A ética
empresarial é uma asseguradora dos valores de uma empresa. Ela ajuda a manter o
objetivo final do negócio intacto, preservando e desenvolvendo os interesses de
seus shareholders (os acionistas) e stakeholders (todos os
públicos), como o lucro e a sustentabilidade.
No
entanto, para compreender como isso funciona é preciso criar um modelo mental
que reflita o mundo real - e nele inserir elementos da administração e da
ética, assim como os ativos da empresa em seus locais de ação.
Através
da reflexão desse modelo é que encontraremos a discussão ética por si só, e
perceberemos como é ela quem blinda o mais delicado ponto de vulnerabilidade da
empresa: os seus ativos. Cada ativo se encontra no que chamamos de um cenário
problema, cujas suas zonas de risco podem ser externas ou internas.
Quando
consideramos um ativo em uma zona de risco externa, ele sempre virá acompanhado
de uma esfera que o protege. São todas as ações e sistemas que o defendem no
mundo físico, aliadas aos princípios éticos sociais e empresariais que deveriam
ser respeitados - inclusive por serem parte da lei, em alguns casos.
Apesar
disso, invariavelmente, toda esfera de blindagem do ativo possuirá pontos de
vulnerabilidade, e estará sujeita aos ataques de um personagem conhecido como
ameaça que, uma vez que invada o ponto vulnerável de um ativo, gera forças
negativas no presente, com um impacto imediato, e no futuro, com as
consequências.
Para
citar um exemplo, considere um banco cujo principal ativo é o dinheiro confiado
a ele por seus clientes. Esse ativo tem a finalidade de trazer lucro, pois
tarifas são cobradas pela manutenção e aplicações são fomentadas para ambas as
partes a fim de rentabilizar os valores aplicados por meio de investimentos e
juros.
Ao
ocorrer um roubo sobre esse ativo, advindo de alguma ameaça da zona de risco
externa, o impacto se revela imediatamente, comprometendo valores da empresa,
como confiança e segurança. Já a consequência vai de encontro à credibilidade
do banco, que pode perder os atuais e os potenciais clientes por acreditarem
que ele não é seguro.
No caso
dos riscos externos, encontramos ferramentas tecnológicas de gerenciamento de
risco, mão de obra especializada, gestão jurídica, inteligência de negócios,
entre outros, que ajudam a blindar e proteger o ativo.
Já quando
o risco é interno, as questões são melhor compreendidas com os mecanismos de compliance.
Nesse caso, um ativo que podemos considerar para o modelo mental é a conduta. O
ponto de vulnerabilidade é essa ação ser transformada em uma série de condutas
de baixo valor agregado.
Toda
empresa tem colaboradores que, ao lado dos parceiros e fornecedores, produzem
determinadas condutas, pretendendo-se que elas se alinhem sempre ao máximo
possível aos valores da organização. Apesar de muitas vezes não percebida, a
conduta é o ativo mais importante de uma empresa.
Nesse
caso, quando a ameaça atinge o ativo, ele próprio se torna a ameaça, consumindo
o que poderia ser produtivo e tornando-o uma porta de risco constante. Pode
parecer paradoxal, mas essa má conduta consome ativos e isso se reflete como
uma doença na empresa, sistêmica e infecciosa.
A conduta
é a própria manifestação das vontades e interesses das pessoas. Vale dizer que
as coisas não se viabilizam sozinhas, por elas mesmas, e sim pelas pessoas que
as conduzem. As condutas dessas pessoas, sendo boas ou más, são o que movem uma
organização e definem a sua trajetória.
Quando
uma conduta é inapropriada, ela se transforma em risco, fragilizando a empresa
como um todo. Já quando ela é apropriada e de alto valor agregado, protege a
empresa. A conduta de baixo valor nada mais é do que uma postura ética egoísta,
imediatista e, no mínimo, irresponsável. É esse tipo de postura que gera a
corrupção.
É aqui
que chegamos a uma conclusão complexa. Na zona de risco externa, nossas defesas
são mais palpáveis, acessíveis. Na zona de risco interna, ela depende muito
mais de entendimento e de ações do valor humano. A ética tem como sua aliada a
lei, que promete consequências pesadas em caso de descumprimento.
Contudo,
é através do compliance, da mudança de visão ética e da adoção de uma
postura que vise o bem coletivo que se conquista a preservação da empresa no
longo prazo. Por meio da ética se alcança a blindagem necessária para que más
condutas sejam prevenidas, combatidas e extirpadas. Elas são a maior doença que
uma empresa pode enfrentar. A cura está no esclarecimento por si só.
Samuel
Sabino - fundador da consultoria Éticas Consultoria,
filósofo, mestre em bioética e professor.
Rodrigo de Pinho Bertoccelli - advogado e fundador/presidente do IBDEE (Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial).
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