Pesquisa realizada pela Nova Escola indica que 72% dos educadores tiveram a saúde mental afetada
Uma classe que teve
sua rotina de trabalho bastante transformada pela pandemia do novo coronavírus
foi a dos professores. De acordo com o censo escolar 2018 (Ensino Superior) e
2019 (Educação Básica) do Ministério da Educação, o Brasil tem 2,6 milhões de
professores, entre educação básica, ensino superior, rede pública e privada.
Durante a quarentena, eles passaram a lidar com reduções salariais, ameaças de
desemprego, aumento da jornada de trabalho, possibilidade de volta às aulas
presenciais mesmo em meio ao caos da saúde pública, medo, angústia e
preocupação.
Além disso, os
educadores tiveram que se adaptar repentinamente à modalidade remota,
transformar as aulas presenciais em online, encontrar meios de entreter os
alunos e fazer com que o processo de aprendizado continuasse. Esse cenário
elevou o nível de cobrança por parte da escola, dos pais e dos alunos, que
passaram a enviar mensagens 24 horas por dia aos professores, aumentando as
frustrações diárias, o estresse, a ansiedade, a insônia; sem contar as
dificuldades técnicas que muitos encontraram.
Com todas essas
rápidas mudanças, a saúde mental dos professores foi comprometida. Antes mesmo
da pandemia, a Organização Internacional do Trabalho considera, desde 1983, a
classe docente como a segunda categoria profissional a sofrer com doenças de
caráter ocupacional. Um estudo realizado pelo Instituto Península,
"Sentimento e percepção dos professores brasileiros nos diferentes
estágios do coronavírus no Brasil", mostrou que, desde o início da
quarentena, os professores relatam ansiedade durante as aulas remotas, e
sobrecarga de trabalho. A CNN também publicou uma pesquisa realizada pela Nova
Escola, indicando que 72% dos educadores tiveram a saúde mental afetada durante
a pandemia do novo coronavírus. De acordo com o levantamento, ansiedade,
estresse e depressão são os maiores distúrbios listados por professores,
assistentes e coordenadores pedagógicos.
Segundo a psicóloga da
Clínica Maia, Katherine de Paula Machado, a classe dos professores tende a
sofrer mais os impactos psicológicos neste momento por se sentirem responsáveis
pelos alunos e pelas aulas, como se fossem "super-professores".
"O super-professor é aquele que nunca está cansado, nunca erra, é sempre
educado e prestativo, aquele que está sempre sorrindo e pronto para educar. Mas
isso não existe".
Katherine recomenda
que estabelecer momentos de descanso, construir uma rotina de acordo com as
novas necessidades, buscar atividades que promovam relaxamento e bem-estar,
manter ativa uma rede socioafetiva, mesmo de maneira virtual, e reconhecer e
acolher as emoções são medidas importantes para ajudar a lidar melhor com a
atual realidade.
A psicóloga ainda cita
que fazer uma listagem das atividades que a pessoa realiza no dia a dia ajuda
bastante a ter uma real noção da produtividade, e auxilia a diminuir a sensação
de mal-estar. E também, se possível, é primordial separar dentro de casa um
local do trabalho, para que a mente possa "ligar e desligar a chave"
de acordo com o ambiente.
Mas, quando todas as
dicas acima forem colocadas em prática e mesmo assim os sintomas permanecerem,
buscar ajuda profissional é a solução. "Procure um profissional da saúde
mental para manejo da situação de forma conjunta. Lidar com sentimentos e
emoções em momentos de crise não é uma tarefa fácil, ainda mais quando há
muitas pessoas que dependem de nós".
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