Aumento dos
preços de alimentos e bebidas foram os grandes vilões dos bolsos brasileiros em
2020. Especialista vê possibilidade da alta da taxa Selic como instrumento do
governo para conter o aumento da inflaçãoPixabay
O Brasil finalizou 2020 com a desanimadora
notícia da aceleração da inflação em dezembro, alcançando 4,52%, a maior alta
desde 2016, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), divulgado
pelo IBGE. O resultado ficou acima da meta de 4% estipulada pelo Conselho
Monetário Nacional, interferindo diretamente no poder de compra dos
brasileiros. Segundo o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, as projeções
dos economistas para o IPCA em 2021 subiram de 3,32% para 3,34%.
Segundo o CEO da Cronos Capital e especialista em
controle e gestão financeira, Cidinaldo Boschini, o avanço da inflação exige
atenção, mesmo que ainda não apresente um grave risco ao país por não estar
descontrolada. “A pressão nos preços deve continuar nos próximos meses e é
esperado que este ano apresente um gradual aumento na taxa básica de juros
[Selic], justamente para controlar a inflação”, explica Boschini.
A alta de 14,09% nos preços de alimentos e
bebidas foi a que mais impactou o bolso dos consumidores, mas outros
indicadores variaram pouco, como a inflação de serviços, que alcançou 1,73%, a
menor da série histórica do IBGE desde 2012. “Os principais índices que medem a
variação de preços subiram, mas não na mesma medida. Os indicadores de preços
ao consumidor são mais pressionados pela alta dos alimentos, mas têm o alívio
da pouca variação de itens de serviços”, detalha o especialista.
Para Boschini, o aumento da inflação pode
comprometer e impactar negativamente a economia se persistir, podendo gerar
aumento do desemprego e das taxas de juros. “A inflação provoca perda de poder
aquisitivo, diminuição dos investimentos de empreendedores e gera também um
ambiente de incertezas sobre a economia”, explica. Em dezembro, segundo dados
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (Pnad Contínua),
o desemprego no Brasil foi de 14,3%.
O especialista ainda explica que o cenário de
inflação elevada contribui para afastar os investimentos do país e isso acaba
impactando todos os setores da economia. “É um cenário em que ninguém ganha com
a inflação e pode resultar em adiamento de projetos e cancelamento de muitos
outros”, detalha Boschini.
O que é a inflação
A inflação é resultado de um descompasso entre a
oferta e a procura. Quando a procura por um produto e serviço aumenta, ou a sua
produção não consegue acompanhar a demanda, os preços sobem e aí começa o
aumento dos preços. Para controlar sua variação, o Brasil conta com um sistema
de metas para a inflação, que foi instituído pelo Banco Central em 1999, que
utiliza o IPCA como indicador.
“Para manter o nível de inflação dentro do
esperado, o governo faz uso da política monetária, por meio da taxa básica de
juros [Selic]. Quando o Banco Central observa que a inflação corre o risco de
superar a meta, a tendência é elevar os juros e, com isso, desestimular o
consumo”, explica Boschini.
“A partir da Selic, as instituições financeiras
definem quanto vão cobrar por empréstimos das pessoas e das empresas. Quando os
juros estão altos, o consumidor tende a comprar menos, porque a prestação
de seu financiamento vai ser mais alta. Isso reflete na queda da inflação”,
exemplifica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário