusive o desenvolvimento de cepas de vírus
mais letais e mais transmissíveis. Fato que por si só coloca todo o país em
risco de novas ondas de contaminações e amplia incertezas", avalia a
professora Luciana Rosa de Souza, que junto com o pós-graduando Abraão da Cruz
Tavares realizou o estudo.
A avaliação foi feita usando-se como referência o Conectar,
Consórcio Nacional de Vacinas das Cidades Brasileiras, criado pela Frente
Nacional de Prefeitos para aquisição de vacinas paralelamente às ações do
Ministério da Saúde. Mais de 2.400 municípios mostraram interesse em fazer
parte desse consórcio, sendo predominantes municípios da região Sul e Sudeste,
em detrimento das regiões Nordeste e, sobretudo, Norte do país.
Para Tavares, criar uma força que se contraponha ao papel do
Sistema Único de Saúde (SUS) na promoção da vacinação é perigoso, pois pode
minar o PNI. "Entendemos que a má gestão do PNI é um projeto desse
governo, e a criação do Conectar é uma resposta. Porém, é uma solução que
guarda em si o gérmen da destruição do Plano Nacional de Imunização, uma vez
que coloca a responsabilidade da vacinação sobre os entes subnacionais, os
quais têm menor poder de barganha para comprar, transportar, estocar e aplicar
as vacinas. Isso, considerando a complexidade do processo logístico e econômico
dada as especificidades brasileiras, onde um imenso contingente populacional
distribuído por um território continental, faz do SUS um dos maiores
compradores de vacina do planeta, o que por si só gera poder para barganhar
preços e prazos de entrega", afirma.
A professora Luciana conclui: "o Conectar conseguirá
representar apenas 44% dos municípios do país, deixando parte importante da
população sem cobertura vacinal. Dessa forma, ainda apelamos ao bom senso dos
entes nacionais para que o PNI seja todo feito e executado pelo Ministério da
Saúde, como sempre foi, de modo que a vacina chegue o mais rápido possível até
quem mais precisa, a toda a nossa população."
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