Para
reverter esse quadro, empresas estão quebrando paradigmas
Os números não são novos e nem impressionam:
conforme Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2016,
as mulheres ocupam apenas 20% das posições de trabalho na área de tecnologia no
Brasil – e a média mundial também não difere muito. A baixa porcentagem não é
pela falta de familiaridade ou uso de dispositivos eletrônicos, já que elas
representam 48% dos usuários de jogos em computadores e videogames, segundo a
Entertainment Software Association, e já compram mais on-line do que os homens,
conforme pesquisa realizada pela Ebit. Então, o que leva a essa desigualdade em
pleno século XXI, momento em que o empoderamento feminino está em alta?
A resposta é simples, mas acaba reforçando que
alguns dos padrões já deveriam ser extintos no mercado de trabalho. O primeiro
fator que influencia esse cenário é cultural. Nas últimas décadas, enquanto
meninos eram estimulados a desafios, as meninas eram incentivadas a atividades
mais cotidianas, tornando a tecnologia um ser estranho para elas. Em seguida, o
sexismo velado do mercado de trabalho e a atuação em uma área competitiva.
Ainda hoje, a possibilidade de ter filhos é vista por alguns como incapacidade
de dedicação, e o fato de não fazer parte do “clube do bolinha”, motivo para
dúvidas sobre desempenho.
Mas, como fazer com que esse cenário seja
realmente parte do passado? Segundo a analista de sistemas do Instituto das
Cidades Inteligentes (ICI), Mariane Ramalho de Carvalho, 31 anos, é importante
que o contato com a tecnologia seja incentivado desde a infância, tornando-se
uma rotina. No caso dela, isso ajudou: aos 10 anos de idade ela passou a se
interessar pela área, quando sua mãe comprou um computador. “Eu digitava
trabalhos e, em seguida, aprendi a programar em VBA para manter histórico de
meus clientes. Foi assim que eu me apaixonei pela área de programação e por
computadores”, destaca. Quando chegou a hora de ir para a faculdade, ela não
teve dúvidas e optou por cursar Sistemas de Informação na Faculdade de
Educação, Administração e Tecnologia de Ibaiti (PR).
A conquista do primeiro emprego foi facilitada
porque Mariane recebeu a indicação de uma professora, mas os primeiros anos de
trabalho, nos quais era um “faz tudo” na parte de tecnologia da informação, não
foram fáceis. “No início, parece que as pessoas têm uma certa desconfiança,
como se questionassem o tempo inteiro o trabalho efetuado por mulheres”,
comenta. Mesmo com as dificuldades, ela nunca pensou em desistir, mas confessa
que teve que adotar uma postura mais objetiva e autoritária para conquistar seu
espaço. Sobre o assunto, ela ainda diz: “Já vejo uma melhora na maneira como as
mulheres são tratadas. Porém, ainda é necessário provar para muita gente que
somos boas no que fazemos”.
Poucas profissionais no mercado, poucas
contratações
O problema do número escasso de profissionais
femininas aptas a trabalhar com tecnologia começa na universidade. Por exemplo,
no último vestibular da Universidade Positivo, apenas 12% das inscrições para
os cursos de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Gestão de Tecnologia da
Informação e Sistemas de Informação eram de mulheres. Sobre o assunto, a
analista de Recursos Humanos do ICI, Maysa Gonçalves de Souza, comenta: “Em
geral, os homens se interessam mais cedo pela tecnologia e apresentam uma
vivência maior com programação e, consequentemente, um nível maior de
conhecimento. Acredito que no futuro conseguiremos equilibrar esse cenário, mas
ainda levará algum tempo até que haja um número suficiente de mulheres nesse
mercado”. A analista ainda destaca que a empresa tem a intenção de contratar
mais mulheres para posições técnicas. Entretanto, recebem poucas candidaturas
quando há alguma oportunidade, o que dificulta atingir o objetivo.
Para compensar a falta feminina em posições
mais técnicas, a aposta tem sido em equilibrar o gênero de seus colaboradores
como um todo. No ICI, por exemplo, as mulheres já ocupam 42,75% das posições.
“Buscamos inserir as mulheres no ambiente de TI em posições de análise e
acompanhamento de dados técnicos, para, desse modo despertá-las para esse
viés”, comenta Maysa. “Ainda temos um grande caminho a ser percorrido, mas esse
tipo de ação já aproxima as mulheres à tecnologia, sendo um grande passo”,
completa .
E como mudar esse quadro? Incentivo. Empresas
como Microsoft e Google possuem programas gratuitos voltados para o sexo
feminino, disponíveis on-line e adaptados para o português. Também há
iniciativas como a rede TechLadies e o PrograMaria, que visam conectar mulheres
que se interessam por tecnologia, além de compartilhar conhecimentos sobre o
assunto. O que falta é apenas as famílias aprenderem que programar é, sim,
brincadeira de menina – e que pode virar profissão.
ICI – Instituto das Cidades Inteligentes
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