Debate
traçou panorama da doença e apontou organização da Sociedade Civil como forma
de mudança do cenário
Segundo
dados do Atlas do Câncer, 1.1 milhão de pacientes oncológicos são
diagnosticados todos os anos no bloco composto por América Latina e Caribe e
são esperadas 600 mil mortes anuais pela doença. O câncer de mama é apontado
como a principal causa de morte de mulheres por câncer. Enquanto a tendência
global é a queda da mortalidade por esse tipo de tumor, as mulheres
latino-americanas seguem perdendo essa batalha de forma crescente. A região
concentra 8,3% do total das mortes pela doença, somando 43.326 óbitos anuais e
os índices seguem aumentando. Esses e outros dados foram expostos no painel
“Tratamento do câncer da mulher na América Latina: Panorama, dificuldade e
perspectivas” durante o 3º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC), maior
evento de oncologia do País.
Segundo a
Dra. Maira Caleffi, médica mastologista e presidente voluntária da Federação
Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA),
instituição realizadora do painel, esses números têm como principal fator
agravante uma série de desigualdades que dificultam o acesso a diagnóstico
precoce e tratamento adequado.
“Tomando o
Brasil como exemplo, temos duas realidades muito preponderantes no quesito
acesso à saúde: a população que utiliza a saúde suplementar via convênios e
aquela que utiliza o Sistema Único de Saúde (SUS), algo em torno de 75% dos
brasileiros. Essas duas esferas apresentam diferenças imensas”, ressalta.
Alguns
exemplos citados pelo Dr. Ricardo Caponero, oncologista e presidente do
Conselho Científico da FEMAMA, outro participante do debate, são diferenças no
acesso público e privado desde o rastreamento do câncer, passando pelo diagnóstico
via testes genéticos como BRCA1 e BRCA2, hoje disponíveis na saúde suplementar
mas inacessíveis pelo SUS, e pelo acesso ao tratamento, como o caso de
cirurgias de mastectomia profilática, também presentes apenas na rede privada.
A oferta do sistema público, falha e permeada de obstáculos, age de forma
cumulativa, dificultando o tratamento das pacientes do SUS desde o diagnóstico.
No fim, temos uma parcela muito maior de usuárias na rede pública que chegam ao
estágio metastático da doença, momento em que também não encontram apoio, uma
vez que os tratamentos mais adequados para essa fase não são fornecidos pelo
SUS.
Alessandra
Durstine, fundadora da Catalyst Consulting Group com atuação na área de Global
Advocacy da American Cancer Society, também participou da discussão e ressaltou
que os países da América Latina apresentam, como um todo, sistemas de saúde
muito diferentes e “confusos” por terem diferentes regras e aplicações dentro
de um mesmo país. Além disso, em diversos países latino-americanos existe um
desafio duplo no quesito epidemiologia, com sistemas de saúde construídos para
lidar com doenças infecciosas como dengue, malária e outras epidemias, mas que
agora precisam cuidar de populações cada vez mais afetadas por doenças
crônicas, como obesidade, diabetes e câncer.
Dra. Maira
Caleffi evidenciou que as pacientes de câncer de mama avançado devem ser
entendidas como pacientes em controle da doença, e não relegadas apenas ao
tratamento paliativo, reforçando a necessidade de acesso às novas terapias
existentes. Neste sentido, Alessandra Durstine prevê que a luta por direitos de
pacientes se destinará a grupos cada vez menores, exatamente por conta do nível
de especificidade com que o câncer passa a ser tratado, com a medicina cada vez
mais personalizada.
“Mais do que
apenas prover diagnóstico, os países do bloco precisam se preocupar em fornecer
diagnósticos apropriados e específicos, baseados em informação genética. A
ciência está mudando. Os sistemas de saúde e os tomadores de decisão não estão
preparados”, aponta Alessandra.
A Presidente
da FEMAMA ainda aponta que outro fator impeditivo para uma atuação melhor nesse
cenário é a falta de dados que apontem a real situação do câncer no Brasil e na
América Latina. Mesmo números como os do Atlas do Câncer, que reúne informações
oficiais da doença em todos os países, podem ser imprecisos, abaixo do total
que de fato ocorre. Isso ocorreria por dificuldades de registro da incidência e
mesmo pela não associação de muitas mortes ao câncer.
“É
necessária uma união de esforços da sociedade civil para garantir um trabalho
perene de informação sobre a doença para o paciente, promoção de acesso a
diagnóstico e tratamento e a criação de mecanismos que ajudem os pacientes a
‘navegarem’ pelos sistemas de saúde”, finaliza.
Federação
Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA) www.femama.org.br
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