Você marca um encontro com seus amigos para colocar
o papo em dia e nota que todos estão olhando para seus smartphones ao invés de
conversar. Ou ainda suponha que você é um professor e precisa ensinar um
conteúdo complexo de Física para seus alunos e percebe que boa parte da turma
está desatenta, mexendo no celular.
Esses exemplos nos fazem refletir se a nossa
capacidade de dar real atenção às coisas e ao momento do aprendizado encolheu.
Acredito que os profissionais de aprendizagem e desenvolvimento devem usar as
pesquisas fundamentadas sobre como aprendemos para, daí sim, termos base para a
criação de um treinamento. Isso nos impede de cair em modas e usar métodos que
possam diminuir o aprendizado. Não podemos processar, lembrar ou aplicar
informações que não tenhamos realmente recebido, ou seja, que não tenhamos dado
devida atenção.
Como funciona: Vamos
falar, agora, sobre três problemas específicos de atenção que podem levar a
dificuldades de aprendizagem:
- Nosso processo de raciocínio favorece a resolução de problemas óbvios, em vez de questões e mudanças sutis.
- A forma que processamos diferentes inputs (entradas de informação)
- Somos multitarefas, o que realmente prejudica a atenção.
Nossos processos de pensamento dão mais importância
às questões de perigo eminente e grandes mudanças ambientais. Um exemplo é que
sempre estivemos atentos às atitudes provenientes de um outro ser humano ou até
mesmo de um ataque animal. Agora, no entanto, a maioria das necessidades de
atenção são com coisas mais sutis. Precisamos captar alguns sinais mais tênues
que nos dizem para analisarmos profundamente uma determinada situação, como,
por exemplo, quando tiramos um extrato bancário e ele vem com pequenos débitos,
recorrentes e não autorizados que podem levar a um montante maior.
Nossos sentidos lidam com muitos inputs
provenientes do ambiente que nos rodeia, mas muito pouco dessas informações são
realmente processadas. Isso porque nossos sistemas de atenção e memória só
podem processar uma pequena quantidade de cada vez. Internalizamos o que
achamos mais importante. Mas o que é realmente significativo? O que estamos
processando pode estar em desacordo? É muito fácil ter a atenção atraída por
situações emocionais.
Também temos problemas para prestar atenção em
informações que exijam processamento pelo mesmo "canal" de entrada.
Sistematizamos a informação verbal (o que nos é falado) e visual (o que vemos)
em diferentes "canais". E essas modalidades de interação são
armazenadas em dois tipos de memória diferentes: memória verbal e memória
visual. Desta forma, existiria uma maior chance de armazenamento e recuperação
dessas lembranças, conforme necessário, quando as memórias relacionadas são
armazenadas verbal e visualmente. Mas quando tentamos processar várias entradas
de informações no mesmo canal, enfrentamos dificuldades. Por exemplo, não
podemos processar facilmente duas pessoas falando ao mesmo tempo. Mas podemos
observar as expressões faciais de um falante e processar suas palavras
simultaneamente (canal visual e canal verbal).
E como se todos estes problemas relacionados a
atenção não bastassem, ainda tentamos ser multitarefas. Pesquisas mostram,
claramente, que não podemos fazer várias coisas ao mesmo tempo. O que estamos
executando, quando achamos que estamos sendo multitarefa, é rapidamente mudar o
foco de nossa atenção. E a mudança rápida, muitas vezes, prejudica nosso
rendimento na atividade que estamos tentando realizar. Cal Newport, autor do
livro Deep Work: Rules for Focused Success in a Distracted World,
nos ajuda a entender que a multitarefa exige muito da atenção e realmente
prejudica - de forma severa - a capacidade de nos concentrarmos e focarmos no
que é mais importante para o sucesso.
No que a sua atenção tem trabalhado? Uma vez
que percebemos todas os fatores que interferem na nossa atenção, entendemos que
precisamos superar algumas barreiras para nos mantermos atentos. Temos muito
trabalho a fazer:
- Monitorar o ambiente ao nosso redor, suas ameaças e mudanças;
- Ignorar informações provenientes de nossos sentidos, que nós acreditamos não serem necessárias neste exato momento.
- Selecionar, a todo momento, onde iremos focar.
- Ajudar a memória organizar o que é importante processar.
Nossas mentes se concentram muito nos itens 1 e 2,
em detrimento de outras tarefas. Essa é uma das razões pelas quais eu não
consigo ver um carro desacelerando na minha frente até que ele pare bem na
frente e eu bata em seu para-choque. Não é, no entanto, simplesmente, que eu
não estivesse prestando atenção. Na verdade, eu não estava me concentrando nas
mudanças (sutis) do ambiente ao meu redor que me diziam que o carro adiante
estava diminuindo sua velocidade ou parando. Meu foco era, provavelmente, sobre
problemas emocionais: os comentários de um colega de trabalho ou a pessoa no
banco do carona que estava ouvindo música alta.
Na pesquisa de Wilson e Korn sobre a atenção dos
alunos durante as aulas convencionais foram encontradas poucas evidências de
que realmente os alunos focam a atenção na exposição do que está sendo
ensinado. E portanto, devemos, dizem eles, fazer o máximo possível para
aumentar a capacidade dos estudantes de prestarem atenção e garantir que eles
tenham selecionado corretamente as ideias mais importantes.
Distrações...saiam daqui! Uma
implicação óbvia dos problemas aqui abordados são as dispersões. Mas os
smartphones são úteis ou uma distração? Eu duvido que você tenha problemas com
os resultados da pesquisa porque nós usamos nosso celular, laptop ou tablets
durante aulas, oficinas, apresentações e conferências. É tão fácil afastar-se
da pessoa que fala e focar naquilo que a mente nos diz ser fundamental (mas
provavelmente não é): e-mail, Facebook, você o nomeia.
O uso de um smartphone pode ter efeitos positivos
sobre a atenção e a aprendizagem, mas somente quando eles são usados para
atividades centradas na instrução. Mas quando os laptops não são usados
estritamente para atividades relacionadas com a aquisição do conhecimento,
vemos os seguintes resultados negativos: mais distrações, falta de engajamento
nas atividades e, em última análise, menos aprendizado. Coloque distrações
junto com dificuldades de atenção típicas e temos uma receita para não
aprender. A pesquisa sobre o comportamento dos alunos na classe mostra que as
pessoas estão distraídas pelas atividades não relacionadas ao foco da
aprendizagem.
Nem tudo está perdido! Essa
dificuldade crônica de atenção pode ser resolvida se soubermos monitorar nosso
ambiente e extrair dele as atividades que precisam ser nosso foco. É necessário
também ignorar as informações desnecessárias que insistem em desviar nossa
atenção.
Além disso, podemos lançar mão dos dispositivos
tidos como protagonistas da distração para, por meio deles, impulsionar nossa
aprendizagem. Mas para que isso aconteça, devemos buscar formas mais adequadas
e adaptadas para esses artefatos tecnológicos. Nos treinamentos corporativos, por
exemplo, eu auxilio as empresas na construção de aplicativos que sejam
persuasivos, ou seja, que atraiam a "atenção" dos usuários nos temas
que elas querem que sejam aprendidos. Para isso, utilizo várias técnicas de
Design de Interface (UX/UI), técnicas de aprendizagem baseadas em Microlearning
e alguns conceitos de Ensino Adaptativo, que transformam conteúdos densos em
pílulas, facilitando o aprendizado e se adequam a cada indivíduo.
Mas, em suma, o importante é entendermos que a
atenção não está diminuindo ou aumentando, e sim, os fatores externos a ela que
vão se alterando com o passar do tempo. Antes não existiam smartphones,
Internet, Facebook, Instagram, Snapchat e etc. Por isso, devemos nos manter
vigilantes em formas e atitudes que podem melhorar nossa atenção e, por
consequência, nosso aprendizado, porque aprender sem atenção é IMPOSSÍVEL.
Espero que este artigo forneça algumas dicas de
como melhorar sua atenção e, consequentemente, sua produtividade.
Samir Iásbeck - CEO e Fundador do Qranio,
plataforma mobile de aprendizagem que usa a gamificação para recompensar os
usuários e estimulá-los a se envolver com conteúdos educacionais em todos os
momentos. Seu foco é auxiliar companhias na criação de treinamentos
personalizados e 100% móveis para possibilitar que os colaboradores destas
empresas tenham acesso às informações na hora e no local que necessitam, por
meio de recursos que incentivam o autodesenvolvimento. Com base em conteúdo
adaptado, baseado em microlearning, a plataforma se encaixa no estilo de vida
“on the go” dos colaboradores. O Qranio também possui seu aplicativo disponível
gratuitamente para Android e iPhone (iOS) e já conta com mais de 1 milhão de
usuários inscritos e 43 milhões de perguntas respondidas. O app também disponibiliza
uma loja virtual onde os usuários podem trocar suas moedas virtuais (os Qi$)
por prêmios reais.
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