Não adianta negar: todo mundo vai envelhecer. E
inevitavelmente, com o passar do tempo, nosso organismo sofre alterações que
mudam o ciclo de vida e fazem com que sejam necessárias algumas adaptações. Mas
antes de tomar qualquer providência, é importante saber o que é crendice
popular e o que é verdade acerca do envelhecimento.
A especialista no assunto, Eva Bettine, que é
gerontóloga da Universidade de São Paulo (USP) e consultora do Método SUPERA
Ginástica para o Cérebro conta que existem algumas frases sobre idosos que vão
sendo repetidas ao longo do tempo e são “naturalizadas”, fazendo com que as
pessoas não se questionem a respeito. “Mas não é bem assim”, diz ela.
Confira abaixo as frases apontadas como mais
comuns pela especialista e os motivos pelos quais não se deve levá-las
adiante.
1 – A velhice começa aos 60 anos
Este é um equívoco muito comum e a explicação é
muito simples: na gerontologia (especialidade médica que estuda os processos de
envelhecimento), se acredita que nós começamos a envelhecer a partir do momento
da concepção. Ou seja: uma criança que nasceu é mais velha que um feto dentro
da barriga da mãe, por exemplo. “Senão aconteceria assim: você dorme aos 59,
novinho em folha, faz 60 anos e acorda velho. Isso não é verdade, tudo se trata
de um processo”, explica Eva.
Segundo a especialista, houve uma época em que as
pessoas não falavam em idade. Depois, foi necessário separar dessa forma por
questões sociais, como maioridade. Mais tarde, categorizaram as gerações por
motivos legais. Mas a idade depende de diversos fatores, afinal, nem todas as
pessoas de 60 anos são iguais umas às outras, certo?
2 – Velhice = doenças
Este mito está tão enraizado no pensamento da
sociedade atualmente que se você tiver qualquer doença depois dos 60 anos, vai
pensar “é porque estou ficando velho!” e, na verdade, não é bem assim.
Eva exemplifica: se uma pessoa é hipertensa e
toma os medicamentos prescritos para isso, sua pressão arterial vai estar
dentro de uma faixa considerada saudável. Logo, podemos afirmar que ela tem uma
doença controlada. Então do ponto de vista da gerontologia, é uma pessoa com
saúde. Muitas pesquisas apontam que existem milhares de idosos com até 85 anos
perfeitamente saudáveis.
Segundo a especialista, para evitar o
aparecimento de sintomas das doenças neurogenerativas do cérebro, como o
Alzheimer, é muito importante manter a mente ativa ao longo da vida praticando
exercícios para o cérebro. Eles ajudam a fortalecer as ligações entre os
neurônios, criando uma reserva cognitiva.
3 – A pessoa idosa volta a ser criança
É comum que algumas pessoas mais velhas precisem
de ajuda para se locomover, se alimentar, realizar algumas atividades
diárias... Mas isso não nos autoriza a afirmar que se trata-se de crianças.
Termos no diminutivo como “vovozinha, queridinha, fragilzinho, idosinho” podem
representar uma fala carinhosa (tudo depende da intenção do locutor), mas
muitas vezes denotam um grande preconceito em função da idade.
A especialista conta que já presenciou pessoas
apertando bochechas de idosos como se fossem crianças, acompanhadas de falas
como “senta aqui nessa cadeirinha”. Em uma situação como essa, a pessoa mais
velha se sente diminuída assim como o termo que está sendo usado. Então é
melhor evitar.
4 – A velhice é a melhor idade
Não necessariamente. Na gerontologia, acredita-se
que a melhor idade pode ser qualquer uma da vida em que estejamos nos sentindo
muito bem. Ao afirmarmos que “a velhice é a melhor idade” para um idoso com
problemas como dificuldade para ouvir, enxergar ou andar, podemos ofender.
Este mito ainda enfraquece o que a sociedade
precisa entender sobre a idade mais avançada. Pensamentos do tipo “que ótimo,
já que estão na melhor idade, não precisamos fazer nada” precisam ser extintos.
5 – Toda pessoa mais velha tem problema de
memória
Ao reproduzir este mito, nós diminuímos a
capacidade da pessoa idosa e ela, ao acreditar, se sente incapaz também.
Segundo Eva, hoje existem evidências científicas de que nós aprendemos até o
fim da vida. Logo, a velhice “não é desculpa” para afirmar que não se aprende
mais. Atividades como aprender um novo idioma ou praticar exercícios para o
cérebro são as melhores formas de manter a cognição preservada.
6 – Velhice = sabedoria
Segundo Eva, pessoas
sábias são aquelas que acumularam sabedoria, compreenderam fatos sobre a vida e
conseguem passar isso adiante como ensinamento sem diminuir ninguém. E nós não
podemos afirmar que uma pessoa se tornou mais sábia ao longo do tempo porque
tudo depende do curso de vida – quanto ela se dedicou a aprender, ajudou e
conheceu pessoas... Ou seja: é importante não generalizar. Ainda que seja um
mito “positivo”, a idade não pode ser vista cegamente como um sinônimo para
sabedoria.
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