Ignorância sobre o Holocausto cria terreno fértil para a violência contra minorias
Já
faz algum tempo que os judeus do mundo inteiro vêm constatando uma tendência
preocupante: a cada ano, o grau de ignorância das gerações mais jovens acerca
do Holocausto parece aumentar. Hoje, oito décadas após o genocídio de seis
milhões de judeus pelo regime nazista, uma parcela ampla da sociedade
desconhece informações básicas a seu respeito. Não sabem o que foi, quem o
causou, por que ocorreu. No
Brasil, pesquisa de 2019 da Anti-Defamation League, organização histórica no
combate ao antissemitismo, mostrou que 22% dos entrevistados nunca haviam
ouvido falar no Holocausto, e 15% acreditavam que o número de mortos teria
sido exagerado. A
ignorância generalizada é terreno fértil para o ódio. À medida que a memória
coletiva do Holocausto esmaece, grupos mal intencionados vêm preenchendo o
espaço que ela ocupava de forma metódica e intensiva, com banalizações,
negacionismo e discursos violentos. Em
2022, é possível ver os frutos dessa ignorância em todo lugar. Na Europa,
partidos com inclinações neonazistas, como a AfD (Alternativa para a
Alemanha), proliferam e conquistam adeptos, aproximando-se perigosamente dos
espaços de poder. Nos
EUA, são cada vez mais frequentes ataques a sinagogas e outras formas de
violência — física ou simbólica — direcionada a judeus. Os mesmos grupos
antissemitas que organizam esses ataques têm a erosão e a manipulação da
memória como projeto prioritário, e conseguem propagar suas mensagens com um
grau de penetração surpreendente. Muitos jovens americanos já declararam ter
visto na internet símbolos nazistas e posts negando ou distorcendo o
Holocausto. Já
o Brasil vive uma explosão de grupos extremistas, dos quais a maioria é
neonazista. Segundo a antropóloga Adriana Dias, essas células cresceram 270%
entre 2019 e 2021, chegando a 530 grupos — cerca de 10 mil pessoas. Gestados
em fóruns online, eles têm dado sinais alarmantes de que não pretendem se
limitar a disseminar mensagens de ódio na internet, mas a efetivá-las na vida
real, adquirindo armas e organizando treinamentos paramilitares. Essas
circunstâncias atestam a falência coletiva da sociedade em educar seus
jovens. Enquanto não fizermos um esforço concreto para reverter essa
realidade, corremos riscos sérios, para além da comunidade judaica. O
antissemitismo contemporâneo, afinal, é a manifestação de um mal mais
profundo – a intolerância. No Brasil, os mesmos grupos que pregam a violência
contra os judeus já se organizam para praticá-la contra negros, nordestinos e
LGBTs. Nesse
sentido, trabalhar contra a banalização do Holocausto é crucial não apenas
para os judeus, mas para a nossa sobrevivência enquanto civilização. Ao falar
do Holocausto, estamos lutando também contra outros genocídios. À medida
que nos distanciamos do Holocausto, é crucial preservar sua memória, reforçar
a sua dimensão enquanto trauma coletivo. Neste 27 de janeiro, Dia
Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, que lembremos do óbvio:
aprender com o passado é a única forma de proteger o futuro. |
Claudio Lottenberg - Presidente
do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert
Einstein e da Conib (Confederação Israelita do Brasil)
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