Detentor de parque tecnológico fantástico, o Brasil precisa ser reconhecido como referência mundial em mecanização agrícola para regiões tropicais e subtropicais. A indústria já possui uma série de legados no desenvolvimento de tecnologias, como a revolução do plantio direto, que exigiu grande esforço brasileiro entre os anos 1970 e 1980 para a obtenção de enormes ganhos de produtividade.
Observa-se agora outra revolução: a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
(ILPF). Trata-se de avançado sistema de cultivo, que integra diversas
atividades com o objetivo de manter a propriedade rural ativa durante o ano
inteiro. Muitos produtores rurais, que antes se dedicavam somente à pecuária,
já começaram a agregar outras áreas. Assim, eles mantêm atividade agrícola
intensa e obtêm grande incremento de renda.
Claro que não é possível dissociar os ganhos sucessivos de produtividade
no desenvolvimento da agricultura tropical de todo o investimento empenhado em
biotecnologia, afinal a mecanização e a biotecnologia sempre caminham em
paralelo. Assim como surgem variedades de vegetais, adaptadas principalmente ao
estresse hídrico como também às pragas características da região, as máquinas
agrícolas precisam receber inovações.
Diferentemente da agricultura de países temperados, onde o inverno faz o
controle natural de doenças, pragas e plantas daninhas, a agricultura tropical
demanda intensiva quantidade de pulverização em função do clima quente,
condição que provoca a rápida evolução de pragas e doenças. Dessa forma, o
desenvolvimento de tecnologias para a pulverização é uma competência do País,
que faz investimentos pesados para tornar a atividade cada vez mais eficiente e
ambientalmente sustentável.
Outra técnica da agricultura tropical é o plantio direto. Nele a
cobertura de palha é mantida no solo para proteção contra eventos danosos, tais
como a erosão, de forma que as sementes são inseridas no solo sem que seja
previamente revolto, por meio de manipulação mecanizada. Esta forma de plantio
só foi possível com o desenvolvimento de máquinas específicas para esta
condição, o que exigiu enorme esforço brasileiro porque o solo em condições
extremas de compactação e umidade e com pesada cobertura de palha demanda
equipamentos robustos, de características estruturais e funcionais próprias.
Mas ainda não se esgotaram os ganhos de eficiência na área de plantio
direto. As novas plantadeiras precisam atender diversos requisitos, como
demandar cada vez menor potência dos tratores, operar em alta velocidade e
apresentar maior eficiência no depósito de adubo e semente no solo, para que
seja realizado de forma cada vez mais precisa em aspectos como espaçamento e
profundidade do plantio.
O Brasil, como principal produtor mundial de cana-de-açúcar, possui
papel proeminente na difusão de tecnologias de plantio e colheita de
cana-de-açúcar. Hoje praticamente todas as atividades são mecanizadas muito em
função do desenvolvimento acelerado, ocorrido nos últimos 10 anos. O desafio
agora é que a automação, já utilizada em grande escala junto aos grandes
produtores, também evolua para os pequenos.
Com milhares de pesquisadores envolvidos, a história brasileira
demonstra a vocação da nossa indústria para o desenvolvimento de novas
tecnologias, que podem ser exportadas para outros mercados como América do Sul,
África e Ásia. Essa presença no Exterior tem potencial de se acentuar mediante
maior divulgação do capital intelectual brasileiro empenhado no desenvolvimento
deste parque tecnológico.
Uma contribuição neste sentido é 9º Simpósio SAE BRASIL de Máquinas
Agrícolas, que debaterá a visão dos principais fabricantes em relação ao
mercado e ao desenvolvimento de máquinas e implementos para a agricultura
tropical e subtropical. Quem tiver interesse em debater o assunto está
convidado para o encontro, dia 31 de agosto, na Federação das Indústrias do Rio
Grande do Sul (FIERGS), em Porto Alegre.
Daniel Zacher - diretor-geral da Tryber
Tecnologia e chairperson do 9º Simpósio SAE BRASIL de Máquinas Agrícolas.
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