Nos
últimos dias, chegou ao conhecimento da população por meio da imprensa uma
prática, infelizmente, bem comum entre as instituições de saúde – e conhecidas
pelo meio. O sistema privado de saúde no Brasil remunera médicos pela
quantidade de procedimentos – o famoso “fee
for service” – e não pela qualidade no atendimento. Isso significa,
na prática, ganhar mais a cada exame, internação e procedimento prescrito ao
paciente. Casos em que médicos prolongavam uma internação ou pediam exames
desnecessários apenas para ganhar mais dinheiro vieram à tona. Além disso, o
foco desta remuneração está na doença – e não na prevenção. O resultado – a
saúde do paciente – não é levada em conta: apenas o meio, que pode ser um
caminho mais longo e menos eficaz. Todos perdem: pacientes, planos de saúde e o
sistema como um todo.
O
impacto econômico também é enorme. Estudo produzido pelo Instituto de Estudos
de Saúde Suplementar (IESS) estima que R$ 22,5 bilhões dos gastos de operadoras
de planos de saúde no país em 2015 foram desperdiçados, consequência de fraudes
e procedimentos desnecessários. Este número representa 19% do total de despesas
das operadoras, que somaram R$ 117,24 bilhões. O IESS identificou ainda que 18%
das contas hospitalares apresentam itens indevidos e entre 25% e 40% dos exames
laboratoriais não são necessários. Isso encarece o custo dos tratamentos e,
consequentemente, o preço final dos planos de saúde.
Remunerar
médicos pela qualidade do atendimento e pela saúde do paciente parece utópico,
mas não é. Um dos principais caminhos são os chamados protocolos de
tratamento. Baseados em guidelines
internacionais, diretrizes do Conselho Federal de Medicina e das sociedades e
associações médicas, os protocolos indicam com base científica quais
procedimentos recomendados em cada doença. Os documentos ajudam a guiar a
conduta e monitorar a atuação do médico.
O
intuito não é tirar a autonomia do profissional. O especialista pode e deve
sugerir um novo procedimento caso seja necessário, justificando sua decisão:
por que este paciente precisa deste exame? Por que pulou esta etapa no
tratamento? Assim como todos os profissionais, os médicos devem prestar contas
das suas decisões.
Na
prática, a melhor forma de fazer com que os protocolos sejam seguidos é com a
tecnologia. Com um sistema de gestão integrado, é possível fazer o
gerenciamento do grau de assiduidade e cumprimento por parte dos médicos para
cada protocolo. Quando o profissional solicita exames que fogem à regra, o
sistema alerta e pede a justificativa.
Com
este controle, a premissa da remuneração do médico passa a ser a qualidade. No
CECAM, por exemplo, rede de clínicas de saúde na qual sou CEO, a remuneração do
médico se baseia em valores fixos de consultas, mais a remuneração variável de
acordo com o grau de assiduidade e cumprimento dos protocolos. Quanto
mais o médico segue, mais ele recebe no fim do mês. Se o especialista não
cumprir o protocolo e a justificativa não for aceita pelo conselho, ele perde a
remuneração variável.
Outra
preocupação é informar o paciente. No aplicativo da instituição, os usuários
têm acesso aos protocolos de tratamento e podem consultar sobre a conduta do
médico. O aplicativo contém o passo a passo de cada doença que tratamos.
O
resultado é a assistência médica integral ao paciente – com eficácia no
tratamento baseada em dados científicos - sem onerar as operadoras de saúde,
empresas e o próprio paciente.
E
tem mais: com a tecnologia, é possível gerir e cultivar dados epidemiológicos,
que indicam às operadoras de saúde quais os Programas de Incentivo à Saúde são
mais importantes para aquela população, impulsionando, consequentemente, mais
investimentos nesta área.
Dr.
Anis Ghattas Mitri Filho – CEO da Rede de Clínicas CECAM (www.clinicacecam.com.br) –
cardiologista pelo Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo e UNIFESP/EPM,
mestre em Terapia Intensiva e possui especialização em Gestão de Clínicas e
Hospitais pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
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