Especialista em neurociência aponta
ensinamentos simples que valem muito no mercado de trabalho
Férias é sinônimo de descanso e
diversão para crianças e jovens. E pode ser um período de aprendizado dentro de
casa através da rotina dos próprios pais, com ensinamentos que vão prepara-los
para a vida profissional no futuro. De acordo com Luciano Salamacha,
especialista em neurociência aplicada à gestão de negócios e RH, a educação
recebida em casa é capaz de qualificar e habilitar os pequenos para lidarem com
o dia a dia no trabalho.
Para ilustrar, Salamacha faz uma
analogia da educação com os cômodos de uma casa, apontando aos pais os
possíveis ensinamentos que se obtém em cada cantinho de um lar de maneira leve
e descompromissada, mas que serão levados para o futuro profissional. “Não é
nada maçante. É algo que pode ser feito naturalmente e que vai produzir na
criança de hoje um bom padrão de conduta para o amanhã. E quem não quer ter
filhos vencedores e felizes?”, comenta o professor.
Na cozinha, por exemplo, o processo
de preparo de alimentos, a sequência necessária para se elaborar um prato, a
higiene e a qualidade aprovada da comida preparada, bem como a satisfação ou
não do resultado final constroem, de maneira natural, a importância de se
seguir processos, atenção à qualidade do que se entrega, a necessidade de
respeitar o feedback.
Além disso, é possível obter a noção de que todos têm a mesma relevância em uma
equipe, independe do tamanho ou percentual de participação que um indivíduo
tem. “Imagine a seguinte situação: ao confeccionar um bolo, a farinha e o
açúcar têm forte participação em relação ao fermento, porém como fica o bolo
sem fermento? Os jovens podem perceber esse impacto facilmente com a mão na
massa”, exemplifica o especialista.
Outro lugar em casa que agrega com
experiências é a dispensa. O orçamento da família é fortemente afetado pelas
compras que realiza, pelos produtos que consome e, principalmente, pelos que
não consome. O simples gesto de mostrar aos filhos os alimentos que sobram na
prateleira, fazê-los contar, por exemplo, quantos pacotes de macarrão têm e
quantos são consumidos, os ensinarão a realizar melhores compras quando forem
ao supermercado. São elementos valorizados pelas empresas: a importância de se
controlar estoques de maneira racional, evitar desperdícios, gerenciar
orçamento e perceber que as compras devem seguir processos racionais e não
serem realizadas por impulso.
Na sala, qual família nunca passou
pela situação de cada um quer assistir um programa diferente? Ou de as pessoas
disputarem o melhor lugar no sofá? Então, surge a necessidade de harmonizar os
diversos interesses envolvidos. Dois fortes e valorizados elementos de
capacitação exigidos pelas empresas são a capacidade de negociar e de ceder em
prol do espírito de equipe, desenvolvidos naturalmente quando os pais aplicam
atividades ligadas à solução deste tipo de problemas. O reverso também é
verdadeiro: contornar essas situações em vez de gerencia-los pode passar uma
noção errada sobre como encarar e resolver problemas de relacionamento.
Já no quarto, a tônica é
organização. Quantas vezes uma mãe não tem que chamar a atenção dos filhos
sobre a bagunça onde vivem? As empresas precisam de pessoas que respeitam
a rotina, que entendam a importância de arrumar, organizar e manter em ordem um
ambiente, ainda que seja onde apenas a pessoa utiliza. Essas imposições
corriqueiras refletem o cuidado com os recursos da organização. O mesmo se
aplica ao fato de as crianças cumprirem horários como: acordar, se preparar para
ir à escola etc.
Sobre o banheiro, quais são os pais
que nunca bateram na porta pedindo para que a criança acabasse o banho? Ou
então tiveram que apartar irmãos que brigavam porque um deixou o banheiro
totalmente bagunçado para o outro? A capacidade de relacionamento interpessoal
está diretamente ligada ao respeito à individualidade e às diferenças. Por
exemplo, se o banheiro é coletivo para a família, deixar o ambiente propício
para o outro é respeito, é saber conviver em equipe, importar-se com o outro, é
saber dividir e compartilhar.
Luciano
Salamacha - Doutor em Administração, Mestre em
Engenharia de Produção, com MBA em Gestão Empresarial e Pós-Graduação em Gestão
Industrial. Além de palestrante, atua como consultor de empresas, preside e
integra o Conselho de Administração de companhias nacionais e
multinacionais. É professor em programas de Pós-Graduação e Mestrado em
instituições de ensino no Brasil, Argentina e EUA. Docente no Instituto
Olímpico Brasileiro e na FGV Management, onde foi por sete anos considerado o
melhor professor de Estratégia de Empresas nos MBAs, e um dos poucos
professores que foram laureados para o Quadro de Honra de Docentes.
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