Em
estudo baseado em dados de um aplicativo de uma gigante de celulares divulgado
recentemente, descobriu-se que os brasileiros estão caminhando abaixo da média
mundial. O aplicativo contabiliza as passadas dadas ao longo do dia quando
estamos com o celular no bolso, ou seja, praticamente sempre.
Esse
dado nos remete a algumas considerações interessantes. A primeira delas e mais
evidente está relacionada ao baixo índice de atividade física praticado no
país, o que claramente contradiz algumas pesquisas recentes sobre o número de
pessoas ativas no Brasil estar próximo dos 40% ou 50%.
Existe
uma explicação para tal diferença. Esses números totalmente fora da realidade
surgem quando as pesquisas perguntam para as pessoas se elas são ou não ativas.
Para não se sentirem envergonhadas, muitas acabam respondendo com dados,
digamos, não verdadeiros. Sabemos que o número de praticantes regulares de
atividade física no país é de 4% e chega no máximo a 10% quando consideramos os
esporádicos. Os dados trazidos recentemente pelo aplicativo, então, nos revela
a realidade:
"sim,
somos sedentários".
Alguns
levantam questões econômicas ou falta de tempo como impeditivos, mas, ao longo
de mais de 20 anos de profissão, trabalhando com todos os públicos possíveis,
não consegui encontrar até hoje, uma única pessoa, na qual não fosse possível
colocar alguma atividade, sem mudança drástica de rotina, e sem custos. Por
qual razão, então, nós brasileiros, somos preguiçosos, sedentários e inventamos
essas desculpas?
A
maior dificuldade está na imagem que temos sobre o que é exercício físico, onde
ele existe e podemos praticá-lo, e o que realmente sabemos sobre nossa
necessidade de movimento.
Não
nos ensinaram que o exercício não precisa ser intenso, que não é preciso nos
"fantasiarmos" de esportista e muito menos competir no esporte ou no
Fitness por resultados que poucos são capazes de atingir. Isso, aliás, tem
efeito contrário, já que comparações de resultados e metas de outras pessoas
podem nos seguem frustrar.
Não
sabemos como o corpo funciona, porque precisamos nos mover, e ainda nos fizeram
associar mentalmente esforços com castigos. A educação física escolar tem uma
grande responsabilidade sobre isso. E os pais, que também sofreram e não
receberam o real conteúdo da educação física seguem fortalecendo o modelo
sedentário, não dando exemplos (pois afinal nem sabem como fazer). No final das
contas, geramos gerações e gerações de pessoas avessas ao exercício, com
preguiça do esforço.
Evidentemente,
o fato de pesquisas ligadas à tecnologia revelar o sedentarismo no país não é o
suficiente para fazer as pessoas mudarem o comportamento e o estilo de vida.
Esse trabalho de transformação acontece na cabeça e não no físico.
Experiências
positivas na atividade física infantil são capazes de criar associações e
conexões de prazer com o exercício. Nosso cérebro gosta de sentir prazer,
independentemente da idade. Quando estamos em situação de sucesso,
reconhecimento, eficiência e mérito, nos sentimos bem. Já nos ambientes
competitivos, de comparação, de esforços ultra intensos, surge o medo, a
vergonha, a incerteza, o fracasso, etc., todas sensações negativas, que fazem
com que fujamos delas pelo risco.
Exceto
o pequeno grupo formado pelos 4% de ativos que temos já na sociedade e que
gostam desse desafio.
Há
um modelo certo para ampliarmos esse grupo e termos uma população menos
sedentária. É o modelo onde entendemos o exercício, onde escolhemos o que
gostamos, do jeito que gostamos, na frente de quem queremos e que favoreça as
decisões, conscientemente, de fazer mais ou menos vezes um esforço. Esse tipo
de modelo é capaz de trazer mais pessoas para uma vida ativa.
Cristiano
Parente - professor e coach de educação física, eleito em 2014 o melhor
personal trainer do mundo em concurso internacional promovido pela Life
Fitness. É CEO da Koatch Academia e do World Top Trainers Certification,
primeira certificação mundial para a atividade de educador físico.
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