Manutenção de protocolos sanitários se mantêm, mas decisões de afastamento podem ter mudanças, afirma consultor educacional
O crescimento de casos da
variante Ômicron do coronavírus voltou a esquentar o debate sobre as
adversidades que podem aparecer na retomada das aulas presenciais neste mês. No
entanto, escolas públicas e particulares passam a lidar com um contexto
diferente em relação às decisões sanitárias com funcionários e estudantes, uma
vez que o processo de vacinação com crianças tem avançado significativamente e
a letalidade da variante é mais fraca, como explica Christian Coelho, CEO da
empresa de consultoria educacional, Rabbit, que atende a mais de 1.500 escolas.
Para ele, há uma nova
conjuntura nessa volta às aulas presenciais, diferente da primeira tentativa,
ainda híbrida, de 2021. “As escolas devem manter suas estruturas sanitárias,
porém, aquela confusão de afastar as pessoas ao menor contato com a doença toma
outras circunstâncias a partir de agora”, conta.
Professores e estudantes
com o ciclo vacinal completo devem ser afastados ao ter contato com alguém que
contraiu a doença?
Pessoas assintomáticas
podem frequentar o ambiente da escola ou devem permanecer em casa?
Para além das questões de saúde, ele explica o que as escolas precisam
acompanhar neste primeiro mês de aulas, levando em conta também as
desigualdades pedagógicas que se tornaram evidentes durante a pandemia para
cada aluno.
Avaliar, avaliar,
avaliar
No plano pedagógico, avaliação é a palavra de ordem nesse
primeiro mês de volta às aulas presenciais. “As escolas deveriam ter mapeado
quais habilidades são as mais importantes que precisariam ser trabalhadas em
cada ano nos ciclos educacionais e observar qual estudante precisa de mais ou
de menos intenção pedagógica para recuperá-las a tempo”, sugere Coelho.
Uma alternativa seria
flexibilizar a grade curricular, adaptando-se ao quadro de saúde dos
professores. Se um professor está muito bem de saúde, antecipar sua grade de
aulas pode gerar margem de tempo até que outros professores possam retornar do
afastamento para ministrar as aulas.
“Agora que temos a
oportunidade de analisar mais de perto os estudantes, a escola precisa
construir uma grade de estudos que possa dialogar com as aptidões que foram ou
não bem desenvolvidas durante o ensino remoto emergencial”, afirma.
Embora o ensino híbrido não
seja mais obrigatório, ele ainda funcionará como um ‘backup’, caso novos
afastamentos por conta do coronavírus possam aparecer. Dessa forma, seguindo
protocolos emergenciais, a escola precisa oferecer o ensino remoto para que o
aluno não fique desamparado.
Novo contexto
sanitário
Sobre os protocolos
sanitários,
Christian enxerga que as circunstâncias atuais são diferentes daquelas apresentadas
nos últimos quase 2 anos de pandemia. As
escolas devem seguir as mesmas recomendações sanitárias praticadas desde o
início. Uso de máscaras (se for de tecido, com camada dupla) -
trocadas a cada 2 horas -, uso de álcool em gel e o distanciamento social a
partir de 1 metro deverão ser mantidos.
Em termos de afastamento de
professores, funcionários ou alunos, a
conversa pode começar a mudar. Pelo fato de a variante Ômicron
ser menos letal, bem como com o avanço da vacinação em crianças, caso apareçam
novos casos, a ideia seria as escolas monitorarem de perto o estudante, porém,
sem afastá-lo individualmente ou até mesmo toda a turma.
No caso de um professor ou
funcionário contrair a doença, porém, está assintomático, a orientação é a de
que, em um primeiro momento, a escola deva ter ciência do que está escrito no
atestado médico providenciado pelas autoridades sanitárias, e avaliar se o
professor está apto para desempenhar sua função por meio do teletrabalho ou
não. Em negativa, a ideia é afastá-lo por 5 ou 7 dias.
Escolas e vacinação
No plano jurídico, o consultor explica que está
previsto no artigo 14ª do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que a
vacinação é obrigatória para crianças quando recomendada por órgãos como a
ANVISA, o que ocorre atualmente. No entanto, não é atribuição das escolas obrigar crianças a se
vacinar.
“A escola não pode
condicionar a matrícula ou a presença do aluno por conta da vacinação. O que a
escola pode fazer é incentivar a vacinação”, diz. As escolas, por sua vez,
podem pedir a comprovação de vacinação das crianças apenas como medida de planejamento dos protocolos
sanitários, mas ela não pode impedir que a criança frequente ou
estude em seu estabelecimento vacinada ou não.
O primeiro mês de retorno às
aulas totalmente presenciais será o início de uma avaliação profunda sobre os
impactos da pandemia no aprendizado de jovens e crianças. Caberá as escolas
determinar como esse processo de recuperação acontecerá logo nas primeiras
semanas de contato com os estudantes e com suas diferentes realidades.
Grupo Rabbit
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