Existe um texto - às vezes atribuído ao Carlos Drummond de Andrade, embora não seja de sua autoria - que corre na internet há bastante tempo. Diz assim:
O Tempo
"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante tudo vai ser diferente. (...)"
A verdade é que é isso mesmo que nos acontece (a todos nós) na transição de
cada ano. Quando entramos em dezembro, já exaustos e frustrados por tudo aquilo
que não realizamos até ali, passamos a ansiar o novo ano, as novas metas, a
página em branco para podermos escrever tudo aquilo que desejamos.
A renovação da esperança é essencial para o bom funcionamento da nossa vida em
sociedade. Acontece que muitas vezes nesse novo ciclo nos propomos a muitas
coisas, fazemos mil e uma resoluções e promessas - seja na área que for, da
saúde à carreira, nos prometemos que esse ano faremos diferente para conseguir
os resultados que desejamos - só para nos decepcionarmos pouco tempo depois,
pela dificuldade da tarefa à nossa frente...
E, claro, os gurus do empreendedorismo e do desenvolvimento pessoal dirão que o
problema é nossa falta de foco ou de produtividade e nos indicarão uma porção
de livros, cursos e programas para que melhoremos nossa performance. Mas eu
tenho outra sugestão: que cada um de nós comece pelo nosso porquê.
O escritor e palestrante Simon Sinek, autor do livro "Comece pelo
porquê", explica qual o benefício de se fazer esse processo: nós nos
conectamos com o motivo para se fazer algo e não com a atividade em si.
Ele criou uma ferramenta, que chamou de Golden Circle (ou Círculo Dourado, em
português), que consiste em três círculos concêntricos, o mais interno sendo
aquele que representa o "porquê"; o do meio, o "como"; e o
mais externo, o "o quê". Toda a explicação do Simon é baseada em
empresas e no seu sucesso, mas queria pedir a sua licença para fazer um paralelo
com a vida e o planejamento de ações.
Todos nós sabemos "o que" temos que fazer - perder peso, aprender
inglês, reduzir a ansiedade - e alguns de nós inclusive sabem "como"
fazer isso - fazer exercício três vezes por semana, começar um curso intensivo
de conversação, começar a meditar diariamente. O que quase ninguém pára para
pensar e realmente definir é "porque" fazer isso que queremos fazer.
Por que é relevante para a sua vida (e o seu ano) perder peso, aprender inglês
ou reduzir a sua ansiedade? E enquanto não sabemos a razão da existência de
algo, aquilo não se conecta com a nossa alma, e terminamos por abandonar a
tarefa.
Ah, quer dizer então que é só escrever um motivo para fazer cada coisa que
queremos fazer, que então o sucesso é garantido? Não. Não se trata de apenas
racionalizar uma explicação, mas sim de entender se (e como) aquela ação tem a
ver com o que você acredita.
Não entendeu? Vou usar um exemplo para explicar melhor: vamos supor que desde
pequeno você tenha ouvido que falar inglês é importante para ter sucesso. Por
conta disso, todo ano você coloca a linha "aprender inglês pra valer"
na sua lista de resoluções. Acontece que você nunca usou o inglês no trabalho e
não tem o sonho de morar fora. No fundo, você não acredita genuinamente que
você seria mais bem-sucedido se falasse inglês. Você, na verdade, tem a
convicção de que você avançaria na carreira se você conhecesse mais pessoas
influentes e assim tivesse mais oportunidades de mostrar suas habilidades
profissionais.
Se você tivesse a crença do exemplo acima, você acabaria tendo grandes
dificuldades para cumprir sua promessa e se dedicar para aprender a língua.
Essa tarefa simplesmente acabaria por perder prioridade, já que ela não teria
real conexão com aquilo que você crê.
Agora, suponhamos que você acreditasse que quem fala inglês é mais inteligente
e tem horizontes mais amplos, mesmo que não use o idioma no trabalho. Ou que
você julgasse que quem consegue viajar e se comunicar na língua local é mais
feliz. Não pareceria mais fácil aprender inglês com essa crença? Com certeza
sim.
Sendo assim, comece hoje. O recomeço do ano já aconteceu, mas pode ser que o
seu ainda não. Ainda é tempo de refletirmos a respeito dos seus porquês, das
coisas em que você acredita com paixão; e a partir daí definir suas metas e
partir para a ação.
Afinal, como diria Simon Sinek, o sucesso começa com a clareza da motivação -
seu porquê - continua com a disciplina da execução - seu como - até chegar à
consistência do resultado - seu o quê.
Ju Ferreira - palestrante e mentora,
criadora da metodologia Alquimia Pessoal, executiva de uma empresa de TI há 17
anos. Mais informações em www.juferreira.com.br
e www.alquimiapessoal.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário