Sérgio Moro teve sua candidatura barrada pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, devido à mudança no último dia do prazo de seu domicílio eleitoral para terras paulistas. Moro, depois de ter sua candidatura à presidência da República e ao Senado Federal emparedada pelo União Brasil, via a possibilidade de concorrer por São Paulo a uma vaga de deputado federal, tendo em vista sua possível capacidade de votação, o candidato teria condições de se tornar um puxador de votos, aumentado as vagas do União Brasil na Câmara dos Deputados. A estratégia não deu certo, tendo em vista a manifestação do TRE/SP, que não foi contestada pelo futuro candidato. Restou a Moro voltar a pensar em uma candidatura no Estado do Paraná, o que para ele não parece ser suficiente.
Moro sempre teve pretensões maiores no âmbito
político. Inicialmente, tentou a candidatura à presidência pelo Podemos,
partido do senador Álvaro Dias. Depois de alguns meses de campanha nacional,
observou que a política não é para amadores e que seus adversários eram muito
maiores do que ele imaginava. Moro descobriu que seu antigo aliado, Jair
Bolsonaro, não iria deixar caminho aberto para sua candidatura devido às
grandes articulações políticas junto ao centrão e a partidos de direita no
Congresso Nacional. Moro também encontrou barreiras dentro do próprio Podemos,
que observava sua potencial candidatura ao Senado Federal pelo Paraná como uma
barreira à reeleição eterna de Álvaro Dias. Outro conflito de interesse dentro
do partido era a candidatura de seu colega de lava-jato, Deltan Dallagnol à
Câmara dos Deputados. Sem muito para onde crescer, Moro observou a saída do
partido como necessária e a mudança de domicílio eleitoral como a possibilidade
de ser um nome forte na política nacional, e o recém-criado União Brasil
parecia ser o melhor local para suas pretensões. Na chegada ao novo partido,
Moro foi rebaixado de candidato à presidência para senador e, posteriormente,
para deputado federal, tendo seu nome rifado em público por colegas de partido.
Talvez Moro não tenha se atentado, mas o União Brasil é a fusão entre o antigo
Democratas e o PSL, partidos que dão sustentação ao governo de Jair Bolsonaro e
que jamais trairiam o presidente numa possível candidatura de Moro a qualquer
cargo relevante. O prêmio de consolação seria a candidatura a deputado federal
pelo União Brasil em São Paulo, onde o ex-juiz poderia ter um potencial de
votos que o colocasse em destaque no Poder Legislativo, mas nem isso foi
possível.
Moro volta ao Paraná em cima do processo eleitoral,
tendo que construir pontes que foram queimadas na sua mudança para São Paulo,
algo que não estava nos seus planos. Mas, os problemas não terminaram. O
candidato terá que enfrentar o diretório estadual do União Brasil, dominado por
aliados do presidente Bolsonaro, sua maior pedra no sapato. A candidatura ao
governo do Estado está fora de cogitação, tendo em vista a grande ligação do
governador Ratinho Junior com o governo federal, e a de senador começa a fazer
água. Moro tem grande potencial de ser eleito para cargos legislativos no
Estado do Paraná, mas o candidato se apequenou no último ano, pois deixou de ser
relevante no debate nacional, mudou de partido, mudou de Estado, voltou para o
Estado de origem como prêmio de consolação e ganhou a antipatia de muitos
políticos e antigos aliados. Me parece que os grandes adversários de Sérgio
Moro na sua entrada oficial na política não estão na esquerda, mas muito
próximos de seu convívio ou na inexperiência do candidato.
Francis
Ricken - advogado, mestre em Ciência Política e professor da Escola de Direito
e Ciências Sociais da Universidade Positivo (UP).
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