terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O PEQUENO VILÃO





Neurocirurgião explica a relação entre a Microcefalia e o Zika Vírus, causado pelo mosquito Aedes aegypti. Brasil vive surto da doença que tem apavorado gestantes

Um mosquitinho tem causado pânico no Brasil. O Aedes aegypti, conhecido antes por transmitir apenas a dengue, entrou no hall dos inimigos da saúde pública do país com a descoberta do vírus Zika, tendo o primeiro caso confirmado em maio de 2015, e sua relação com a microcefalia.
Recentemente, o Centers for Disease Control (entidade do governo Norte-Americano) testou amostras do tecido de dois fetos abortados espontaneamente e de dois bebês com microcefalia confirmada que faleceram logo após o parto. Todos os quatro casos eram originários do Brasil e tiveram testes positivos para a presença do Zika vírus, o que demonstra que foram infectados durante a gravidez. As quatro mães relataram a presença de febre associada com alterações de pele durante a gestação.
Já um artigo publicado no New England Journal of Medicine, em 10 de fevereiro de 2016, pesquisadores relataram o achado de material genético do Zika vírus em tecido cerebral de feto com malformação diagnosticada intra útero. A mãe era uma eslovena que morava no Brasil, havia tido sintomas sugestivos de infecção pelo Zika ao final do primeiro trimestre da gravidez e que teve as malformações fetais diagnosticadas no ultrassom da 29ª semana de gestação. Ao retornar ao seu país de origem, solicitou autorização para abortar, que foi consentido pelas autoridades de saúde daquele país, com o posterior estudo. Até o momento, este é o indício mais relevante da relação entre o vírus e as malformações do sistema nervoso.
“Esses indícios até o momento foram o suficiente para que entidades como a Organização Mundial de Saúde se manifestassem dizendo que a disseminação do Zika vírus é explosiva e que ele é associado a complicações que justificam a decretação de uma situação de emergência em saúde pública de atenção internacional”, alerta Dr Marcelo Prudente do Espírito Santo, neurocirurgião do Hospital Santa Catarina e diretor do Instituto de Neurocirurgia Minimamente Invasiva.
De acordo com o especialista, o Ministério da Saúde define como microcefalia o crânio com perímetro menor que 32 cm. Como o crescimento craniano é conseqüência do desenvolvimento e aumento do volume do tecido cerebral, o diagnóstico de microcefalia infere a presença de um cérebro malformado e de volume menor. “Portanto, a microcefalia é resultado do desenvolvimento anormal do cérebro no feto”, pontua Dr Marcelo.
Além das infecções congênitas (intra útero), a microcefalia está relacionada a doenças genéticas, exposição da gestante a drogas, álcool e outras toxinas ambientais. As conseqüências de longo prazo variam de acordo com a causa e severidade da exposição, podendo ocorrer desde atrasos sutis no desenvolvimento da criança, até déficits motores e intelectuais graves. Em um estudo de 212 crianças com diagnóstico confirmado de microcefalia, o QI diminuía conforme era menor o perímetro craniano, havendo QI médio de 35 pontos em crianças com microcefalia versus QI médio de 62 pontos em crianças sem o diagnóstico.
O número de casos de microcefalia reportados no Brasil vinha em uma constante de 130 e 170 casos/ano nos últimos 5 anos e, desde o início do surto, mais de 2400 casos já foram relatados, ou seja, um aumento de 1600% nos diagnósticos suspeitos ou confirmados da malformação. “A crítica a esse dado é que o número de notificações de casos suspeitos de microcefalia pode ter aumentado pela simples conscientização dos profissionais de saúde quanto ao problema”, alerta Dr Marcelo.
Os sintomas do Zika vírus incluem febre baixa, erupções na pele, dor nas articulações, conjuntivite, dores musculares e de cabeça e ocorrem de 2 a 12 dias após a picada do mosquito, durando entre dois dias a uma semana. Eles ocorrem em apenas 20 a 25% dos indivíduos infectados, havendo desenvolvimento de imunidade ao vírus após a infecção. “Quanto à chance da gestante infectada dar à luz a um bebê com microcefalia, ainda não sabemos. Aliás, ainda não temos sequer absoluta certeza da relação de caso e efeito”, afirma o especialista e ainda orienta, “basicamente, havendo casos de microcefalia de origem genética na família, recomendamos procurar aconselhamento com um médico geneticista e realizar um acompanhamento pré-natal rigoroso para evitar uso de substâncias e contato com infecções que possam levar as malformações e, no caso específico do Zika, medidas para prevenir a proliferação do mosquito e uso de repelentes adequados para a idade”.


Dr Marcelo Prudente do Espírito Santo (CRM - 79315-SP) - Neurocirurgião do Hospital Santa Catarina, diretor do Instituto de Neurocirurgia Minimamente Invasiva, especialista em Neurocirurgia pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e International Member do Congress of Neurological Surgeons.
INMI - www.inmi.com.br(11)3804-4297/ 3804-4292

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