Não faltam razões para que o coração
seja o símbolo do amor e dos sentimentos, expresso na publicidade, na
comunicação em geral e na interação entre as pessoas. Afinal, é o nosso órgão
que reage imediatamente às emoções de um beijo, de um abraço fraternal, da
comoção, do carinho de um filho, da alegria e da tristeza, das boas e más
notícias. Dispara no peito, lembrando-nos, nos melhores e piores momentos, que
estamos vivos.
O coração é, também, um trabalhador
incansável. Bate, em média, 72 vezes por minuto. São quase 104 mil contrações
por dia, 38 milhões por ano e cerca de 2,5 bilhões ao longo da vida. Ele envia
85 gramas de sangue a cada pulsação, o que equivale a mais de nove mil litros
por dia, ou 3,3 milhões por ano. Tudo o que precisa para se
manter eficiente como delator indiscreto de nossas sensações e
guardião zeloso de nossa vida é que cuidemos bem dele. Dieta e rotina
saudáveis, não fumar, fazer exercícios físicos com orientação médica, beber
apenas socialmente e de maneira moderada e controlar
periodicamente o colesterol, o triglicérides, o diabetes e a pressão arterial
são medidas que reduzem muito significativamente as doenças cardiovasculares,
melhoram a saúde e protegem esse amigo do peito de todas as horas.
Assim, é muito pertinente a mensagem do
Dia Mundial do Coração (29 de setembro) em 2016: “Potencializando sua vida –
seu coração energiza o seu corpo inteiro”, numa tradução livre do inglês Power your live – Your heart powers your whole body.
A data, instituída oficialmente no ano 2000, pela Federação Mundial do Coração
(WHF, sigla do inglês World Heart Federation), com a chancela da Organização
Mundial da Saúde (OMS), objetiva exatamente alertar sobre os riscos de
negligenciar esses cuidados, o que faz com que as doenças cardíacas permaneçam
como uma das principais causas de morte em todo o mundo.
A OMS revela que as doenças
cardiovasculares matam 17,5 milhões de pessoas por ano em todo o planeta. A Sociedade de Cardiologia do
Estado de São Paulo (SOCESP) presume que ocorram 720 paradas cardíacas no
Brasil todos os dias. Em média, há uma morte
a cada minuto e meio, estimando-se que, de janeiro a setembro deste
ano, 251 mil óbitos por doenças cardiovasculares tenham acontecido no
Brasil.
Entretanto, pelo menos 80% desses óbitos
poderiam ser evitados pela prevenção, o tratamento de fatores de riscos
modificáveis e as terapias adequadas depois da ocorrência de um ataque cardíaco
ou de um acidente vascular cerebral, conhecido como derrame. Governos,
sociedades, famílias e cada um de nós podem fazer muito para reduzir a letalidade
e melhorar a qualidade da vida!
Isso ficou muito claro em ato paralelo à
71ª Assembleia Geral da ONU, realizada no dia 22 de setembro, quando a OMS e
vários organismos lançaram a iniciativa "Global Hearts", ou Corações
Globais. As propostas são amplas e incluem sugestões como a maior tributação do
tabaco, redução do sal nos alimentos (pois a substância é uma causadora da
hipertensão, que é um dos fatores que provocam derrame e insuficiência
cardíaca), identificação e tratamento de pessoas com alto risco, fortalecimento
dos serviços de saúde primária e educação para a saúde, estimulando a adoção de
hábitos de vida saudável.
Segundo a OMS, tais medidas resultaram na redução de
40% das mortes por doenças cardiovasculares nos Estados Unidos e de 80% entre a
população masculina da Finlândia.
As doenças cardiovasculares não são um
mal dos países ricos, como se costumou, equivocadamente, disseminar. Trata-se
de um problema mundial, que afeta cada vez mais as nações em desenvolvimento.
Por isso, é decisivo que cada pessoa, independentemente das políticas públicas,
cuide muito bem do seu coração, numa demonstração de amor e responsabilidade
perante si própria, filhos, pais, irmãos parentes e amigos!
Ibraim Masciarelli - cardiologista e presidente da Sociedade de
Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP0
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