Na encruzilhada, vemos frangos
de macumba e outras ilusões. Presidencialismo, tempos de optar por uma pessoa,
cheia de problemas biológicos, intelectuais e de fraquezas morais, que nos
conduzirá durante longos anos. Não seremos governados por uma equipe, quando se
estimula os trabalhos escolares feitos por uma equipe, em que ninguém
preside e os demais são ministros.
Posta essa erronia
inevitável de nosso modelo político, vamos lá. O homem, ou mulher, precisam ver
além do próprio nariz. Em outras palavras, sua percepção precisa transcender o
círculo dos amigos, familiares, correligionários, membros de sua seita. Deve
ser crítico, independente, altivo e corajoso. Temos essa figura? Poderemos
tê-la e avaliar a questão oportunamente. Depois da campanha eleitoral. Ou para
quê as campanhas?
Nada mais falso, nas
pesquisas, que o quadro dos indecisos. Passa a imagem do homem cru,
incivilizado, despolitizado. As inteligências maiores, que já se decidiram,
referem-se aos "indecisos" com essas não-qualidades. O inteligente e
preparado eleitor já sabe como fará. Fará errado. Manterá o País no lodo. Tem
rejeição. Muitas mulheres das mulheres, muitos negros dos negros. E basta. Está
rejeitado. Talvez por uma notícia vista em nossa "grande" imprensa.
Que tal compararmos suas qualidades com a do El País, por exemplo, onde os
fatos são investigados a fundo, não são cores e amostragens de apartamentos.
Só não muda de opinião o
burro amarrado à frente da Igreja. Se vários candidatos se apresentarão à nossa
avaliação, como julgá-los antes da exposição de suas ideias? Como ter um
conceito adiantado? Isso não é conceito, é preconceito. A campanha
eleitoral não se iniciou, e o eleitorado já julgou, segundo as malfadadas
pesquisas. Apresentadores de televisão são nossos Trumps, a maior desgraça que
já recaiu sobre o mundo.
Sofremos porque concordamos
em viver num mundo de imagens mentirosas, como dizia Platão e repetiu Arthur
Schopenhauer, não o filósofo do pior dos mundos entre os possíveis, mas o
descritor da realidade. Dentre as maiores mentiras, o culto a uma personalidade
monotemática, rebarbativa. De tanto ser reproduzido, seu discurso é verdadeiro,
e muitos seguem essa verdade. A pior eternidade que pode nos aguardar será um
mundo mentiroso como este; não necessariamente mentiroso, mas no qual os homens
não conseguem atingir um patamar crítico e, consequentemente, libertador.
Por que não construirmos
nossa realidade política dia a dia, antes e depois das eleições. Ou somos como
as vacas de Nietzsche, que a todas as manhãs e tardes estão rigorosamente
estacionadas na mesma posição, até o sacrifício final?
Por que não reconsiderarmos,
hoje, o que foi dito ontem, porque os fatos são outros? Não deve assim agir o
bom juiz?
Sofremos porquanto vivemos
estagnados no brejo das mentiras, nossas e alheias. A ética se resume a não
corromper? É ético erguer à Presidência um indivíduo despreparado, que pouco
conhece da Polis, seja ou não político, em sentido lato?
O governante mandante e
isolado - o futuro, se houver, rirá disso - deve, no mínimo, ter experiência e
governar com o cérebro, não com o fígado. E, obviamente, passar no Exame de
Ética. O resto é imprestável. Novidade, experiência de cobaia, num País que
sempre foi politicamente amador, salvo alguns intelectualmente privilegiados do
passado, é um erro incomensurável. O culto à personalidade já levou a grandes
fomes; só serviu ao cultuado, rodeado de benesses, boas comidas, mordomias e
muitas mulheres. A história está aí, não apenas para ser vista, mas para não
ser repetida.
Amadeu Garrido de
Paula - advogado, sócio do Escritório Garrido de
Paula Advogados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário