Neurocirurgião explica a relação entre a
Microcefalia e o Zika Vírus, causado pelo mosquito Aedes aegypti. Brasil vive surto
da doença que tem apavorado gestantes
Um
mosquitinho tem causado pânico no Brasil. O Aedes aegypti, conhecido antes por transmitir apenas a dengue, entrou no
hall dos inimigos da saúde pública do país com a descoberta do vírus Zika,
tendo o primeiro caso confirmado em maio de 2015, e sua relação com a
microcefalia.
Recentemente, o Centers for Disease Control
(entidade do governo Norte-Americano) testou amostras do tecido de dois fetos
abortados espontaneamente e de dois bebês com microcefalia confirmada que
faleceram logo após o parto. Todos os quatro casos eram originários do Brasil e
tiveram testes positivos para a presença do Zika vírus, o que demonstra que
foram infectados durante a gravidez. As quatro mães relataram a presença de febre
associada com alterações de pele durante a gestação.
Já um artigo publicado no New England Journal of
Medicine, em 10 de fevereiro de 2016, pesquisadores relataram o achado de
material genético do Zika vírus em tecido cerebral de feto com malformação diagnosticada
intra útero. A mãe era uma eslovena que morava no Brasil, havia tido sintomas
sugestivos de infecção pelo Zika ao final do primeiro trimestre da gravidez e
que teve as malformações fetais diagnosticadas no ultrassom da 29ª semana de
gestação. Ao retornar ao seu país de origem, solicitou autorização para
abortar, que foi consentido pelas autoridades de saúde daquele país, com o
posterior estudo. Até o momento, este é o indício mais relevante da relação
entre o vírus e as malformações do sistema nervoso.
“Esses indícios até o momento foram o suficiente
para que entidades como a Organização Mundial de Saúde se manifestassem dizendo
que a disseminação do Zika vírus é explosiva e que ele é associado a
complicações que justificam a decretação de uma situação de emergência em saúde
pública de atenção internacional”, alerta Dr Marcelo Prudente do Espírito
Santo, neurocirurgião do Hospital Santa Catarina e diretor do Instituto de
Neurocirurgia Minimamente Invasiva.
De
acordo com o especialista, o Ministério da Saúde define como microcefalia o
crânio com perímetro menor que 32 cm. Como o crescimento craniano é
conseqüência do desenvolvimento e aumento do volume do tecido cerebral, o
diagnóstico de microcefalia infere a presença de um cérebro malformado e de
volume menor. “Portanto, a microcefalia é resultado do desenvolvimento anormal
do cérebro no feto”, pontua Dr Marcelo.
Além
das infecções congênitas (intra útero), a microcefalia está relacionada a
doenças genéticas, exposição da gestante a drogas, álcool e outras toxinas
ambientais. As conseqüências de longo prazo variam de acordo com a causa e
severidade da exposição, podendo ocorrer desde atrasos sutis no desenvolvimento
da criança, até déficits motores e intelectuais graves. Em um estudo de 212 crianças
com diagnóstico confirmado de microcefalia, o QI diminuía conforme era menor o
perímetro craniano, havendo QI médio de 35 pontos em crianças com microcefalia
versus QI médio de 62 pontos em crianças sem o diagnóstico.
O
número de casos de microcefalia reportados no Brasil vinha em uma constante de
130 e 170 casos/ano nos últimos 5 anos e, desde o início do surto, mais de 2400
casos já foram relatados, ou seja, um aumento de 1600% nos diagnósticos
suspeitos ou confirmados da malformação. “A crítica a esse dado é que o número
de notificações de casos suspeitos de microcefalia pode ter aumentado pela
simples conscientização dos profissionais de saúde quanto ao problema”, alerta
Dr Marcelo.
Os
sintomas do Zika vírus incluem febre baixa, erupções na pele, dor nas
articulações, conjuntivite, dores musculares e de cabeça e ocorrem de 2 a 12
dias após a picada do mosquito, durando entre dois dias a uma semana. Eles
ocorrem em apenas 20 a 25% dos indivíduos infectados, havendo desenvolvimento
de imunidade ao vírus após a infecção. “Quanto à chance da gestante infectada
dar à luz a um bebê com microcefalia, ainda não sabemos. Aliás, ainda não temos
sequer absoluta certeza da relação de caso e efeito”, afirma o especialista e
ainda orienta, “basicamente, havendo casos de microcefalia de origem genética
na família, recomendamos procurar aconselhamento com um médico geneticista e
realizar um acompanhamento pré-natal rigoroso para evitar uso de substâncias e
contato com infecções que possam levar as malformações e, no caso específico do
Zika, medidas para prevenir a proliferação do mosquito e uso de repelentes
adequados para a idade”.
Dr Marcelo
Prudente do Espírito Santo (CRM - 79315-SP) - Neurocirurgião do Hospital Santa
Catarina, diretor do Instituto de Neurocirurgia Minimamente Invasiva,
especialista em Neurocirurgia pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e
International Member do Congress of Neurological Surgeons.
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