Especialista analisa prós e contras do mercado de streaming e reforça descontentamento da classe com valor pago por "play"
Em dezembro, as redes sociais foram invadidas por
retrospectivas de usuários do Spotify, compartilhando com amigos e seguidores
os artistas e músicas que mais ouviram em 2021. A ação, assim como em anos
anteriores, teve boa repercussão, inclusive inspirando memes, e reflete a
popularidade cada vez maior da plataforma – são 381 milhões de usuários ativos
no mundo todo, 19% a mais do que aqueles registrados em 2020.
Contudo, os resultados expressivos vêm em um período conturbado
no relacionamento com artistas, descontentes com os valores pagos por play -
US$ 0,00348 (menos de meio centavo de dólar). “O Brasil, por exemplo, é o país
que mais escuta a sua própria música. No Top 50 do Spotify, a grande maioria
das músicas são brasileiras. No entanto, devido a uma série de fatores, o valor
pago por play arrecadado no Brasil é um dos menores do mundo. Paga-se
muito pouco pelos streams, então os artistas brasileiros, apesar de terem
centenas de milhões de plays, recebem muito pouco”, analisa João Luccas
Caracas, CEO da gestora musical Adaggio, o primeiro fundo brasileiro
especializado na aquisição de catálogos musicais.
O CEO aponta que a arrecadação é ainda mais baixa para os
compositores e que, em alguns lugares do mundo, já há um movimento buscando
melhorar isso. “Nas plataformas digitais, os compositores recebem cerca de um
quarto do royalty que a gravadora recebe. No Reino Unido, por exemplo, tem
acontecido um movimento para que o autor que recebe da editora tenha uma remuneração
mais justa comparada àquela que o artista recebe da gravadora”.
Ainda assim, Caracas destaca a importância do streaming
para o mercado fonográfico. “Passamos por um período muito difícil entre 2000 e
2015, quando a pirataria reinou e o valor de mercado das gravadoras e editoras
quase ruiu. Muitas delas tiveram que se fundir para sobreviver. Conforme o
streaming foi sendo adotado, foi trazendo essa outra fonte de arrecadação, que
salvou a indústria fonográfica. Além disso, quando você tem uma música no
Spotify, ela é distribuída pelos quatro cantos do mundo. Ficou mais fácil
aumentar o alcance do trabalho e permitir que ele seja ouvido em países que
você jamais imaginou”.
Em março deste ano, artistas e profissionais da indústria
musical se reuniram em frente à sede do Spotify em diferentes cidades do mundo,
incluindo São Paulo, para pedir que o preço do play fosse elevado até chegar a
um centavo de dólar. Logo depois, em abril, dezenas de músicos, juntamente com
Paul McCartney, assinaram uma carta defendendo que as plataformas reavaliem os
valores pagos. A pressão deve se manter.
“O streaming trouxe novas perspectivas para a indústria,
bastante positivas. Falta apenas que todas as partes sejam valorizadas e
remuneradas de maneira justa. E ninguém pode questionar a importante parcela
que compete a artistas e compositores no crescimento da indústria,
especialmente esse último. O compositor é a peça mais essencial para a
criação de uma música, mas, é o que menos recebe no digital. Portanto, nada
mais justo do que eles receberem de forma proporcional à sua participação nesse
sucesso”, finaliza Caracas.
Adaggio - gestora
musical fundada pelo músico João Luccas Caracas, que conta com um time de
executivos veteranos da indústria fonográfica.
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