• Com o
compartilhamento de dados, bancos terão novos concorrentes, como varejo e
telecom, mas, se forem rápidos, poderão gerar receita com esses
compartilhamentos
• Por investirem em
inovação e terem informações dos clientes, os bancos poderão manter seu
posicionamento frente aos novos entrantes
Em 1º de fevereiro,
entrou em vigor no Brasil a primeira fase do Open Banking, movimento
liderado pelo Banco Central que prevê o compartilhamento organizado e seguro de
dados de produtos, serviços e taxas entre bancos e outras instituições
financeiras e de pagamentos. Segundo um estudo da Capco, consultoria global de
gestão e tecnologia que atuou na implantação do Open Banking em países como Reino
Unido, Austrália e México, é fato que a concorrência entre os bancos
brasileiros e outras instituições vai aumentar. Porém, há um grande potencial
para que os bancos também usem seus dados e a tecnologia para gerar novas
receitas nesse ambiente. E para isso, há vários modelos que poderão aplicar,
incluindo parcerias com as instituições que tiverem acesso a seus dados.
No estudo "O
futuro do Open Banking: como monetizar as APIs de seu banco", que
aborda as finanças abertas no Brasil, a Capco afirma que conseguir as
oportunidades certas rapidamente permitirá aos bancos aumentarem suas receitas
através da produção e monetização de vários serviços bancários relevantes. Para
isso, poderão usar as chamadas APIs (Interface de Programação de Aplicações, em
português), que conectam sistemas, softwares e aplicativos. Um aplicativo de
trânsito pode usar a API do Google Maps, por exemplo, para ter informações
sobre as ruas onde os motoristas devem passar. Da mesma forma, um banco poderá
disponibilizar APIs para que fintechs, por exemplo, criem serviços que acessam
de forma rápida e segura informações que estão nos bancos.
"Produzir
tecnologias com base em APIs permite às empresas não apenas monetizarem suas
funcionalidades de negócio, mas também atingirem mais mercados investindo menos
e se diversificando mais rapidamente. O uso de informações fornecidas pelas
APIs permitirá que desenvolvedores de soluções tornem suas aplicações mais
abrangentes e abertas a personalizações rápidas a cada negócio. Se não
aproveitarem o potencial desse novo ambiente ou não satisfizerem suas
necessidades básicas, os bancos estarão mais suscetíveis à disrupção", diz
Luciano Sobral, diretor executivo da Capco Brasil.
Além de gerarem novos
negócios para os bancos, as APIs podem criar uma dinâmica diferente no mercado.
Isso porque há processos de grande atrito na cadeia de valor bancária atual,
que demandam um grande esforço em troca de baixos retornos, como a interface
com cliente. Portanto, poderão ser compartilhados com empresas concorrentes,
terceirizados para startups de serviços compartilhados ou adquiridos já prontos
como APIs e incorporados a operações existentes com um custo mínimo.
"O Open Banking
continua e acelera uma tendência observada há algumas décadas no exterior e que
está se tornando cada vez mais viável com novas tecnologias sendo
disponibilizadas ao mercado sob a forma de serviços. Ele está mudando
fundamentalmente nossas plataformas centrais onde os dados e transações são
hospedados e processados: várias organizações têm usado a regulamentação como
alavanca para melhorarem seus sistemas e comunicarem-se melhor umas com as
outras. A regulamentação de Open Banking impulsionou investimentos para
melhorar o acesso às plataformas e sua utilização. Portanto, teve efeitos que foram
além das APIs disponíveis publicamente. E a mudança é profunda", completa
o diretor executivo da Capco Brasil.
A segunda fase do Open
Banking deverá ser implantada em 15 de julho, quando clientes poderão liberar
que empresas de sua preferência acessem seus dados financeiros. A partir de 30
de agosto, terceiros poderão iniciar a operação de pagamentos e de
encaminhamento de proposta de operação de crédito. E em 15 de dezembro isso
passa a ser possível também para outros produtos como seguros, investimentos e
câmbio.
Em sua análise, a
Capco identificou as seguintes formas dos bancos monetizarem seus APIs:
MODELO COM BASE EM
TRANSAÇÕES: Modelos com base em transações são semelhantes a serviços
bancários tradicionais. A principal diferença no contexto de APIs é a forma com
que empresas como PayPal e Stripe permitem que terceiros integrem e utilizem
seus serviços por meio de APIs plug-and-play (ligar e usar). Isso
permite que empresas como as citadas acima alcancem públicos maiores e gerem
maiores volumes de transação para seus serviços. Esse modelo pressupõe que a
API está sendo chamada para concluir algum tipo de transação, como pagar uma
conta ou transferir dinheiro. Uma taxa é cobrada quando a transação é
concluída.
MODELO POR CHAMADA: Cobrança por chamada
é o modelo de monetização mais direto, no qual os terceiros pagam todas as
vezes que a API é usada. Para ter sucesso com esse modelo, o serviço por trás
da API precisa oferecer uma proposta de valor clara. Antes de organizar um
modelo de monetização direta, os bancos devem consultar seus clientes para
descobrir se eles estariam dispostos a pagar pelo serviço e quanto estariam
dispostos a pagar. Por exemplo, o preço padrão por consulta de APIs do Watson
da IBM é US﹩ 0,0025. Esse modelo
difere do modelo com base em transações no sentido em que toda chamada para a
API é passível de cobrança e pode ou não estar ligada a operações
transacionais.
MODELO COM BASE EM
ASSINATURAS: Modelos com base em assinaturas para acesso a APIs podem ser
fixos ou dinâmicos. O modelo fixo é direto e oferece acesso completo a APIs por
um valor mensal fixo. A abordagem de pagamento por consumo (pay-as-you-go)
é mais dinâmica e o preço é determinado por uso medido. Por exemplo, o preço
pelo uso de uma plataforma de computação em nuvem poderia ser estabelecido por
hora pelo sistema operacional e tamanho da plataforma. Outro modelo de
assinatura dinâmica é o modelo por níveis (layers). Os desenvolvedores
fazem uma assinatura e pagam por um nível de uso específico, com base no número
de chamadas de APIs por um período de tempo fixo. Embora o custo aumente por
nível, o custo por chamada de API geralmente cai. Por exemplo, a Vertical
Resources (empresa de process-as-a service) usa o modelo de negócios por
nível. Os preços por uso caem com o consumo de maiores volumes de chamadas de
APIs e os usuários podem ajustar seu nível com base em uma análise do uso ao
longo de determinado período. Poderia haver o upgrade automático da
assinatura para o próximo nível se os desenvolvedores quiserem continuar usando
o serviço de APIs após tiverem atingido seus limites de assinatura.
MODELO FREEMIUM: Freemium é um bom começo
para donos de APIs e desenvolvedores terceiros curiosos se conectarem e
explorarem. Ele pode servir como um ponto de partida para alternativas com base
em assinaturas ou em cobranças por chamadas de APIs. Nesse modelo, as empresas
oferecem aos desenvolvedores algumas capacidades de suas APIs de graça e cobram
por funcionalidades adicionais. Por exemplo, um serviço de mapeamento da web
poderia permitir fazer um número baixo de chamadas para as APIs de graça e
cobrar por chamadas acima de determinado limite. Como um motivador para
adquirir um pacote melhor, os provedores poderiam oferecer acesso aprimorado às
APIs para assinantes premium (o que permitiria que usuários finais
customizassem sua experiência e fluxo de trabalho, por exemplo).
MODELO COM BASE EM
CRESCIMENTO DAS RECEITAS: Aumento de receitas é um conceito estratégico para os bancos
que abrirão suas APIs para terceiros. Muitas fintechs buscam parcerias
com bancos para proporcionar uma infraestrutura financeira central para novos
produtos e serviços. Isso poderia beneficiar os bancos, aumentando os ativos
sob gestão e oferecendo depósitos para exigências de capital. Isso também pode
significar margens de juros adicionais que envolvem crédito. Esse modelo seria
semelhante à forma com que o Fidor Bank oferece, a terceiros, serviços
bancários no modelo white label .
MODELO DE
COMPARTILHAMENTO DE RECEITA: Compartilhamento de receita é uma opção que
incentiva a inovação aberta e a cocriação com terceiros. Nesse modelo, é
geralmente o terceiro que é pago com base na popularidade da sua aplicação. Um
modelo de compartilhamento de receita oferece incentivos tanto para os donos da
APIs quanto para os terceiros e deve também oferecer incentivos adicionais para
escalabilidade. Isso funciona melhor com produtos ou serviços que tenham
tarifas mensais ou anuais. Parte dessas tarifas seriam pagas ao terceiro por
elementos como aquisição de cartão de crédito, contratação de apólices de
seguros, etc.
MODELO COM BASE EM
RESTITUIÇÃO: Restituições ou cashback também podem ser usados por
APIs que têm uma tarifa de transação geradora de receita cobrada do usuário
final, por exemplo, APIs abertas para negociar ações e processar pagamentos. Os
bancos podem escolher repassar parte da tarifa ao consumidor. Em áreas como
pagamentos, onde a competição por volumes é alta, oferecer a opção de cashback
pelo uso de uma API específica pode ser um bom incentivo. Varejistas podem
também associar cupons de descontos ou cashback para compras feitas por
meio de APIs de uma rede de pagamentos específica.
O futuro nos
mostrará qual modelo será o mais bem sucedido ou mesmo se novos modelos surgirão.
Porém, a única certeza é que o Open Banking, junto com outras implementações
como o PIX, mudarão o cenário financeiro brasileiro nos próximos anos.
Capco
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