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quarta-feira, 28 de setembro de 2016

O poder da vida




Não faltam razões para que o coração seja o símbolo do amor e dos sentimentos, expresso na publicidade, na comunicação em geral e na interação entre as pessoas. Afinal, é o nosso órgão que reage imediatamente às emoções de um beijo, de um abraço fraternal, da comoção, do carinho de um filho, da alegria e da tristeza, das boas e más notícias. Dispara no peito, lembrando-nos, nos melhores e piores momentos, que estamos vivos.

O coração é, também, um trabalhador incansável. Bate, em média, 72 vezes por minuto. São quase 104 mil contrações por dia, 38 milhões por ano e cerca de 2,5 bilhões ao longo da vida. Ele envia 85 gramas de sangue a cada pulsação, o que equivale a mais de nove mil litros por dia, ou 3,3 milhões por ano. Tudo o que precisa para se manter eficiente como delator indiscreto de nossas sensações e guardião zeloso de nossa vida é que cuidemos bem dele. Dieta e rotina saudáveis, não fumar, fazer exercícios físicos com orientação médica, beber apenas socialmente e de maneira moderada e controlar periodicamente o colesterol, o triglicérides, o diabetes e a pressão arterial são medidas que reduzem muito significativamente as doenças cardiovasculares, melhoram a saúde e protegem esse amigo do peito de todas as horas.

Assim, é muito pertinente a mensagem do Dia Mundial do Coração (29 de setembro) em 2016: “Potencializando sua vida – seu coração energiza o seu corpo inteiro”, numa tradução livre do inglês Power your live – Your heart powers your whole body. A data, instituída oficialmente no ano 2000, pela Federação Mundial do Coração (WHF, sigla do inglês World Heart Federation), com a chancela da Organização Mundial da Saúde (OMS), objetiva exatamente alertar sobre os riscos de negligenciar esses cuidados, o que faz com que as doenças cardíacas permaneçam como uma das principais causas de morte em todo o mundo.

A OMS revela que as doenças cardiovasculares matam 17,5 milhões de pessoas por ano em todo o planeta. A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP) presume que ocorram 720 paradas cardíacas no Brasil todos os dias. Em média, há uma morte a cada minuto e meio, estimando-se que, de janeiro a setembro deste ano, 251 mil óbitos por doenças cardiovasculares tenham acontecido no Brasil. 

Entretanto, pelo menos 80% desses óbitos poderiam ser evitados pela prevenção, o tratamento de fatores de riscos modificáveis e as terapias adequadas depois da ocorrência de um ataque cardíaco ou de um acidente vascular cerebral, conhecido como derrame. Governos, sociedades, famílias e cada um de nós podem fazer muito para reduzir a letalidade e melhorar a qualidade da vida!

Isso ficou muito claro em ato paralelo à 71ª Assembleia Geral da ONU, realizada no dia 22 de setembro, quando a OMS e vários organismos lançaram a iniciativa "Global Hearts", ou Corações Globais. As propostas são amplas e incluem sugestões como a maior tributação do tabaco, redução do sal nos alimentos (pois a substância é uma causadora da hipertensão, que é um dos fatores que provocam derrame e  insuficiência cardíaca), identificação e tratamento de pessoas com alto risco, fortalecimento dos serviços de saúde primária e educação para a saúde, estimulando a adoção de hábitos de vida saudável.

 Segundo a OMS, tais medidas resultaram na redução de 40% das mortes por doenças cardiovasculares nos Estados Unidos e de 80% entre a população masculina da Finlândia.
As doenças cardiovasculares não são um mal dos países ricos, como se costumou, equivocadamente, disseminar. Trata-se de um problema mundial, que afeta cada vez mais as nações em desenvolvimento. Por isso, é decisivo que cada pessoa, independentemente das políticas públicas, cuide muito bem do seu coração, numa demonstração de amor e responsabilidade perante si própria, filhos, pais, irmãos parentes e amigos!



Ibraim Masciarelli - cardiologista e presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP0


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