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quinta-feira, 7 de maio de 2015

Quando a internet vira um ambiente hostil





Cada vez mais comuns, humilhações on-line prejudicam aspectos psicológicos e interferem na aprendizagem dos jovens

Uma jovem adolescente de 14 anos abre as redes sociais e descobre que o namorado divulgou na internet um vídeo dela nua. Ao chegar na escola é ridicularizada pelos colegas. Pede aos pais para ser transferida para outro colégio. Chegando lá, é reconhecida -- e vê as humilhações se repetirem, agora em outro ambiente.
Outro adolescente, este de 15 anos, é perseguido na rede. Todos os seus comentários são ironizados pelos colegas. Não bastassem as humilhações, ele também é vítima de ameaças constantes -- tudo sem motivo aparente.
As duas histórias são reais e foram contadas pelo psicólogo Luciano Passianotto, a partir de sua vivência no atendimento clínico. Mas não se tratam de casos isolados: não é difícil encontrar adolescentes que passaram pela mesma situação. Afinal, a internet pode ser muito cruel. Seja pela possibilidade de anonimato ou pela distância física da vítima, o chamado "bullying virtual" parece crescer junto aos avanços tecnológicos. 
De acordo com o psicólogo, as motivações dos agressores podem ser as mais diversas. Em alguns casos, trata-se de uma ferramenta de auto-afirmação. Ao humilhar o outro, o agressor sente-se mais seguro de si e abafa suas próprias inseguranças. Em outros casos, porém, estas pessoas podem ser verdadeiras psicopatas. Independente do que leva ao ato, suas consequências são, na maioria das vezes, devastadoras. A vítima vê sua autoestima abalada e, no caso dos adolescentes, isso pode interferir inclusive no aprendizado. Nesses casos, além do apoio psicológico, também é indicado acompanhamento junto ao psicopedagogo.
"Se há prejuízos no desempenho escolar, o psicopedagogo é também uma opção para redirecionar o foco, centralizando-o na capacidade de aprendizagem que o sujeito possua para, enfim, reencontrar o prazer de aprender", explica Luciana Barros de Almeida, presidente na ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia).
Segundo Passianotto, o tratamento psicológico é indicado para que aquele que sofreu humilhações possa recuperar sua autoestima: só assim ela poderá superar o ocorrido. "Precisamos melhorar a imagem que a pessoa tem de si mesma, melhorando sua sensação de bem estar, para que ela esteja preparada a lidar com esse tipo situação da melhor forma possível. O objetivo é instrumentar a pessoa para que ela consiga desenvolver estratégias adequadas de como lidar com a situação."
Papel dos pais
Quando essas humilhações ocorrem com crianças e adolescentes, os pais devem intervir. De acordo com a presidente da ABPp, monitorar o que os filhos fazem na internet -- deixando claro que isso está sendo feito e explicando por quê -- pode ser um caminho. Mas, em primeiro lugar, deve existir o diálogo. "Os pais precisam conversar com o filho cotidianamente, e o mesmo vale para a escola. Se suspeitarem que há algo incomum ocorrendo devem verbalizar para o sujeito o que estão percebendo e ver como ele reage, oferecendo ajuda."
Para Passianotto, a escola também deve se posicionar, pois desempenha importante papel na mediação de conflitos. "A escola deve entender sua responsabilidade na formação de seus alunos como cidadãos e, caso estes estejam em desacordo com os valores pregados pela instituição, devem levar o fato para a família e cobrar a retirada de material ofensivo e a retratação quando necessário."

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