Além de precisar lidar com mudanças em diversas áreas da vida, muitos adolescentes precisaram passar dois anos dessa fase em casa, aumentando o número de transtornos psicológicos
Em 2021, a Organização Pan-Americana da
Saúde realizou uma pesquisa que revelou uma crise na saúde mental por conta do
COVID-19. O documento foi publicado na revista The Lancet Regional Health -
Américas, e apontou que mais de quatro em dez brasileiros tiveram que lidar com
problemas de ansiedade. Essa crise não afeta somente a área da saúde, já que é
estimado que transtornos mentais causem um prejuízo à economia global de no
mínimo US$ 16 trilhões até 2030. Dentre os grupos mais afetados por
essa crise da saúde mental estão os trabalhadores da linha de frente, mulheres
e jovens adolescentes.
A adolescência é marcada por diversas
mudanças: físicas, hormonais, psicológicas e sociais. Desde 2020, muitos
adolescentes precisaram passar por essas transformações em casa, sem contato
com amigos, por conta da pandemia do novo coronavírus, o que levou a uma
sobrecarga psicológica. Segundo a OPAS, o suicídio é a terceira causa de morte
de adolescentes de 15 a 19 anos, e muitas vezes os transtornos psicológicos não
são diagnosticados.
A psicóloga e professora do CEUB,
Ciomara Schneider, aponta que a mudança de comportamento nos adolescentes por
causa da pandemia é visível, e que o cenário agravou muitos sentimentos comuns
da fase, como a insegurança. “A pandemia aumentou a ansiedade, a depressão e a
sensação de perda de uma fase importante da vida como os adolescentes, que
passaram praticamente os dois últimos anos do colégio longe da escola, dos
amigos e com uma pressão muito grande em relação à entrada em algum curso
superior”.
Para a coordenadora pedagógica do
Ensino Médio do Colégio Objetivo DF, Maria Rogelma Américo Pimentel, estar com
uma boa saúde mental é imprescindível para ter bons resultados na escola.
“Quando se tem uma boa saúde mental, a pessoa consegue passar de forma mais
fácil pelas frustrações, sentimentos de incertezas, perdas, e em relação aos
estudantes, aspectos negativos relacionados ao desempenho escolar”, pontua.
Papel da escola no
cuidado
A escola é um personagem muito
importante para os adolescentes, já que é onde mais passam o seu tempo durante
a semana e fazem amizades. “A escola é uma das mais importantes influências
sobre o desenvolvimento na adolescência, pois é lá que eles adquirem valores
fora do meio familiar, desenvolvem a socialização e fundamentam a sua visão de
mundo”, explica Ciomara.
Alguns sinais que demonstram uma piora
na saúde mental dos jovens podem ser considerados comportamentos comuns para
idade, como apatia, sonolência nas aulas, queda no rendimento e isolamento dos
colegas. Por isso, é preciso que os pais e a própria escola fiquem atentos com
tais sinais. “A escola e os pais devem sempre observar seus alunos, e é função
da equipe pedagógica olhar para o estado emocional dos jovens, observar seus
comportamentos, suas reações e oferecer um espaço para escutar aquele aluno que
está dando sinais de sofrimento psíquico”, complementa a psicóloga.
Já a coordenadora ressalta que a escola
não deve tomar medidas só quando o aluno não está bem, mas também precisa
prevenir que a saúde mental do mesmo fique ruim. “É de extrema importância que
o corpo docente, coordenação, direção e Serviço de Orientação ao Estudante
(SOE) estejam aptos a contribuírem de maneira positiva durante essa fase tão
delicada. Ouvir, orientar corretamente e abordar de maneira afetiva os nossos
alunos, associados a boas práticas de convivência, será uma ação decisiva e
assertiva para que tudo ocorra de maneira segura e eficiente”, acrescenta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário