O
Brasil – e, principalmente, sua elite política incrustada nos cargos públicos –
é incansável na sina de trazer de volta ideias que, a par de serem
completamente ilógicas e irracionais, já foram testadas e não deram certo.
Entre as doenças econômicas, de alto efeito deletério sobre o organismo social,
que sempre retornam como propostas de solução para os graves problemas
nacionais, quatro se destacam. Roberto Campos as chamava de “deformações
culturais”, entranhadas nas estruturas de poder e nas elites intelectuais, e
ele as combatia tenazmente.
A
primeira: o nacionalismo, que rejeita investimentos externos, reduz a absorção
de tecnologias e afugenta o empresário internacional. Por essa via, criam-se
leis dificultando a absorção de capitais e a vinda de empresários estrangeiros,
supostamente por medo de empobrecerem a nação. Afora a questão da propriedade
da terra – que é um capital fixo, não multiplicável, portanto passível de
restrição –, continuamos com medo de abrir a economia para investimentos
internacionais em várias áreas, como energia, aviação, bancos, portos e
educação.
A
segunda: o populismo, esporte preferido dos políticos, pelo qual prometem
distribuir riquezas (dos outros) antes mesmo de produzi-las. Gastar o dinheiro
dos outros é um esporte delicioso, principalmente quando dá votos e mantém o
demagogo no poder para seguir gastando o dinheiro do trabalho alheio. Os
sindicatos e as corporações burocráticas, com raras exceções, transformaram em
direito adquirido benesses concedidas por décadas de populismo e não aceitam
abrir mão de nada, mesmo na maior da crise da história, sem preocupação com
quebradeira dos municípios, estados e União.
A
terceira: o estatismo, doença que leva o Estado a fazer mais do que tem
condições na economia e menos na área social, além de cobrir as estatais de
proteção contra a concorrência e garantir sua existência mesmo sob crônica
ineficiência e corrupção. Aí estão os exemplos das estatais de petróleo, gás,
energia, infraestrutura e transportes que, protegidas por monopólios ou
reservas, castigam o consumidor e o contribuinte. Inexplicavelmente, o governo
rejeita investimentos privados, enquanto se endivida para capitalizar essas
empresas e compromete os orçamentos futuros.
A
quarta: o protecionismo, que leva o governo a distribuir farta proteção contra
a competição e contra a entrada do produto estrangeiro, tolhendo o direito de
escolha do consumidor, que tem de pagar mais caro por produtos de pior
qualidade. Quando uma cidade com população crescente mantém a mesma frota de
táxi de 30 anos atrás por meio da negação de novas licenças, quem sofre é o
consumidor, não os burocratas; eles não sofrem as agruras da escassez de frota.
E, se a população inventar uma saída engenhosa contra a burocracia estatal, o ofertante
do serviço é tratado como criminoso.
A
sobrevivência dos “ismos” é doença crônica no Brasil, mantida incurável sob
pressão dos grupos de interesse e de políticos que dela se beneficiam. Alguns,
por falta de conhecimento ou má fé, até acreditam que esses “ismos” sejam úteis
para promoção do progresso, mesmo que os fatos os contrariem. Um pouco de
estudo e algumas viagens pelos países desenvolvidos serviria para revelar que o
nacionalismo, o populismo, o estatismo e o protecionismo são práticas nocivas e
prejudiciais ao crescimento econômico e ao desenvolvimento social.
José Pio Martins - economista, é reitor da Universidade Positivo.
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