Sempre
ouvi as pessoas dizerem que as casas legislativas vão piorando em qualidade de seus
membros a cada eleição. Ouvia isso logo depois que deixei os três mandatos
consecutivos de vereador em minha cidade, mas nunca levei a sério. Não há de
ver que a sabedoria popular mais uma vez provou estar certa?
No final do ano passado, em levantamento feito
pelo Datafolha (Folha de S. Paulo 06.12.17), verificou-se que 60% dos
entrevistados consideraram ruim ou péssima a atual legislatura do Congresso
Nacional. Em setembro de 1993, no auge da crise inflacionária aliada ao
escândalo dos “anões do Orçamento” esse percentual de rejeição estava em 56%.
Não só a rejeição subiu, como a aprovação caiu para 5%, o pior percentual já
registrado até então.
Levemos em conta que
o levantamento do Datafolha foi feito pouco depois que a Câmara dos Deputados
impediu a tramitação da segunda denúncia criminal contra o Presidente Temer. Os
dados nos dão conta que a atual legislatura é, na média, a mais mal avaliada.
Por
outro lado, foi divulgada recentemente uma pesquisa pela consultoria Ideia Big
Data, encomendada pelo Brazil Institute/Wilson Center (Estadão 20.01.18), onde
84% das pessoas disseram discordar da afirmação de que “o Congresso representa
o povo brasileiro”.
Já disse em artigo
anterior que, dentre os 137 países avaliados no Índice de Competitividade
Global pelo Fórum Econômico Mundial de Davos, o Brasil está em último lugar
quanto à confiabilidade do povo nos políticos.
É certo que desde
junho de 2013 escancarou-se a crise de representatividade, porém, dez anos antes
– em 1993 - com o escândalo a que me referi acima (“anões do Orçamento”) essa
insatisfação já se mostrava evidente. Mas, foi com a operação Lava-Jato que as
entranhas da corrupção vieram à tona, mostrando entre outras coisas como
funciona o balcão de negociatas de compra e venda de votos, leis e medidas
provisórias. A cada dia, mais envolvidos. Uma vergonha nacional!
Lembremos que com a
Lava-Jato os dois últimos presidentes da Câmara estão no xadrez. Seus três
antecessores respondem à inquéritos por suspeita de corrupção e o atual
presidente é investigado no STF. Em situação idêntica está o presidente do
Senado e outros seis que já foram seus presidentes.
É muito comum ouvir
pessoas dizendo “esse Congresso não me representa”, ou que “o Temer não me representa”.
Não é bem assim, pois foram votados livremente pelos eleitores. Então, se
existe “pior Congresso”, também há parcela de culpa dos eleitores que os
colocaram lá! É hora de pensar nisso!
A mesma pesquisa
citada anteriormente (Ideia Big Data) revelou que a maioria da população – 79%
dos eleitores, não se lembra em quem votou na última eleição para deputado e
para senador. Você, caro leitor, já fez esse teste? Pergunte a dez pessoas em
quem elas votaram para deputado na última eleição. Você vai se assustar. Poucos
vão se lembrar!
Os deputados
(federais e estaduais), e porque não dizer vereadores também, estão muito
preocupados em homenagens ao invés de se debruçarem sobre os problemas reais
que a população vive. Eles usam esse expediente – homenagear pessoas,
entidades, cidades... pois isso lhes traz dividendos políticos em todos os
sentidos. Em ano eleitoral, essas homenagens aumentam e são muito evidentes.
Não podemos dizer que
os deputados federais, estaduais, vereadores, senadores, não nos representam.
Vivemos sim, uma crise de representatividade por culpa dos políticos, que se
distanciam dos eleitores nos três anos e meio em que se esquecem das eleições,
mas temos também que atribuir aos eleitores o descaso na hora de escolher seus
representantes. O eleitor vota e depois não acompanha o trabalho do seu
representante.
Os políticos nos
representam sim, não só com base na Constituição Federal, mas na essência. A
casa legislativa, seja ela qual for, é o reflexo da sociedade.
Só de quatro em
quatro anos podemos mudar isso. É agora, em outubro. Vamos ver!
É hora de deixarmos
de ter o pior Congresso!
Gilson
Alberto Novaes - professor de direito
eleitoral na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie
campus Campinas, onde é diretor do Centro de Ciências e Tecnologia.
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