Nós
somos melhores do que estamos? Quer dizer: o mal estado da nação nos causa
mal-estar? Aparentemente, sim. Protestamos generalizada indignação. Entretanto,
cultivamos uma indignação “em tese”. Declaramos descontentamento como se o que
o Brasil é não resultasse do que o fizemos ser.
Talvez nem
percebamos o quanto nossos cometimentos e desinteresses cotidianos dão causa à
nossa vida coletiva e, logo, individual. Dado que atos são impelidos por
crenças, talvez devêssemos nos indagar sobre nossas medidas de importância. Que
preceitos éticos privados e públicos e que práticas sociais nos importam?
Sob a
rubrica ética, o Houaiss define valor: “conjunto de princípios ou normas que,
por corporificar um ideal de perfeição ou plenitude moral, deve ser buscado
pelos seres humanos”. Isso, claro, é relativo; inexiste ideal universal. Daí talvez
devêssemos, comparando nossos valores com os de outros países, nos reavaliar e,
até mesmo, refutar algumas das nossas convicções.
“O
Relatório Mundial de Felicidade de 2017 colocou a Noruega no topo dos países
mais felizes do planeta. A lista, que abrange 155 nações, é baseada no PIB per
capita e na expectativa de vida saudável.
Na
pesquisa, os entrevistados atribuem notas de 1 a 10 a quanto apoio social
sentem que terão se algo der errado em suas vidas, à liberdade de que gozam
para fazer suas próprias escolhas de vida, sua opinião sobre o grau de
corrupção de sua sociedade e até que ponto se consideram generosos” (FSP,
21mar17).
O Brasil
já ocupou a 17ª posição; caímos para a o 22º lugar. Dada a distância, mais
ainda com a nossa queda, é de se indagar: que valores professamos e nem sempre
cumprimos? Que valores declaram e realizam os noruegueses?
Noruega:
100% da população é alfabetizada Brasil: 12% não é alfabetizada. Escolaridade:
Noruega, topo: 12,6 anos; Brasil, 7,2 anos, 97º na fila. Ensino médio: rareamos
nas matrículas e só 5,6% delas são em período integral. Universidade: Noruega,
35% da população; Brasil, 14%.
Crenças
religiosas: Noruega: 72% de ateus; Brasil: 79% são religiosos. Disso decorrem
posições sobre outros aspectos da vida: o aborto, por exemplo. Na Noruega, a
mulher pode decidir até a 12ª semana, em alguns casos, pode abortar até a 18ª.
Em gravidez de gêmeos, pode escolher gerar apenas um filho. Esse direito tão
comum, nós o vemos como absurdez. Mas levantamento da ONU aponta que países com
boa taxa de alfabetização tendem a ser mais descrentes e a lidar com essas
questões com concepções distantes da ideia de pecado.
Mesmo
advertidos de nossa precária formação educacional, espargimos moralismos sobre
a vida alheia. Ao mesmo tempo, abandonamos em desinteresse a vida em comum, ainda
que próxima, como a das cidades. Em Porto Alegre, cidade politizada, 65% dos
eleitores não sabem em quem votaram para vereador; 33% não sabem que prefeito
sufragaram. 40% do eleitorado brasileiro não recordam seu sufrágio para
deputado federal.
Suspeito de que afora o moralismo religioso que
nos faz o fundo a todas as coisas, o mais nos é insignificativo. Cultivamos
valores medievais, cremos que a felicidade decorre de pactos com divindades. Customizamos
deuses, rezamos. Eis nossa modernidade: a adaptação pessoal do divino, à venda
no mercadejamento evangélico.
Com bitolas morais religiosas, renunciamos ao
dever de cidadania. Abstraímo-nos de ser, cada um de nós, políticos. Supomos
que distanciados da coisa pública podemos produzir estadistas. Ora, de nós
decorrem os nossos. De medíocres, mediocridades.
Os canalhas que nos roubam dinheiros e abandonam
a gerência da nossa felicidade pública foram eleitos – cada um deles foi eleito.
Desmascarados, à esquerda e à direita restam justificados. Nisso, na Noruega
não, no Brasil sim, todos se acordam: no traimento do interesse geral.
Léo Rosa
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