O diabetes gestacional pode também influenciar a
genética fetal, de forma a influenciar a expressão de genes que dirigem o
acúmulo de gordura corporal ou do metabolismo relacionado
Nova pesquisa publicada no Diabetologia
(revista da Associação Europeia para o Estudo da Diabetes [EASD]) mostra um
aumento do risco de obesidade na infância na idade de 9-11 anos quando a mãe
teve diabetes gestacional durante a gravidez.
“A obesidade
infantil aumentou dramaticamente, tanto nos países desenvolvidos, quanto nos
países em desenvolvimento. Os fatores ambientais pré-natais, perinatais e
pós-natais têm impacto direto sobre a obesidade infantil. Alguns estudos
descobriram que a exposição intrauterina ao diabetes mellitus gestacional (DMG)
coloca os descendentes em risco aumentado de resultados adversos de longo
prazo, incluindo a obesidade”, afirma o pediatra e homeopata Moises
Chencinski (CRM-SP 36.349).
Esta nova análise é baseada no The International Study of Childhood Obesity,
Lifestyle and the Environment (ISCOLE),
um estudo transversal multinacional realizado em centros urbanos e
suburbanos em 12 países. O estudo incluía dados de 7.372 crianças, após a
exclusão de crianças com dados incompletos, restaram 4.740 crianças. Cada um
dos 12 países contou com os seguintes números de crianças com idades entre 9-11
anos: Austrália: 386/ Brasil: 354/ Canadá: 443/ China: 413/ Colômbia: 700/
Finlândia: 401/ Índia: 414/ Quênia: 289/ Portugal: 533/ África do Sul:
120/ Reino Unido: 324 e EUA: 363.
O diabetes gestacional foi
diagnosticado de acordo com os critérios do American Diabetes Association (ADA)
ou da OMS. Altura e circunferência da cintura foram medidas, usando métodos
padronizados. O peso e a gordura do corpo foram medidos utilizando um
analisador de composição corporal portátil.
A prevalência de diabetes
gestacional relatada foi de 4,3%. A prevalência global de obesidade infantil,
obesidade central e gordura corporal elevada foram de 12,3%, 9,9% e 8,1%,
respectivamente. Os autores, em seguida, usaram um modelo de computador
ajustado para vários fatores (idade materna no parto, educação, modo de
alimentação infantil, idade gestacional, número de irmãos mais novos,
pontuações insalubres da dieta padrão da criança, atividade física de moderada
a vigorosa, tempo de sono, tempo de sedentarismo, sexo e peso ao nascer).
“O risco aumentado para as
crianças de mães com diabetes gestacional em comparação com mães que não tinham
diabetes gestacional foi de 53% para obesidade, 73% para obesidade
central, 42% para gordura corporal elevada. A associação positiva ainda é
significativa para obesidade central (risco 54% maior) após ajuste
adicional para o IMC materno atual, mas não foi mais significativa para a
obesidade e para a gordura corporal elevada”, destaca o médico.
Os autores afirmam que: "os
mecanismos pelos quais a exposição ao diabetes no útero aumentam o risco de
obesidade dos descendentes não são completamente compreendidos. A exposição ao
diabetes materno está associada com excesso de crescimento fetal intrauterino,
possivelmente, devido a um aumento da massa e da gordura fetal e das
alterações nos níveis hormonais fetais”. Além disso, a exposição ao diabetes
materno e aos níveis mais elevados de açúcar no sangue produz o aumento da
insulina e da leptina na prole. O diabetes gestacional pode também influenciar
a genética fetal, de forma a influenciar a expressão de genes que dirigem a
acumulação de gordura corporal ou do metabolismo relacionado.
“O estudo é o primeiro a avaliar
a associação entre o diabetes gestacional e a obesidade infantil usando esses
dados difundidos e multinacionais. O diabetes gestacional é associado a um
aumento do risco de obesidade infantil entre as crianças com idades entre 9-11
anos de 12 países, mas esta associação não era totalmente independente do IMC
materno”, observa o pediatra, que é membro do Departamento de Pediatria
Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Moises Chencinski
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