Cada vez mais comuns, humilhações on-line prejudicam aspectos psicológicos e interferem na aprendizagem dos jovens
Uma jovem adolescente de 14 anos abre as redes sociais e descobre que o namorado divulgou na internet um vídeo dela nua. Ao chegar na escola é ridicularizada pelos colegas. Pede aos pais para ser transferida para outro colégio. Chegando lá, é reconhecida -- e vê as humilhações se repetirem, agora em outro ambiente.
Outro adolescente, este de
15 anos, é perseguido na rede. Todos os seus comentários são ironizados pelos
colegas. Não bastassem as humilhações, ele também é vítima de ameaças
constantes -- tudo sem motivo aparente.
As duas histórias são reais
e foram contadas pelo psicólogo Luciano Passianotto, a partir de sua vivência
no atendimento clínico. Mas não se tratam de casos isolados: não é difícil
encontrar adolescentes que passaram pela mesma situação. Afinal, a internet
pode ser muito cruel. Seja pela possibilidade de anonimato ou pela distância
física da vítima, o chamado "bullying virtual" parece crescer junto
aos avanços tecnológicos.
De acordo com o psicólogo,
as motivações dos agressores podem ser as mais diversas. Em alguns casos,
trata-se de uma ferramenta de auto-afirmação. Ao humilhar o outro, o agressor
sente-se mais seguro de si e abafa suas próprias inseguranças. Em outros casos,
porém, estas pessoas podem ser verdadeiras psicopatas. Independente do que leva
ao ato, suas consequências são, na maioria das vezes, devastadoras. A vítima vê
sua autoestima abalada e, no caso dos adolescentes, isso pode interferir
inclusive no aprendizado. Nesses casos, além do apoio psicológico, também é
indicado acompanhamento junto ao psicopedagogo.
"Se há prejuízos no
desempenho escolar, o psicopedagogo é também uma opção para redirecionar o
foco, centralizando-o na capacidade de aprendizagem que o sujeito possua para,
enfim, reencontrar o prazer de aprender", explica Luciana Barros de
Almeida, presidente na ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia).
Segundo Passianotto, o
tratamento psicológico é indicado para que aquele que sofreu humilhações possa
recuperar sua autoestima: só assim ela poderá superar o ocorrido.
"Precisamos melhorar a imagem que a pessoa tem de si mesma, melhorando sua
sensação de bem estar, para que ela esteja preparada a lidar com esse tipo
situação da melhor forma possível. O objetivo é instrumentar a pessoa para que
ela consiga desenvolver estratégias adequadas de como lidar com a
situação."
Papel dos pais
Quando essas humilhações
ocorrem com crianças e adolescentes, os pais devem intervir. De acordo com a
presidente da ABPp, monitorar o que os filhos fazem na internet -- deixando
claro que isso está sendo feito e explicando por quê -- pode ser um caminho.
Mas, em primeiro lugar, deve existir o diálogo. "Os pais precisam
conversar com o filho cotidianamente, e o mesmo vale para a escola. Se
suspeitarem que há algo incomum ocorrendo devem verbalizar para o sujeito o que
estão percebendo e ver como ele reage, oferecendo ajuda."
Para Passianotto, a escola também deve se posicionar, pois
desempenha importante papel na mediação de conflitos. "A escola deve
entender sua responsabilidade na formação de seus alunos como cidadãos e, caso
estes estejam em desacordo com os valores pregados pela instituição, devem
levar o fato para a família e cobrar a retirada de material ofensivo e a
retratação quando necessário."
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