Há estudantes que passam muitas horas por dia em cima dos livros, deixam de socializar, de praticar esportes e até mesmo de dormir de forma adequada para estudar. Normalmente atitudes como essas são celebradas e interpretadas como positivas para a preparação aos exames de acesso ao ensino superior, seja por meio de vestibulares ou ENEM. É claro que todos querem alcançar bons resultados e, nessa é uma jornada, se exige dedicação e disciplina, contudo, um importante papel de quem educa é o de equilibrar os estudos e a saúde mental.
Entre os objetivos da escola está a formação de
cidadãos capazes de resolver problemas, trabalhar em equipe, argumentar com
coerência e coesão, defender e respeitar diferentes pontos de vista e ser, cada
vez mais, observadores e críticos de si mesmos e do mundo a seu redor. A Base
Nacional Comum Curricular foi o marco legal recente que explicitou de forma
corajosa o trabalho com as competências socioemocionais alinhadas à diretriz
organizacional de metas de aprendizagem para todas as etapas da Educação
Básica.
Para dar conta da formação integral dos nossos
estudantes,para além dos conteúdos formais previstos ao longo da escolaridade,se
faz necessário assegurar a promoção de uma educação socioemocional, nas mais
diferentes situações didáticas que engajamos esses estudantes, dentro e fora da
escola. Esse cuidado não é mero detalhe, mas parte indissociável de qualquer
projeto de mundo sustentável, porque as pessoas são muito mais que as suas
conquistas acadêmicas ou profissionais.
De acordo com a Casel (Collaborative for Academic,
Social and Emotional Learning - “Colaboração para a Aprendizagem Acadêmica,
Social e Emocional”, em tradução livre), cinco são as competências
socioemocionais que devem ser trabalhadas junto a nossas crianças e
adolescentes: autoconhecimento, autorregulação, habilidades de relacionamento,
consciência social e tomada de decisão responsável. Essa organização é referência
mundial no avanço da aprendizagem socioemocional.
Cada uma dessas competências deve fazer parte do
plano pedagógico dos professores comprometidos com a construção de sentido para
o trabalho escolar. A começar pelo autoconhecimento, que envolve a compreensão
de cada pessoa sobre si mesma, suas forças e limitações, entendendo esse, como
o primeiro passo para a promoção humana. A experiência pandêmica deixou ainda
mais evidente a necessidade de trabalhar com os estudantes a tomada de
consciência sobre aquilo que sentem,a partir das relações que estabelecem, como
alegria, tristeza, raiva, entre outras emoções - próprias a natureza humana - e
que cada um precisa aprender a lidar ao longo de toda a vida. Todo conteúdo
humano é conteúdo da escola.
Para ser bom profissional é necessário ser gente
boa e do bem! Nesse sentido, cabe a nós, que respondemos por esses jovens –
seja na escola ou na família - trazer para a atribulada rotina dos
vestibulandos uma visão mais humanizada do que representa esse momento. Tanto
quanto conhecer-se, eles também precisam aprender a controlar a si mesmos e ter
uma rede de apoio – do mundo adulto – em que eles possam confiar. Fazer um
gerenciamento eficiente do estresse, controlar impulsos e definir metas
saudáveis são tarefas que precisam dessa rede de apoio, com gente que se
importa com gente.
Tomemos, por exemplo, a capacidade de ouvir de
maneira empática, falar clara e objetivamente, cooperar com os demais, resistir
a pressões sociais inadequadas - por exemplo ao bullying -, solucionar
conflitos de modo construtivo e ajudar os demais. Tudo isso faz parte da
formação proposta pela BNCC, mas, ali pelo final do Ensino Médio, muitas vezes
parecemos nos distrair com o muito que precisa ser feito e corremos o risco de
deixar de lado essas habilidades sociais tão relevantes quanto saber resolver
questões de raciocínio lógico.
Até mesmo o distanciamento social, tão necessário
em tempos de pandemia, facilita a compreensão do quanto somos dependentes uns
dos outros. Colocar-se no lugar do outro, respeitar a diversidade de contextos,
culturas e experiências prévias também são maneiras de se tornar um bom
profissional. Por fim, urge ensinarmos nossos estudantes a tomar decisões
responsáveis para si, para a sociedade e para o planeta que nos acolhe. Das
questões ambientais às políticas, dos dilemas práticos aos que se relacionam à
natureza humana e toda a sua complexidade, devemos prepará-los para, mais que
ser, ser no mundo.
Acedriana Vicente Vogel -
diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.
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