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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Situação do Câncer da Mulher na América Latina é permeada por desigualdade e dificuldade de acesso a tratamento



Debate traçou panorama da doença e apontou organização da Sociedade Civil como forma de mudança do cenário


Segundo dados do Atlas do Câncer, 1.1 milhão de pacientes oncológicos são diagnosticados todos os anos no bloco composto por América Latina e Caribe e são esperadas 600 mil mortes anuais pela doença. O câncer de mama é apontado como a principal causa de morte de mulheres por câncer. Enquanto a tendência global é a queda da mortalidade por esse tipo de tumor, as mulheres latino-americanas seguem perdendo essa batalha de forma crescente. A região concentra 8,3% do total das mortes pela doença, somando 43.326 óbitos anuais e os índices seguem aumentando. Esses e outros dados foram expostos no painel “Tratamento do câncer da mulher na América Latina: Panorama, dificuldade e perspectivas” durante o 3º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC), maior evento de oncologia do País.

Segundo a Dra. Maira Caleffi, médica mastologista e presidente voluntária da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA), instituição realizadora do painel, esses números têm como principal fator agravante uma série de desigualdades que dificultam o acesso a diagnóstico precoce e tratamento adequado.

“Tomando o Brasil como exemplo, temos duas realidades muito preponderantes no quesito acesso à saúde: a população que utiliza a saúde suplementar via convênios e aquela que utiliza o Sistema Único de Saúde (SUS), algo em torno de 75% dos brasileiros. Essas duas esferas apresentam diferenças imensas”, ressalta.

Alguns exemplos citados pelo Dr. Ricardo Caponero, oncologista e presidente do Conselho Científico da FEMAMA, outro participante do debate, são diferenças no acesso público e privado desde o rastreamento do câncer, passando pelo diagnóstico via testes genéticos como BRCA1 e BRCA2, hoje disponíveis na saúde suplementar mas inacessíveis pelo SUS, e pelo acesso ao tratamento, como o caso de cirurgias de mastectomia profilática, também presentes apenas na rede privada. A oferta do sistema público, falha e permeada de obstáculos, age de forma cumulativa, dificultando o tratamento das pacientes do SUS desde o diagnóstico. No fim, temos uma parcela muito maior de usuárias na rede pública que chegam ao estágio metastático da doença, momento em que também não encontram apoio, uma vez que os tratamentos mais adequados para essa fase não são fornecidos pelo SUS.

Alessandra Durstine, fundadora da Catalyst Consulting Group com atuação na área de Global Advocacy da American Cancer Society, também participou da discussão e ressaltou que os países da América Latina apresentam, como um todo, sistemas de saúde muito diferentes e “confusos” por terem diferentes regras e aplicações dentro de um mesmo país. Além disso, em diversos países latino-americanos existe um desafio duplo no quesito epidemiologia, com sistemas de saúde construídos para lidar com doenças infecciosas como dengue, malária e outras epidemias, mas que agora precisam cuidar de populações cada vez mais afetadas por doenças crônicas, como obesidade, diabetes e câncer. 

Dra. Maira Caleffi evidenciou que as pacientes de câncer de mama avançado devem ser entendidas como pacientes em controle da doença, e não relegadas apenas ao tratamento paliativo, reforçando a necessidade de acesso às novas terapias existentes. Neste sentido, Alessandra Durstine prevê que a luta por direitos de pacientes se destinará a grupos cada vez menores, exatamente por conta do nível de especificidade com que o câncer passa a ser tratado, com a medicina cada vez mais personalizada. 

“Mais do que apenas prover diagnóstico, os países do bloco precisam se preocupar em fornecer diagnósticos apropriados e específicos, baseados em informação genética. A ciência está mudando. Os sistemas de saúde e os tomadores de decisão não estão preparados”, aponta Alessandra.

A Presidente da FEMAMA ainda aponta que outro fator impeditivo para uma atuação melhor nesse cenário é a falta de dados que apontem a real situação do câncer no Brasil e na América Latina. Mesmo números como os do Atlas do Câncer, que reúne informações oficiais da doença em todos os países, podem ser imprecisos, abaixo do total que de fato ocorre. Isso ocorreria por dificuldades de registro da incidência e mesmo pela não associação de muitas mortes ao câncer.

“É necessária uma união de esforços da sociedade civil para garantir um trabalho perene de informação sobre a doença para o paciente, promoção de acesso a diagnóstico e tratamento e a criação de mecanismos que ajudem os pacientes a ‘navegarem’ pelos sistemas de saúde”, finaliza.



Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA) www.femama.org.br



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