Profa. Dra. Ana Flávia Parenti, coordenadora do curso de Psicologia da Unicid, dá dicas de como driblar o consumo em excesso sem necessidade
Recentemente a pesquisa "Consumo on-line no
Brasil", realizada pela agência Edelman a pedido do PayPal, mostrou que
78% dos brasileiros fizeram compras on-line na pandemia. Um breve olhar ao
redor mostra um pouco desse paradigma: algumas compras que eram mais
esporádicas, feitas em estabelecimentos, passaram a ser semanais. Em
contrapartida, o número de endividamento das famílias brasileiras chegou a
28,7%, sendo a oitava alta consecutiva desde outubro de 2021, segundo dados da
Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (CNC).
Em geral, o consumo de produtos e serviços se
tornou uma ação muito mais rápida, fácil e prática a partir do e-commerce. Mas
para quem se pergunta se esse cenário pode revelar algo como uma doença, a
exemplo de compulsões, a resposta é negativa. A profa. Dra. Ana Flávia Parenti,
coordenadora do curso de Psicologia
da Universidade Cidade de S. Paulo (Unicid), aponta que a alta desse
endividamento nos últimos tempos pode não significar compulsão por compras, mas
sim compras por impulso.
“Comprar por impulso é toda a aquisição feita sem
pesquisa, planejamento ou organização financeira, motivada, na maioria das
vezes, por desejos momentâneos e sem necessidade. Não há preocupação com as
consequências desses gastos”, explica a psicóloga.
A celeridade e a praticidade do e-commerce ajudaram
nesse momento de pandemia. A professora diz que entre 2020 e 2021, com o
isolamento social e devido as pessoas permanecerem em suas residências, sem
poder sair para passear, ou fazer até mesmo compras de itens básicos
necessários, a única solução eram as compras on-line. Apesar de parecer um
comodismo, o uso de aplicativos de compras e auxiliares se multiplicou até
entre as pessoas que não os usavam por uma questão de necessidade.
Apesar de proporcionar diversas facilidades, as
compras digitais estão desencadeando nas pessoas uma falsa necessidade. “Nós
nos acostumamos com essa praticidade e, tudo que é fácil, rápido e facilita
nossa vida, é bom e queremos manter. O uso em tempo integral dos smartphones, e
as redes sociais como instrumentos de marketing, cria em nós necessidades de
consumo de produtos e serviços que não planejamos e que, até então, não
sabíamos que precisávamos, levando muitos a realizarem diversas compras com um
clique”, avalia Ana Flávia.
Além disso, a especialista considera que muitas
pessoas fazem as compras para aliviar um momento de estresse, tensão,
ansiedade, irritação, tristeza, apatia, falta de ânimo, entre tantos outros
sentimentos. “Realizar uma compra por impulso gera sensação de alívio, como se
estivéssemos sendo recompensados pelo ato, que gera um prazer momentâneo: ‘eu trabalho
pra isso’, ‘só se vive uma vez’”, exemplifica.
Nesse sentido, a professora Ana ainda lembra de
outra situação muito comum nas lojas e sites de compras: o trabalho psicológico
que se faz com os consumidores.
“É importante que as pessoas evitem promoções do
tipo: ‘em compras acima de tantos reais, ganhe um brinde’ ou ‘compre três
peças, a quarta sai de graça’. Essas ‘promoções’ trazem uma falsa ideia
de que você está sendo beneficiado, mas na verdade você adquirirá mais do que
necessitava e vai gastar além do previsto. São jogos de marketing que nos fazem
cair na armadilha do consumo por impulso, a falsa ideia da ‘oportunidade’”,
aconselha a psicóloga.
Para auxiliar as pessoas a não caírem nessas
armadilhas, realizarem compras por impulso e se afundarem no endividamento, Ana
Flávia Parenti elencou algumas dicas. Confira:
- Tenha uma planilha com seus ganhos e gastos mensais. Separe seus gastos por categorias: os fixos (aluguel, luz, água, internet, plano de saúde, escola); variáveis (supermercado, farmácia, gasolina/transporte, alimentação); e outros que podem ser negociáveis ou adiáveis (roupa, sapato, acessórios, app de comida). Com a visualização dos valores ganhos e gastos, você passa a ter maior controle sobre sua situação real e priorizar onde utilizar o dinheiro;
- Nunca saia de casa sem ter uma lista de compras. Evite o que não está previsto na lista para não fazer compras supérfluas;
- Faça pesquisa de preços. Ao precisar comprar algum produto ou serviço, verifique os valores em diversos locais e sites antes da compra final, assim tem mais chances de adquirir por um valor acessível;
- Evite realizar qualquer compra quando estiver emocionalmente abalado: triste, irritado, estressado, ansioso ou mesmo para comemorar algo. Durante essas oscilações emocionais adie suas compras;
- Evite parcelamento no cartão;
- Avalie a real necessidade daquela compra;
- Evite
navegar por longos períodos em sites de compras.
A docente reforça para as pessoas sempre procurarem
ajuda ao perceber que compra muito por impulso. “Nesses momentos, busque tanto
profissionais que possam auxiliar nas finanças quanto os profissionais para
direcionar com as questões emocionais que o fazem realizar compras por
impulso”, conclui.
Unicid
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