É preciso mudar o tom da conversa sobre a perda de peso para
que o comportamento social em relação ao obeso mude também
Se as coisas fossem
simples, já teríamos caminhado muito na direção do controle daquela que ainda é
considerada a Doença Crônica Epidêmica Não Transmissível (DCENT) mais frequente
dos séculos XX e XXI: A OBESIDADE.
E quando ela afeta as crianças, o mundo muda, promovendo transformações mais definitivas e permanentes.
“A
obesidade é uma questão multifatorial e assim deve ser abordada. Não há
culpados, não há um fator isolado que deva ser analisado. Isso pode ser
comprovado pela enxurrada diária de novos artigos e abordagens sobre o tema.
Aqui, abordamos alguns estudos recentes sobre a influência da vida da mãe no
maior risco de sobrepeso e obesidade de seus filhos. E esses seriam fatores
controláveis, desde que diagnosticados precocemente e acompanhados de forma
adequada”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP
36.349).
Mães já
engravidam com sobrepeso
Esse estudo
publicado no site do CDC (Central for Disease Control and Prevention) é
um relatório sobre características de IMC (Índice de Massa Corporal) das
mulheres antes de engravidarem, que tiveram seus bebês incluídos nos dados de
Certificados de Nascimentos de 2014 (96% de todos os partos).
Os dados mostram que
cerca de 50% das mulheres apresentavam sobrepeso ou obesidade, antes de
engravidarem, e essa situação é a mais grave de todos os tempos já relatada nos
Estados Unidos e que esse é um dos fatores que contribuem para a epidemia de
obesidade no país.
“Entre as principais
consequências diretas desse fato estão maiores chances de diabetes gestacional
e hipertensão arterial, que podem aumentar as chances de parto cesariana, que
pode trazer mais complicações posteriores para as mães e para os bebês”,
observa Moises Chencinski.
Alimentação
materna na gestação afeta flora bacteriana intestinal do bebê
Que o tipo de parto
(vaginal ou cesariana) pode mostrar uma colonização intestinal diferente no
bebê já é fato conhecido. Isso pode determinar riscos maiores de sobrepeso e
obesidade em crianças em faixas etárias posteriores.
O surpreendente nesse estudo,
publicado no Genome Medicine, foi a observação que as gestantes que
ingerem maiores quantidades de gordura do que a desejável também podem
interferir na formação da microbiota intestinal dos bebês e, assim, afetar o
desenvolvimento do sistema imune e a evolução de peso do bebê.
Enquanto o Institute
Of Medicine (IOM) indica uma média de 20-35% de ingestão de gordura,
em mais de 150 gestantes que fizeram seu recordatório alimentar a taxa variava
entre 14-55% (média de 33%).
“Os bebês de gestantes
de alta taxa de ingestão de gordura apresentavam, em sua flora bacteriana
intestinal avaliada, tanto ao nascimento, quanto semanas após o parto, menos
Bacteroides (“flora do bem”) do que as que tinham uma ingestão de gorduras mais
adequada”, informa o médico, que é membro do Departamento de Pediatria
Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Parto cesariana
e o risco de obesidade na infância e adolescência
A formação da
microbiota intestinal das crianças nascidas de parto via vaginal é mais
adequada e protege tanto contra infecções, quanto alergias, mas também, em
relação ao risco de sobrepeso e obesidade na infância e na adolescência.
Estudo
recente, publicado no JAMA Pediatrics (Journal of American Medical
Association), mostra um acompanhamento surpreendente, realizado entre
setembro de 1996 a dezembro de 2012 entre os participantes do Growing Up Today
Study. Foram avaliados pouco mais de 22.000
partos de 15.271 mães, seguidos em um questionário entre as idades de 9-14 anos
até 20-28 anos.
“Os dados comprovaram,
nesse estudo, um risco 15% maior de sobrepeso e obesidade em crianças nascidas
por parto cesariana. Em famílias onde irmãos nasceram por vias diferentes
(um via vaginal e o outro via cesariana), os que nasceram por parto cesariana
tiveram 64% mais de chances de sobrepeso e obesidade do que os nascidos por
parto normal”, destaca o pediatra.
Entre esses partos
considerados na pesquisa, a maioria deles ocorreu em cesarianas sem indicação
clínica (por opção do médico ou da mãe). Outros fatores também podem contribuir
para esse desfecho (obesidade / sobrepeso) como a dieta da mãe, se houve
diabetes gestacional ou não e se o bebê foi amamentado ou não. Mas esses
fatores foram estatisticamente corrigidos na pesquisa.
Diabetes
gestacional aumenta em 53% o risco de obesidade nas crianças
De acordo com uma nova pesquisa
publicada no jornal on-line Diabetologia,
realizada em 12 países (África do Sul, Austrália, Brasil, Canadá, China,
Colômbia, Estados Unidos, Finlândia, Índia, Quênia, Portugal, Reino Unido),
mulheres com diabetes gestacional aumentam em 53% o risco de obesidade e
sobrepeso em seus filhos entre 9-11 anos. De acordo com critérios da American
Diabetes Association e da Organização Mundial de Saúde (OMS), a prevalência
de diabetes gestacional nessa amostragem foi de 4,3% dos partos.
Segundo os
pesquisadores, o mecanismo pelo qual a exposição ao quadro de diabetes intra-útero
aumenta os riscos de sobrepeso nos bebês não está completamente esclarecido.
“Possivelmente, o crescimento fetal no útero desses bebês, submetidos a índices
mais altos de glicemia materna, levando a um aumento de níveis hormonais fetais
pode estar envolvido no processo. O diabetes mellitus gestacional pré-natal
também pode ter influência na expressão dos genes do feto (epigenética) que
dirigem o acúmulo de gordura corporal ou o mecanismo metabólico relacionado”,
explica Moises Chencinski.
“Pesquisas e mais
pesquisas sobre a obesidade são necessárias, pois essa história de comer menos,
se exercitar mais e fornecer uma dieta pronta para todos não está funcionando.
Estamos perdendo a batalha contra a obesidade. Os profissionais de saúde
precisam se certificar de que os pacientes compreendem perfeitamente os
diversos fatores que contribuem para o excesso de peso, incluindo genética,
composição dos alimentos, saciedade, dentre tantos outros”, defende o pediatra.
Moises Chencinski
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