Estudo
de endocrinologista brasileiro defende tratamento clínico não invasivo antes de
recorrer a cirurgia. “ O que poucas pessoas sabem é que o tratamento clínico
pode ser mais eficaz que a cirurgia”, afirma Flávio Cadegiani
O
ano de 2016 foi marcado como o período com maior número de cirurgias
bariátricas no país, foram realizados 100.512 procedimentos, segundo dados da
Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). O Brasil é
considerado o segundo país do mundo em número de cirurgias realizadas e as
mulheres representam 76% dos pacientes.
Em
contrapartida à indústria da bariátrica, o endocrinologista Flávio Cadegiani
conduziu um estudo que defende o tratamento clínico da obesidade, priorizando
um tratamento menos invasivo que a bariátrica. O protocolo proposto pelo médico
foi apresentado em um estudo reconhecido internacionalmente e publicado no
último mês na BMC Obesity, referência médica reconhecida mundialmente. “Quando
corretamente recomendada a bariátrica ajuda sim, a questão é que ela pode ser
evitada e, a maioria das vezes, não deve ser considerada primeira opção para
sair do quadro de obesidade", explica Cadegiani.
O
método proposto analisou um grupo de 43 pacientes, acompanhados durante dois
anos para chegar aos resultados conclusivos. Entre as ações adotadas no método
estava a administração de um tratamento com remédios mais agressivos e a
exigência de que os pacientes associassem ao menos duas de três outras
modalidades à medicação: dieta, personal
trainer e psicoterapia.
Apesar
da obesidade ser reconhecida como uma doença multi-fatorial, não se aceita
tratamento da doença com medicamentos combinados. “Os estudos anteriores nunca
avaliaram a combinação de modalidades não farmacológicas, como psicoterapia e
dieta rígida, em associação aos medicamentos. Estuda-se ou um, ou outro, mesmo
que a combinação seja hoje mandatária”, descreve o endocrinologista.
O
trabalho com 32 mulheres e 11 homens resultou na perda média superior a 50% do
excesso de peso, prevenção de 93% da cirurgia da obesidade e melhora expressiva
de todos os parâmetros metabólicos, desde o colesterol até o nível de glicose.
Trinta e oito (88,4%) pacientes atingiram 10% de perda de peso corporal e 32
(74,4%) atingiram 20% de perda de peso corporal. Quarenta (93,0%) pacientes
foram capazes de evitar a cirurgia e apenas três não atingiram a meta de peso
desejada e foram encaminhados para a bariátrica.
O
brasiliense Elias Couto tem 25 anos e já chegou a pesar 150 quilos, mas para
chegar nos atuais 108kg preferiu não optar pela bariátrica, e sim pelo
tratamento multidisciplinar. "Comecei o acompanhamento em dezembro de
2015, e de gordura mesmo já perdi mais de 45 quilos", afirma. Elias conta
que é preciso estar pronto para uma mudança de todos os hábitos e rotina.
"Precisamos entender a obesidade como doença e não como um caso apenas de
distúrbio alimentar. Ver as pessoas notando que você emagreceu e saber que você
está melhor de saúde não tem preço", completa.
Apesar
do apresentar uma contra proposta à cirurgia bariátrica, o especialista garante
que não é contra o procedimento. “O que não pode acontecer é deixar esta doença
e esperar que o pior aconteça – o desenvolvimento de alguma das dezenas de
doenças que a obesidade pode trazer", finaliza Flávio Cadegiani.
Nenhum comentário:
Postar um comentário