A longevidade da
rainha Elizabeth II chamou a atenção nos últimos anos, ou “sempre chamou” para
os mais jovens, sendo motivo para uma imensa e universal geração de memes.
Vis a vis à
virtuosa longa passagem da monarca, que entra notavelmente para a história, a
régua da longevidade só tende a esticar. E pessoas falecendo por volta dos 96
anos já não será algo tão atiçador à criatividade dos inventivos da web. Diante
disso, não é contrassenso afirmar que o rei Charles III, que assume o trono aos
73 anos de idade, tenha, ainda, um longo caminho a percorrer.
Pesquisas
científicas traçam um novo panorama acerca da longevidade humana. Há indícios,
por exemplo, de que poderemos viver até os 150 anos. O número de centenários no
planeta, que em 1950 era de 24 mil, hoje está na casa dos 300 mil, e há
projeções para 2050 de que esse número salte para 3,8 milhões.
Neste cenário,
serão cada vez maiores os investimentos em inovações com foco em saúde, de modo
a proporcionar melhor qualidade de vida para esse público, bem como pavimentar
o caminho para aqueles que almejam viver por mais tempo, com vitalidade e independência.
Parte da
transformação da saúde passa pela digitalização para melhoria da gestão. Mas
outra parte significativa está nas mudanças científicas que vêm ocorrendo,
como, por exemplo, o mercado de pesquisas genéticas, que no mundo movimenta
cerca de US$ 1,5 trilhão por ano. Nos países desenvolvidos, quatro em cada
cinco startups de saúde têm algum tipo de produto baseado em análise genética.
Os avanços no
campo da genética, com base no desenvolvimento de procedimentos atinentes à
medicina 4P (preditiva, preventiva, personalizada e participativa), canalizam
as megatendências que influenciam o domínio dos cuidados de saúde
dissemelhantemente às abordagens tradicionais passadas, que se concentravam na
medicina reativa, passiva, centrada nos hospitais e dirigida por sintomas.
Converge com essa premissa a visão de que os cuidados com a saúde se darão em
casa, deixando para os hospitais apenas a função de prover amparo.
Testes genéticos
possibilitam o conhecimento do mapa de predisposições genéticas de cada
indivíduo, e o assistem ao longo de sua jornada, catalisam o desenvolvimento de
linhas de cuidado, a um custo cada dia mais baixo e baseado em um modelo de
negócio que fomenta a concepção de dispositivos mais simples e acessíveis, com
o intuito de democratizar o ingresso da população à saúde.
Por exemplo,
está para ser lançado no mercado brasileiro um produto revolucionário voltado à
extração de material genético, que possibilita a coleta de DNA e RNA em até
dois minutos, tempo recorde em nível mundial, e em qualquer lugar, sem a
necessidade de laboratório ou pessoal especializado, e que pode ser armazenado
em temperatura ambiente, uma disruptura nesse segmento, especialmente para um
país tropical como o Brasil – os extratores de DNA e RNA tradicionais precisam
ser acondicionados a baixas temperaturas, o que gera custo de refrigeração,
transporte, e dificulta seu manuseio.
Esse método
disruptivo, que tange sobre identidade genética, chega a um preço popular, para
ganhar escala, e tem o potencial de tornar o diagnóstico genético de doenças um
processo mais eficiente e econômico, que poderá ser utilizado em diversas
aplicações, tais como testes para que pessoas descobrir se têm predisposição a
alguma doença, como câncer de mama ou de próstata. Isso traz benefícios a
pacientes, governos, operadoras, instituições de saúde, laboratórios, clínicas,
entre outros. Ademais, a inovação possibilitará a geração de uma quantidade
relevante de prontuários genéticos e, consequentemente, de informações
anonimizadas que permitirão traçar um perfil da saúde no país.
Tecnologias como
essa podem beneficiar o Sistema Único de Saúde (SUS), colocando-o em condição
de discutir genética, sinistralidade genética e medicina 4P pari passu às
maiores nações do mundo. Ao passo que Estados e Municípios podem usar esse
serviço de identidade genética para promover o planejamento da saúde
populacional, ensejando a adoção de ações preventivas e de monitoramento mais
efetivas.
O rápido aumento
na idade das populações, os custos acelerados dos cuidados em saúde e a
crescente carga de doenças crônicas apresentam grandes desafios aos sistemas de
saúde, haja vista a grave crise financeira enfrentada pelos hospitais
filantrópicos no Brasil. Contudo, avanços na medicina, como o desenvolvimento da
genética, embarcada na megatendência da digitalização, trarão um grande impacto
para a economia nacional, reduzindo as perdas de produtividade e diminuindo os
custos de tratamento de doenças, priorizando a profilaxia, o diagnóstico
precoce e o atendimento primário.
Quanto mais breve
o diagnóstico de uma doença, menor a probabilidade do desenvolvimento de
complicações mais sérias. Quem ganha com isso, no final das contas, são as
pessoas, que viverão por mais tempo e com bem-estar, suportadas por um atendimento
mais ágil, resolutivo e barato.
Para tanto, há alguns desafios a serem superados pelas
autoridades de saúde municipais, estaduais e federal no tocante a estabelecer
padrões para o papel da genética, dentro do amplo escopo das funções básicas da saúde pública, tais como:
definição de critérios para o uso de testes genéticos para prever a
probabilidade de doenças e o impacto das intervenções; fomento ao prontuário
genético em linha com o Open Health; e elaboração de uma legislação de suporte
à LGPD, à Lei de Transparência, entre outras correlatas, que torne mandatória a
conservação da informação original em suas bases de origem – para maior
segurança dos dados dos pacientes.
Jeff
Plentz - fundador da techtools health
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