Especialista do
Hospital Paulista explica que não há relação direta entre TEAs e deficiência
auditiva
Estabelecido em 2007, o Dia
Mundial de Conscientização sobre o Autismo é celebrado anualmente em 2 de abril
e tem como objetivo difundir informações à população sobre a condição, com
vistas à redução da discriminação.
Conforme o Ministério da Saúde, os Transtornos do Espectro Autista (TEAs)
surgem na infância e tendem a persistir na adolescência e vida adulta. Na
maioria dos casos, eles se manifestam nos primeiros cinco anos de vida e as
pessoas afetadas pela condição podem ter condições comórbidas, como epilepsia,
depressão e ansiedade. Já o nível intelectual varia muito de um caso para
outro, alternando de comprometimento profundo a casos com altas habilidades
cognitivas.
Dr. Gilberto Ferlin, otorrinolaringologista e foniatra no Hospital Paulista,
destaca que os TEAs têm como um de seus critérios diagnósticos a falha na
comunicação social e explica que, embora inicialmente os sintomas apresentados
possam ser parecidos, não há relação direta entre os transtornos e a
deficiência auditiva.
“O deficiente auditivo, dependendo do grau da perda auditiva e do ambiente onde
se encontra, embora não apresente falha na comunicação social, como o TEA,
pode, por não ouvir, não responder a chamados e não conseguir se comunicar
efetivamente. Por isso, é fundamental, antes de fechar o diagnóstico de
autismo, ter um diagnóstico audiológico consistente, principalmente em
crianças. Quanto menor a criança, mais importante é o diagnóstico audiológico
antes de se pensar em TEA”, reitera.
O especialista pontua que, muitas vezes, os primeiros sintomas notados pelos
cuidadores - não necessariamente os que primeiro aparecem -, tanto no autista
como no deficiente auditivo, são muito semelhantes, como, por exemplo, não
responder às conversas, nem mesmo ao chamado do nome, e o atraso na fala. Ambas
as características devem estar presentes por volta do primeiro ano de vida e
sua ausência constitui sinal de alerta para possíveis alterações no
desenvolvimento infantil.
Nesse contexto, ressalta o otorrino, é fundamental que o diagnóstico
audiológico seja consistente e o mais breve possível. Em geral, o paciente com
TEA, mesmo com audição normal, não responde ao chamado pelo seu nome. Muitas
vezes, também, não dá atenção aos sons ao seu redor, sendo esse um dos motivos
para o diagnóstico audiológico, que permite avaliar e quantificar, segundo o
método utilizado, a audição.
“Deficientes auditivos e autistas podem se confundir num primeiro olhar.
Evidentemente, existem outros sintomas na comunicação social que os diferencia,
como o olhar, por exemplo - embora não seja o único. Autistas podem também, ao
contrário, manifestar irritação ou agressividade a determinados tipos de sons
em intensidade (volume) não tão elevadas”, ressalta o médico.
A partir do diagnóstico do TEA e suas particularidades encontradas em cada
indivíduo, a reabilitação, especificamente das perdas auditivas, pode seguir o
padrão dos deficientes auditivo sem deixar de observar a singularidade do
paciente.
Uma vez estabelecido o diagnóstico audiológico pode ser necessário desde o uso
de aparelhos de amplificação sonora individual de diversos tipos até o implante
coclear, segundo as características encontradas. Além disso, terapia
fonoaudiológica pode ser indicada, a depender de cada caso. Em outros, pode ser
ainda necessário intervenções da equipe multidisciplinar, com psicoterapia e
terapia ocupacional, entre outras. Essas particularidades podem ser mais bem
estabelecidas a partir da avaliação de um otorrinolaringologista com
subespecialidade em foniatria, que é um especialista em comunicação humana e
seus distúrbios.
Num primeiro olhar, a perda auditiva pode dificultar o diagnóstico do TEA, por
isso, é fundamental que o diagnóstico audiológico do paciente seja consistente
e confiável. “Muitas vezes, a partir da avaliação do profissional
habituado a trabalhar com desenvolvimento infantil, como o otorrino foniatra, é
possível formular diagnóstico diferencial de uma ou outra alteração, pois um
diagnóstico não necessariamente exclui o outro. Nesse sentido, a busca do
diagnóstico etiológico auxilia, em muito, o trabalho terapêutico”, pondera.
Vale lembrar que o exame de triagem auditiva neonatal, obrigatório em
maternidades no Brasil, por se tratar de exame de triagem, não exclui todas as
possibilidades de déficit auditivo infantil, visto que existem condições de
saúde que evoluem com perda de audição progressiva a partir do nascimento. Por
isso, um profissional deve ser consultado tão logo se suspeite que possa
existir dificuldade auditiva na criança. “Crianças que não tenham atenção a
sons, não se assustam com barulho intensos, não balbuciam (brincam emitindo e
explorando os sons da boca) no primeiro ano de vida, principalmente se
estimuladas pelos cuidadores, devem ser investigadas”, finaliza Dr. Ferlin.
Hospital Paulista de
Otorrinolaringologia
Nenhum comentário:
Postar um comentário