Mesmo com todas as
informações e tratamentos disponíveis, a doença ainda leva à morte mais de 14
mil mulheres todos os anos
O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres
no Brasil e no mundo. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a doença
fica atrás, apenas, do câncer de pele não melanoma, respondendo por cerca de
25% dos casos novos de câncer a cada ano.
A incidência do câncer de mama antes dos 35 anos de idade é
rara, mas aumenta progressivamente após esta idade, atingindo, na maioria dos
casos, mulheres acima de 50 anos. Há vários tipos de câncer de mama, com
diferentes evoluções e prognósticos. Em comum, todos eles têm mais chances de
cura quando o diagnóstico é realizado precocemente.
Segundo o INCA, até o final de 2016 serão quase 58 mil
casos novos no Brasil e pouco mais de 14 mil mortes decorrentes da doença.
Diagnóstico
Hoje em dia, há diversos métodos para o rastreamento do
câncer de mama; a mamografia é o principal deles.
"Temos também o ultrassom como ferramenta importante
para ajudar na detecção, principalmente em mulheres jovens e com mamas muito
densas", revela a Dra. Leynalze Lins Ramos dos Santos, especialista em
diagnóstico por imagem - ultrassonografia geral pelo Colégio Brasileiro de
Radiologia e mestre em Radiologia Clínica pela Universidade Federal de São
Paulo.
A especialista explica que, com o passar da idade, o tecido
glandular é substituído por gordura. A mamografia é indicada em pacientes com
bastante gordura, enquanto nas mais jovens, com predominância de tecido
glandular, o nódulo terá a mesma tonalidade do tecido glandular na mamografia,
tornando-se mais difícil de visualizar.
"Nestas pacientes mais jovens, a visualização de um
possível nódulo torna-se mais fácil na ultrassonografia, pois a glândula
aparece branca e o nódulo preto. As microcalcificações, estágio precoce do
câncer de de mama, podem ser identificadas na mamografia."
Assim, em muitos casos poderá ser solicitado que a paciente
realize os dois exames, que acabam se complementando.
Segundo a Dra. Leynalze, outro exame que pode ser muito
importante é a tomossíntese, especialmente em casos de mamas muito densas. O
exame consegue realizar cortes nos locais onde há suspeita de nódulo, como se
'fatiasse o nódulo'.
"Um estudo realizado na Ásia, no ano passado, associou
a mamografia digital à tomossíntese e ultrassonografia e comparou os resultados
aos da ressonância magnética, atualmente utilizada para fazer um planejamento
cirúrgico. A combinação destes três exames não apenas aumentou a sensibilidade
para a detecção do câncer de mama precoce, mas também representou uma redução
de custo, visto que a ressonância é um método de diagnóstico muito caro."
Hereditariedade
e prevenção
O câncer hereditário de mama ou ovário responde por 5 a 10%
de todos os casos, afirma o Dr. Thomaz Gollop, Professor Associado de
Ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí. Por este motivo, é muito
importante que se conheça a história destes casos familiar.
Para estes casos, já estão disponíveis no Brasil - e
incluídos no Rol de Procedimentos obrigatórios dos planos de saúde desde 2013 -
exames genéticos para detecção de câncer de mama e ovário hereditários.
"O estudo genético dos indivíduos em risco é indicado
quando há risco genético definido em consulta de aconselhamento genético. Devem
ser estudados pacientes acima de 18 anos."
Esta idade, explica o especialista, é estabelecida pois
apenas maiores de idade devem entender como lidar com resultados que
identifiquem eventuais genes que predisponham ao câncer herdado de mama/ovário.
"Na prática, entretanto, estes exames são realizados
em pacientes acima de 35 anos, quando, na maioria dos casos, já se encerrou o
período reprodutivo."
Quando confirmada a predisposição por meio dos exames, há
que ser discutida a possibilidade de cirurgias preventivas ou tratamento
quimioterápico.
Foi
esta confirmação que levou a atriz Angelina Jolie, em 2013, a optar pela
mastectomia, cirurgia para a retirada das mamas e, em 2015, também os ovários.
A notícia gerou muita polêmica.
"Acredito
que críticas surgiram por parte de pessoas desinformadas. O risco estabelecido
para ela, em função da presença de mutação e da historia familial era alto e
ela decidiu pela melhor forma de preservação de sua saúde", conclui o Dr.
Thomaz.
A
mamografia
Em geral, a indicação é realizar o primeiro exame de
mamografia até os 40 anos de idade, e após isso, se não houver nenhuma
suspeita, repetir anualmente. No caso de mulheres com histórico de câncer
familiar, especialmente em parentes próximos, como mãe, avós ou tias, a
mamografia deve ser realizada 10 anos antes da idade em que o familiar teve a
doença, e repeti-lo também anualmente, ao longo de toda a vida, ou conforme a orientação
de um especialista.
E para quem acha o exame desconfortável, dolorido, a Dra.
Leynalze explica.
"Dói, mas é rápido. Quanto mais o profissional que
estiver realizando o exame apertar o equipamento, menos sobreposição de tecidos
glandulares haverá, melhorando a visualização. Além disso, quanto mais
comprimida a mama estiver, menor quantidade de radiação será necessária."
Vale
destacar que a mamografia, comparativamente com um raio-x, tem quantidade muito
menor de radiação. Por este motivo, não oferece risco e pode realizada
anualmente.
Evolução cirúrgica do tratamento
O americano William Halstead foi o primeiro médico
cirurgião a padronizar o tratamento do câncer de mama, há mais de 100 anos. Na
época, a primeira forma de se tratar a doença era por meio da retirada de toda
a mama, incluindo glândula mamária, aréola, papila, gânglios axilares e também
músculos peitorais. Este método era bastante agressivo, deixando a paciente com
uma grande deformidade.
Com o decorrer dos anos, explica o Dr. Arnaldo Urbano
Ruiz, titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e médico cirurgião
oncológico dos hospitais São José e São Joaquim da Real e Benemérita
Beneficência Portuguesa de São Paulo, percebeu-se que nem sempre era necessária
tamanha mutilação.
"Nos anos 50, um cirurgião chamado David Patey
aperfeiçoou a mastectomia de Halstead, passando a preservar o músculo peitoral
maior, mas ainda retirando os gânglios embaixo do braço. Isso trouxe uma melhor
qualidade de vida às pacientes."
A próxima grande inovação surgiu somente duas décadas mais
tarde, quando o Dr. Umberto Veronesi, na Itália, inovou no tratamento cirúrgico
do câncer de mama. O cirurgião comparou os resultados de pacientes submetidas à
cirurgia tradicional da época a outras nas quais retirava-se apenas um pedaço
da mama (chamada de quadrantectomia), associada à radioterapia.
"Com os resultados dos dois grupos semelhantes, o novo
tratamento, chamado conservador, passou a ser realizado em mulheres que, até
então, estavam fadadas à retirada de toda a mama."
Já nos anos 80, o grande destaque foi o desenvolvimento da
reconstrução mamária, tanto na mastectomia quanto na quadrantectomia, ou seja,
a paciente não ficava com a sequela de uma mama muito disforme em relação a
outra, ou ainda sem a mama.
"Além dos efeitos estéticos, estas mulheres poderiam
desencadear problemas físicos, pois conforme o tamanho da mama perdida, o eixo
do corpo era desviado, acarretando problemas na coluna."
O próximo grande avanço foi a pesquisa do linfonodo
sentinela, encabeçada pelo Dr. Armando Giuliano, nos Estados Unidos, e pelo Dr.
Veronesi, na Itália. Ao perceber que grande parte dos linfonodos provenientes
do esvaziamento axilar eram negativos, ou seja, poucas pacientes tinham linfonodos
acometidos, foi desenvolvido o conceito de linfonodo sentinela, que é o
primeiro linfonodo a receber células malignas oriundas de um câncer através da
circulação linfática.
"As condições do linfonodo sentinela indicam o estado
dos demais linfonodos da região afetada. Assim, hoje, a pesquisa do linfonodo
sentinela entrou no arsenal terapêutico e nos permite oferecer à paciente com
câncer de mama uma cirurgia conservadora, preservando-se muitas vezes o
complexo aréolo papilar, um quadrante ou mesmo uma mastectomia com reconstrução
imediata, conforme cada caso."
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