O uso da cannabis medicinal vem se desenvolvendo no Brasil. Considerando esse avanço, a legalização engloba diversos impactos socioeconômicos, já que é um setor em constante crescimento. Em geral, podemos apontar que é um mercado heterogêneo entre todas as classes sociais, pois inclui áreas como saúde, educação, segurança e economia.
Atualmente, a regulamentação da cannabis permite a
importação de alguns medicamentos à base da planta, mas proíbe a produção e
cultivo em solo brasileiro, fazendo com que hoje não seja um mercado acessível
para todos os pacientes. No Brasil, o número de médicos prescritores vem se
multiplicando a cada ano. Nos últimos seis anos, houve um crescimento médio de
124% ao ano, de acordo com dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa).
Esse crescimento se deve à ampliação do acesso à
gama de informações sobre o tema e do número de conteúdos científicos que
comprovam a eficácia da cannabis medicinal, que são essenciais para combater a
desinformação em relação às propriedades da planta e o preconceito que é
enraizado socialmente, dificultando o tratamento de muitos pacientes que
poderiam ser auxiliados.
Assim, com a ampliação da informação
sobre os benefícios da cannabis medicinal , a tendência seria aumentar o acesso
e, por consequência, os preços seriam reduzidos, logo, as classes mais baixas e
médias teriam mais condições de adquirir os produtos, gerando
oportunidades para as empresas do setor aumentarem seu market
share.
Podemos observar inúmeros países que começaram
restrições semelhantes às do Brasil e hoje já estão mais flexibilizados como,
por exemplo, Estados Unidos, Canadá e Alemanha. Além disso, existem diversos
benefícios econômicos que uma ampla regulamentação pode agregar ao país,
tendo em vista a estrutura do solo brasileiro e o clima favorável para a
produção e cultivo em larga escala da cannabis e suas subespécies.
Há de se considerar, também, a arrecadação de
impostos sobre o produto como um ponto crucial para avaliar uma reestruturação
da regulamentação atual. Nos Estados Unidos, por exemplo, nos estados onde é
permitida a comercialização da cannabis, arrecadam-se milhões de dólares pelo
mercado legal, capital que é investido em outros setores como saúde, educação,
lazer, entre outros.
A cannabis teve um crescimento muito acelerado e
esse movimento tende a se tornar cada vez maior. Estima-se que o Brasil se
tornará um dos maiores players globais do produto. Além da diversidade que o
uso da cannabis oferece, temos uma grande população, que está abrindo as
possibilidades para novas formas de tratamento; e a atuação do Sistema Único de
Saúde (SUS), que já vem trabalhando para incorporar essa realidade em seu
sistema.
Observando o presente e incorporando o futuro,
percebo que existem diversas inovações, formulações e pesquisas que
podem ser realizadas. O Brasil está atrasado na regulamentação, mas nada impede
que, vendo o desenvolvimento de outros países nesse segmento e tendo como
exemplo, terá maiores possibilidades de ampliar as leis atuais em benefício dos
pacientes.
Fabrizio Postiglione -
fundador e CEO da Remederi, farmacêutica
brasileira que promove o acesso a produtos, serviços e educação sobre a
cannabis medicinal. O executivo estuda a planta há mais de 10 anos e ao longo
de sua trajetória profissional, atuou em todo o processo para produção e comercialização
de medicamentos à base de cannabis.
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