A orientação - alterando a ordem dos fatores que anteriormente
priorizava baixar a glicemia - também deverá chegar ao Brasil.ShutterStock
A perda de peso está sendo apontada mundialmente como um dos principais passos para evitar a progressão do Diabetes Tipo 2 e garantir o controle da glicemia. A informação começou a ser divulgada, no início do mês de junho, durante o 82nd Scientific Sessions of the American Diabetes Association, realizado no Estados Unidos, onde as Sociedades Americana e Europeia de Diabetes propuseram um novo algoritmo, orientando que o tratamento da obesidade deve ser o primeiro passo para o tratamento do diabetes tipo 2 e, consequentemente, para reduzir os índices glicêmicos.
Um novo algoritmo significa rever as diretrizes que irão guiar o tratamento de uma doença, principalmente de doenças crônicas como diabetes tipo 2.
Os algoritmos - publicados anualmente pela Sociedade Americana de Diabetes - regulam desde o tratamento nos consultórios e chegam até a revisão de políticas públicas para o tratamento do diabetes tipo 2 no país. Isso inclui o passo a passo dos cuidados, como será a infraestrutura e a ordem de preferências medicamentosas.
A proposta também deverá chegar ao Brasil neste ano e integrar os algoritmos da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
"As novas diretrizes são
revistas e publicadas anualmente pela Sociedade Americana e, com toda certeza,
servirão como ponto chave para a publicação das novas diretrizes brasileiras em
breve", explica o médico endocrinologista André Vianna, que também é coordenador
do departamento de educação da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e
presidente da SBD no Paraná.
Segundo ele, sempre se soube que a obesidade era o
fator fundamental, bem como a tarefa mais desafiadora para uma pessoa com
diabetes tipo 2. "No entanto, apenas agora está sendo colocado este fator
em primeiro lugar", destacou o endocrinologista.
Embasamento científico
A mudança proposta pelas Sociedades Americanas e
Europeia de Diabetes, utilizaram como base um estudo científico, publicado em
setembro de 2021, na revista The Lancet, importante periódico internacional,
demonstrou que naqueles pacientes portadores de diabetes associados à
obesidade, a perda de peso é o primeiro passo para controle da glicemia e para
evitar a progressão da doença e de suas complicações, como a insuficiência
renal e eventos cardiovasculares, como infarto do miocárdio e AVC (acidente
vascular cerebral). Os novos agentes farmacológicos, apesar de ainda com
estudos com curto tempo de seguimento, têm resultados excelentes em relação à
perda de peso e controle da glicemia. Porém, como acontece com qualquer
tratamento médico, existem pacientes que não têm a resposta esperada ao
tratamento medicamentoso. Assim, para aqueles onde o melhor tratamento não consegue
o objetivo, a cirurgia metabólica aparece com destaque no novo algoritmo
proposto.
O artigo do The Lancet contou com a participação do
Dr. Ricardo Cohen, Coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes
do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, além de pesquisadores dos EUA, Austrália e
Irlanda. “Esta é a primeira vez que a perda de peso é mencionada como passo
inicial no tratamento do diabetes tipo 2 para que depois haja redução na
glicemia, ou seja, o emagrecimento foi apontado como a principal ferramenta
para interromper a evolução da doença a longo prazo”, afirma o Dr. Ricardo
Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital
Alemão Oswaldo Cruz e um dos autores da publicação.
Dados
Recentemente, a Federação Internacional de Diabetes (IFD, na sigla em inglês)
publicou a 10ª edição do Atlas do Diabetes. Os dados mostram o crescimento da
doença e colocam o Brasil no ranking entre os países em que há maior
prevalência e despesas com tratamento.
Neste ano, o custo estimado do diabetes no Brasil é
de 42,9 bilhões de dólares, ficando atrás apenas da China e Estados Unidos, com
US$ 165,3 bi e
US$ 379,5 bi,
respectivamente. Segundo o relatório, o Brasil é o sexto país do mundo com o
maior número de pacientes com diabetes. São cerca de 15,7 milhões de pessoas
convivendo com a doença. Até 2045, a estimativa é que tenhamos no país cerca de
23,2 milhões de pacientes. Por ser uma doença que não apresenta sintomas em sua
fase inicial, o diabetes é difícil de ser diagnosticado. A nova edição do Atlas
estima que só no Brasil cerca de 5 milhões de pessoas não saibam que estão com
diabetes.
Sobrepeso e obesidade são
fatores de risco
Estima-se que 90% dos casos de diabetes
no mundo sejam do Tipo 2. Apesar da genética ter uma forte influência no
desenvolvimento da doença, o sobrepeso e a obesidade são os principais motivos
do crescimento deste tipo de diabetes no mundo. O tratamento para o Diabetes
tipo 2 inclui tratamento clínico, mudanças no estilo de vida, prática de
exercícios físicos e a introdução de uma dieta adequada. Pacientes com IMC
acima de 30 que não estão obtendo resultados com mudanças no estilo de vida e
medicamentos podem ter indicação para a cirurgia metabólica.
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