Uma agenda cheia, muitas
cobranças. A mulher assumiu na modernidade o posto de multitarefas, no qual ela
precisa fazer tudo ao mesmo tempo. E não é somente gerenciando a vida pessoal e
familiar, com seus inúmeros afazeres, mas o mercado de trabalho também tem se
voltado para profissionais que executam várias atividades simultaneamente.
Mas até que ponto isso pode
deixar de ser uma questão de diversidade de escolhas e ser uma armadilha para a
qualidade de vida? Segundo a psicóloga Lia Clertot, o excesso de atividades que
a mulher tem hoje pode ser prejudicial a partir do momento em que ela se exige
a perfeição. "No campo profissional, a alta competitividade do mercado faz
com que ela precise se superar o tempo inteiro, seja a melhor. Já na vida
pessoal, amorosa e familiar, pode haver o sentimento de culpa por não ter tanto
tempo disponível como gostaria”, explica.
Um
estudo da Bar-Ilan University, em Israel, em parceria com a Michigan
StateUniversity, nos Estados Unidos, mostrou que as mulheres chegam a trabalhar
até 10 horas a mais que os homens em tarefas simultâneas. De acordo com a
psicóloga, essas atividades vão desde cuidar dos filhos enquanto prepara o
jantar e lava a louça, atender a um chamado do chefe enquanto faz compras para
a casa. Além disso, elas estão sempre com a tecnologia à mão, muitas vezes,
está no trabalho em contato com os filhos ou em casa de olho no e-mail
corporativo.
Antigamente
esperava-se que a mulher fosse boa mãe e esposa. Hoje, a normatividade social
exige que ela estude, construa uma carreira de destaque, case-se e tenha
filhos. Por outro lado, esses valores da mulher super eficiente foi tão
arraigado que ela se sente bem e na obrigação de ser multitarefas. “O que
precisamos explicar para as pessoas é que é possível conciliar tudo sem a
ditadura da excelência. Ninguém consegue abraçar o mundo!”, alerta a psicóloga.
Ainda
segundo Lia, outra questão importante, são os problemas para a saúde física e
mental e frequentemente as pessoas multitarefas sofrem de déficit cognitivo, ou
seja, têm menor capacidade de selecionar informações irrelevantes e prestar
atenção, tendo um pior gerenciamento de memória. Acaba faltando foco neste
padrão de vida. Além disso, ela conta que a pressão pessoal tende a aumentar
consideravelmente, o que pode levar à estafa física, stress, insônia,
surgimento de doenças psicossomáticas e transtornos psicológicos.
Com
tudo isso vem a blindagem. O nível de exigência cresce ao ponto delas não
aceitarem ajuda com receio das atividades não serem tão bem executadas
“Acontece muito de o companheiro querer ajudar ou desistir de tomar iniciativa
porque ela acredita que ninguém pode cuidar do filho ou da casa tão bem como
ela. Ou ainda, que essa é sua obrigação exclusiva. Com os afazeres domésticos,
pode não delegar ajuda aos filhos ou, quando o faz, corrige tudo porque não
ficou como gostaria”, ressalta a especialista. Para a psicóloga, enquanto a
mulher não permitir o suporte daqueles que a rodeiam, ela continuará acumulando
responsabilidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário