Ontem à
noite assisti a um vídeo exibido há pouco mais de um ano, durante a última
campanha eleitoral. Nele, Lula e Dilma conversam, em um jardim, sobre as
maravilhas do país que ambos estão construindo. Lula afirma não haver no mundo
lugar de oportunidades tão esplêndidas quanto o Brasil. Dilma se exclama ante a
conduta da oposição, descrente, pessimista e incapaz de reconhecer tudo que o
pré-sal, já no curto prazo, significaria para o desenvolvimento social e
econômico do país. Postei o vídeo no meu site (www.puggina.org/videos).
O caráter
dos dois mandatários que o PT vendeu como bons à carente e inculta sociedade
brasileira já é objeto de uma certificação histórica. Dá para levar a ficha ao
cartório, receber carimbo e colocar um selo. Nada que digam merece
credibilidade porque todos os seus atos funcionam como jogo de cena ou cortina de
fumaça. Visam a iludir ou a dissimular. Têm uma utopia para vender e uma
realidade, bem diferente, para ocultar. Têm malfeitos a refutar, adversários a
quem os atribuir e delatores a delatar.
O Brasil foi
ingerido e metabolizado - talvez devesse dizer colonizado - pelo Partido dos
Trabalhadores, que o vê como coisa sua. A organização considera nosso país uma
espécie de sítio em Atibaia, onde outros pagam para que os seus se regalem. Não
importa que o Brasil se dê mal, contanto que os companheiros se deem bem. Um
dia, sabe-se lá quando, nossa pátria será apenas um osso roído e sugado para
quem dele ainda quiser se ocupar. Como não lidamos com um governo, no conceito
político dessa palavra, os ocupantes só cuidam de seus próprios interesses, de
suas defesas, de lidar com seus advogados e, como sempre, de comprar apoios.
Tudo para manter a posse e a pose. E os brasileiros? Ora, os brasileiros que se
danem.
São duras
estas palavras? Minha pergunta é outra: quais seriam então as palavras, diante
do que vemos? Vocábulos gentis seriam compatíveis com a realidade nacional? O
partido governante acabou com a política! Promoveu mutretas e agora apela às
tretas, às milícias, com o objetivo de atemorizar a nação. Lembra, leitor, do
"espetáculo do crescimento"? Estamos pagando a conta do roteirista,
da iluminação, do som, dos fogos de artifício, da publicidade e dos efeitos
visuais. Os atores do desastrado espetáculo, para não serem vaiados, só
aparecem em ambiente cercado, para distribuir algum presente e dar a mão a beijar.
Em 1967, no
III Festival da MPB, o cantor Sérgio Ricardo, após vários minutos de
ininterruptas vaias, quebrou o violão e jogou-o ao público (ou no público). E
foi embora. O governo brasileiro vive o apogeu do fracasso. Vaia sobre vaia.
Tudo deu errado na Economia, na Educação, na Segurança, na Saúde. Em muitos
indicadores, estamos recuando aos anos 90. Perdemos 13 anos em 13. E já não
resta ao governo aquele fragmento de dignidade que lhe imporia o dever moral de
pedir desculpas, pegar o boné e tomar o rumo da porta.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de
dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo;
Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do
grupo Pensar+.
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