Embora muito se fale da importância do bom desempenho econômico
para garantir a estabilidade política, na verdade, são as escolhas políticas
que definem o curso das condições da economia. Dirigimos um carro com os
olhos fixos para adiante. Olhamos de relance no retrovisor para ver se algo
impede nossa projeção à frente.
A política é estabelecida pelo conjunto das escolhas. São
exatamente essas escolhas que sinalizam o que se pode esperar mais para frente.
A crise que vivemos, gestada no âmbito interno, é essencialmente de natureza
política. Isso não quer dizer que não existam sérias restrições econômicas. A
situação fiscal e a baixa produtividade são apenas alguns bons exemplos dessas
condições restritivas encontradas na economia nacional. Porém, tem sido nossas
escolhas que obstam as possibilidades de superação das muitas e variadas
restrições do cenário econômico brasileiro.
Vivemos dias de incerteza, mais apropriadamente meses de grande
imprevisibilidade sobre o futuro imediato. Depois de vencida uma difícil e
dolorosa etapa, representada pelo impedimento da ex-presidente Dilma Rousseff,
somos todos impactados por novos e tenebrosos fatos. Nunca na história do país,
um presidente da República esteve na iminência de ser processado durante o
exercício do mandato.
Isto é, sem dúvida, um fato dramático. Vínhamos nos recuperando
lentamente. Muito vagorosamente, é verdade. As vendas ao consumidor final
começavam a dar sinais de frágil recuperação. Sim, depois das vendas
mergulharem velozmente a partir de outubro de 2014, a partir de janeiro deste
ano começou-se a notar uma tímida e instável retomada. Essa situação permitia,
com algum otimismo, que se previsse um crescimento de 1% a 2% no Produto
Interno Bruto brasileiro.
Agora, encontramos outro ambiente. O cenário positivo associado à
ideia de um presidente que, embora sem apoio popular, pudesse conduzir reformas
transformadoras se esvaneceram totalmente. Neste momento, não há cenário
positivo. Se o presidente sai, envolvido até o último fio de cabelo em
corrupção, o que virá depois? Se permanecer, o que sobrará? Incerteza. A
incerteza política impede que se enxergue o trajeto da estrada. Sem
possibilidades de ver, não se pode ir adiante. A economia para, ou pior,
regride.
Assim, infelizmente, a melhor previsão que se pode fazer hoje,
sendo otimista, é de um leve recuo. Ocorre que as surpresas têm sido abundantes
e, lamentavelmente, sempre na direção de ampliar a volatilidade do ambiente
político.
Claudio
Felisoni de Angelo - presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo
e Mercado de Consumo (IBEVAR)
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