Com os mitos e verdades, saiba mais sobre
fatores de risco, detecção e tratamento do tumor, que conta com cerca de 185 mil casos ao ano no Brasil durante o triênio
2020-2022
Com a chegada do inverno, é comum que
as pessoas relaxem no uso do protetor solar. Mas a temporada de frio não significa
que os raios solares nocivos à pele entraram de férias. Pelo contrário, mesmo
em dias de céu nublado eles seguem presentes e podem representar riscos à
saúde, entre eles impactos importantes na incidência de câncer.
Os últimos dados divulgados pelo Instituto
Nacional do Câncer (INCA) apontaram que durante o triênio 2020-2022 dos 325 mil
novos casos de tumores malignos diagnosticados na população, mais de 185 mil
são de pele. O número diz respeito a dois tipos: o de pele não melanoma e o de
pele melanoma, somados. O mais comum deles, o não melanoma, possui altos
índices de cura quando é detectado e tratado precocemente e sua prevenção está
diretamente ligada aos cuidados com a exposição excessiva aos raios solares sem
a devida proteção.
Para Sheila Ferreira,
oncologista da Oncoclínicas São Paulo, durante a pandemia, o alerta sobre a
condição se torna ainda mais essencial. “A população não deve descuidar da
atenção global à saúde. A pandemia pelo coronavírus e o fato de as pessoas
permanecerem por mais tempo dentro de casa, fez com que o hábito de passar
protetor solar fosse deixado um pouco de lado, mas os cuidados devem
permanecer, principalmente quando se está em ambiente interno próximo de
janelas que permitem a entrada da luz solar, não sendo capaz de filtrar os
raios ultravioletas. Por isso, a recomendação vale para dentro e fora de casa.
Além disso, é imprescindível que, caso identificada qualquer alteração na pele,
como feridas que não cicatrizam ou manchas suspeitas, a pessoa busque
atendimento médico especializado”, diz.
Segundo a
especialista, independentemente da classificação do câncer de pele, os fatores
que aumentam o risco são os mesmos: a exposição prolongada e repetida ao sol,
sem uso de proteção adequada. Ter a pele e olhos claros, cabelos ruivos ou
loiros, ser albino (ou possuir histórico familiar) também contribuem para o
aumento de risco de desenvolver a doença. “A irradiação ultravioleta do sol -
conhecida como raio UV - é a principal vilã no câncer de pele e é motivo de
preocupação mesmo em tempos frios. A exposição continuada aos raios UV, ou
mesmo intermitente, tem efeito cumulativo e, quando ocorre sem proteção, pode
ser considerada um fator de risco relevante”, explica Sheila.
Ela ressalta ainda
que, apesar de histórico familiar (fatores hereditários) ou fatores externos
(pessoas em profissões que exigem exposição solar diária) representarem maior
risco à doença, a atenção e o cuidado devem ser realizados por todas as
pessoas. “Além desses fatores, portadores de alguma imunossupressão também
podem ter seu risco aumentado. Porém, tais grupos de risco não invalidam a
necessidade de cuidado em todo o tipo de pele. Inclusive, pessoas com a pele
negra têm a tendência de desenvolver um tipo de melanoma particular, que se
manifesta nas palmas das mãos e planta dos pés, com comportamento mais
agressivo”, completa a médica.
Sheila ainda reforça
que o protetor solar é um aliado importantíssimo para a prevenção do câncer.
“Ele deve ser aplicado diariamente, repassado a cada duas horas e após o
contato da pele com a água. Proteger bebês e crianças é especialmente
importante. Antes dos 6 meses de idade, eles devem ser mantidos fora do sol
usando roupas, chapéus, cobertores e persianas. Após os 6 meses a criança já
pode utilizar o filtro solar”, alerta.
O filtro solar deve
ser utilizado também durante o inverno e em dias nublados. “Os raios UV são
capazes de atravessar as nuvens, penetrar em janelas e, ainda, são refletidos
pela água, areia e concreto. Ou seja: nem a sombra é completamente protetora”,
enfatiza.
Como
detectar e tratar o câncer de pele
Os principais sinais
e sintomas de câncer não-melanoma são a presença de lesões cutâneas com
crescimento rápido, ulcerações que não cicatrizam e que podem estar associadas
a sangramento, coceira e algumas vezes dor e geralmente surgem em áreas muito
expostas ao Sol como rosto, pescoço e braços.
É importante a
avaliação frequente de um especialista para acompanhamento dessas lesões. A
análise da mudança nas características destas lesões é de extrema importância
para um diagnóstico precoce, pois quando identificado em fase inicial, o câncer
de pele tem excelentes respostas aos tratamentos e elevado potencial de cura.
Além disso, o dermatologista tem o papel de orientar sobre a proteção adequada
para evitar os possíveis riscos que os raios solares podem causar na pele.
“O câncer de pele do
tipo não-melanoma é o mais comum, com destaque para o carcinoma basocelular e
carcinoma espinocelular. O primeiro, é o tipo mais frequente, com crescimento
mais lento. A suspeita se dá, usualmente, pelo aparecimento de uma lesão
nodular rósea, com aspecto peroláceo em regiões expostas ao Sol, como rosto,
pescoço, couro cabeludo, ombros e costas. Já no caso do carcinoma
espinocelular, mais comum em homens, ocorre a formação de um nódulo que cresce
rapidamente, com ulceração (ferida) de difícil cicatrização”, explica Dra.
Sheila.
Os casos de câncer
de pele do tipo melanoma são, por sua vez, geralmente os que se iniciam com o
aparecimento de pintas escuras na pele, que apresentam modificações ao longo do
tempo. As alterações a serem avaliadas como suspeitas são o “ABCDE”-
Assimetria, Bordas irregulares, Cor, Diâmetro, Evolução. Através de uma
avaliação prévia das pintas, a doença é diagnosticada facilmente.
Apesar de
corresponder somente a 3% dos tumores malignos de pele registrados no país, o
melanoma é considerado o tipo mais grave devido à alta possibilidade de
provocar metástase. No Brasil, são esperados cerca de 7 mil casos ao ano e em
torno de 1.800 mortes pela doença. “Esse tipo de tumor pode aparecer na pele ou
mucosas, na forma de manchas, pintas ou sinais. É necessário ficar alerta
quanto às possíveis mudanças nas pintas, como aumento de tamanho, variação de
cor, perda da definição ou irregularidades das bordas e sangramento. Ao
primeiro sinal de mudança, é recomendável buscar o aconselhamento médico”,
frisa a oncologista clínica da Oncoclínicas São Paulo.
Quando diagnosticado
o melanoma, é indicado a ressecção cirúrgica destas lesões por especialista
habilitado para adequada abordagem das margens ao redor do tumor.
Posteriormente, dependendo do estágio da doença, pode ser necessária a
realização de tratamento complementar. Todavia, vale lembrar, em situações de
detecção precoce, quimioterapia, imunoterapia ou radioterapia são raramente
necessárias e a cirurgia é capaz de resolver a maioria dos casos. “O tratamento
para o câncer de pele pode ser feito apenas através de cirurgia quando
detectado no início. Já em casos mais avançados da doença pode ser preciso a
realização de terapias complementares”, completa Sheila.
Novas
alternativas terapêuticas
A oncologista
destaca ainda que diversos avanços têm melhorado a qualidade de vida e
sobrevida dos pacientes, com principal atenção às boas respostas às medicações
imunoterápicas, que estimulam o próprio sistema imunológico do paciente a
identificar e combater as células malignas.
“Há algum tempo, os
melanomas avançados não tinham uma resposta boa aos tratamentos mais
tradicionais, infelizmente. A chegada da Imunoterapia não só no câncer de pele,
mas também para o tratamento de outros tumores, trouxe resultados promissores.
Hoje em dia, mesmo em casos de melanoma metastático, as pessoas têm vivido
anos. Além disso, temos a opção de terapia alvo em casos selecionados, também
com ótimos resultados. Foi uma revolução para o tratamento do melanoma”,
afirma.
No entanto, a melhor
abordagem continua sendo a prevenção e o acompanhamento contínuo de possíveis
alterações que possam indicar o surgimento da doença, promovendo assim o seu
diagnóstico em fase inicial. Os cuidados devem ser intensificados no verão:
evitar exposição ao Sol das 10h às 16h, usar protetor solar, viseiras, chapéus
e/ou bonés, bem como roupas e óculos de sol com proteção UV, mas que devem seguir
o ano inteiro - inclusive no inverno e em dias de tempo nublado. E não deixar
de se consultar com dermatologistas regularmente.
Para saber ainda
mais sobre o câncer de pele, confira cinco mitos e verdades esclarecidos pela
Dra. Sheila Ferreira:
1 -- É preciso
usar protetor em dias nublados.
Verdade. As nuvens
não são capazes de bloquear os raios ultravioleta, os quais estão presentes
também em dias nublados, portanto, o uso de protetor solar é imprescindível
sempre.
2 -- O risco é
maior no verão.
Verdade. O que
determina maior risco de incidência de câncer de pele é o índice ultravioleta
(UV), que mede o nível de radiação solar na superfície da Terra. Quanto mais
alto, maior o risco de danos à pele. Esse índice é mais alto no verão, porém
pode ser alto em outras épocas do ano.
3
-- Existe exposição ao sol 100% segura.
Mito. É preciso
evitar excessos e sempre tomar sol com moderação. E os cuidados devem ser
seguidos o ano inteiro e vale intensificá-los no verão. Isso inclui evitar ao
máximo se expor diretamente ao sol, em especial das 10 às 16 horas, sempre usar
protetor solar e não abrir mão de viseiras, chapéus e/ou bonés, bem como roupas
e óculos de sol com proteção UV, em momentos de exposição mais intensa aos
raios, como durante a prática de esportes ao ar livre ou descanso em locais
como parques, clubes e praias, além de muito protetor solar com diversas
aplicações ao longo do dia.
4
- Somente regiões expostas diretamente ao sol podem ser afetadas.
Mito. A maioria dos
tipos de câncer de pele (não- melanoma e melanoma) de fato tem uma relação de
risco de surgimento aumentada devido aos impactos do sol. Vale lembrar que os
raios ultravioleta que causam danos à pele são capazes de atravessar janelas.
Um alerta: alguns subtipos de melanoma podem surgir em áreas do corpo que
muitas vezes não observamos com a devida cautela, como genitais, glúteos, couro
cabeludo, palmas das mãos, solas do pé, debaixo das unhas e entre os dedos.
5
-- Na sombra não é preciso usar filtro solar.
Mito. Mesmo na
sombra é preciso passar o protetor solar, pois não estamos livres dos raios
ultravioleta.
Oncoclínicas
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