segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Zonas de risco empresarial: como proteger ativos intangíveis?



A ética empresarial é uma asseguradora dos valores de uma empresa. Ela ajuda a manter o objetivo final do negócio intacto, preservando e desenvolvendo os interesses de seus shareholders (os acionistas) e stakeholders (todos os públicos), como o lucro e a sustentabilidade. 

No entanto, para compreender como isso funciona é preciso criar um modelo mental que reflita o mundo real - e nele inserir elementos da administração e da ética, assim como os ativos da empresa em seus locais de ação.

Através da reflexão desse modelo é que encontraremos a discussão ética por si só, e perceberemos como é ela quem blinda o mais delicado ponto de vulnerabilidade da empresa: os seus ativos. Cada ativo se encontra no que chamamos de um cenário problema, cujas suas zonas de risco podem ser externas ou internas. 

Quando consideramos um ativo em uma zona de risco externa, ele sempre virá acompanhado de uma esfera que o protege. São todas as ações e sistemas que o defendem no mundo físico, aliadas aos princípios éticos sociais e empresariais que deveriam ser respeitados - inclusive por serem parte da lei, em alguns casos. 

Apesar disso, invariavelmente, toda esfera de blindagem do ativo possuirá pontos de vulnerabilidade, e estará sujeita aos ataques de um personagem conhecido como ameaça que, uma vez que invada o ponto vulnerável de um ativo, gera forças negativas no presente, com um impacto imediato, e no futuro, com as consequências. 

Para citar um exemplo, considere um banco cujo principal ativo é o dinheiro confiado a ele por seus clientes. Esse ativo tem a finalidade de trazer lucro, pois tarifas são cobradas pela manutenção e aplicações são fomentadas para ambas as partes a fim de rentabilizar os valores aplicados por meio de investimentos e juros. 

Ao ocorrer um roubo sobre esse ativo, advindo de alguma ameaça da zona de risco externa, o impacto se revela imediatamente, comprometendo valores da empresa, como confiança e segurança. Já a consequência vai de encontro à credibilidade do banco, que pode perder os atuais e os potenciais clientes por acreditarem que ele não é seguro. 

No caso dos riscos externos, encontramos ferramentas tecnológicas de gerenciamento de risco, mão de obra especializada, gestão jurídica, inteligência de negócios, entre outros, que ajudam a blindar e proteger o ativo. 

Já quando o risco é interno, as questões são melhor compreendidas com os mecanismos de compliance. Nesse caso, um ativo que podemos considerar para o modelo mental é a conduta. O ponto de vulnerabilidade é essa ação ser transformada em uma série de condutas de baixo valor agregado. 

Toda empresa tem colaboradores que, ao lado dos parceiros e fornecedores, produzem determinadas condutas, pretendendo-se que elas se alinhem sempre ao máximo possível aos valores da organização. Apesar de muitas vezes não percebida, a conduta é o ativo mais importante de uma empresa. 

Nesse caso, quando a ameaça atinge o ativo, ele próprio se torna a ameaça, consumindo o que poderia ser produtivo e tornando-o uma porta de risco constante. Pode parecer paradoxal, mas essa má conduta consome ativos e isso se reflete como uma doença na empresa, sistêmica e infecciosa. 

A conduta é a própria manifestação das vontades e interesses das pessoas. Vale dizer que as coisas não se viabilizam sozinhas, por elas mesmas, e sim pelas pessoas que as conduzem. As condutas dessas pessoas, sendo boas ou más, são o que movem uma organização e definem a sua trajetória.

Quando uma conduta é inapropriada, ela se transforma em risco, fragilizando a empresa como um todo. Já quando ela é apropriada e de alto valor agregado, protege a empresa. A conduta de baixo valor nada mais é do que uma postura ética egoísta, imediatista e, no mínimo, irresponsável. É esse tipo de postura que gera a corrupção. 

É aqui que chegamos a uma conclusão complexa. Na zona de risco externa, nossas defesas são mais palpáveis, acessíveis. Na zona de risco interna, ela depende muito mais de entendimento e de ações do valor humano. A ética tem como sua aliada a lei, que promete consequências pesadas em caso de descumprimento.

Contudo, é através do compliance, da mudança de visão ética e da adoção de uma postura que vise o bem coletivo que se conquista a preservação da empresa no longo prazo. Por meio da ética se alcança a blindagem necessária para que más condutas sejam prevenidas, combatidas e extirpadas. Elas são a maior doença que uma empresa pode enfrentar. A cura está no esclarecimento por si só.






Samuel Sabino - fundador da consultoria Éticas Consultoria, filósofo, mestre em bioética e professor. 

Rodrigo de Pinho Bertoccelli - advogado e fundador/presidente do IBDEE (Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial).


 

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