Determinação
recente do Ministério da Justiça busca dificultar o acesso ao produto que é
proibido desde 2009. Seu consumo está associado a várias doenças e tem crescido
entre jovens
Mesmo com a comercialização, importação e
propaganda proibidas pela Anvisa no Brasil desde 2009, os cigarros eletrônicos
– também conhecidos como vapes, pods, e-cigarettes, e-pipes, e-ciggys, entre
outros nomes – seguiram sendo encontrados à venda sem maiores problemas no
País. De olho neste comércio irregular, no último mês de julho o Ministério da
Justiça endureceu a postura e determinou que 33 empresas suspendessem
imediatamente a venda dos produtos em território nacional. A medida visa tentar
pôr fim ao consumo destes itens que, ao contrário do que muitos pensam, podem
causar danos gravíssimos à saúde.
De acordo com o pneumologista credenciado da Paraná
Clínicas, empresa do Grupo SulAmérica, Dr. Rafael Klas da Rocha Leal (CRM-PR:
37.291, RQE 21.635) as teorias espalhadas por muitos defensores do cigarro
eletrônico de que o hábito é menos nocivo à saúde do que o fumo tradicional,
não são verdadeiras: “Eles são tão prejudiciais quanto, talvez até mais. Os
vapes também possuem em sua composição diversas substâncias que são danosas ao
organismo, várias delas cancerígenas. Não existe dose segura para o seu consumo
e, por possuírem nicotina, eles também levam à dependência química”, explica.
O consumo dos cigarros eletrônicos está associado
ao desenvolvimento de uma série de doenças, principalmente alterações
neurológicas, cardiovasculares – como infarto, por exemplo – e doenças
respiratórias como enfisema e câncer de pulmão. Os casos têm sido tão comuns
que a comunidade médica, inclusive, criou um termo específico para classificar
enfermidades associadas ao uso deste tipo de produto: EVALI, sigla em inglês
para “Doença pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou
vaping”. Rocha Leal explica como o cenário é desafiador: “É difícil combater o
cigarro eletrônico porque ele é muito fácil de usar. Ele é mais tolerado em
diversos ambientes por não ter cheiro, o que geralmente torna seu consumo mais
simples em comparação com o tabaco tradicional. A tragada do cigarro eletrônico
também costuma ser mais longa, o que leva maior quantidade de partículas
nocivas para os pulmões e facilitam sua absorção pela corrente sanguínea”,
detalha.
Mesmo teoricamente banido, o consumo deste tipo de
produto é comum no Brasil e tem se intensificado perigosamente, principalmente,
entre os jovens. Dados de 2019 da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2019
(PeNSE) mostraram que 13,6% de estudantes adolescentes entre 13 a 15 anos já
haviam experimentado o cigarro eletrônico. Essa porcentagem salta para 22,7% entre
os jovens de 16 e 17 anos. Segundo Rocha Leal, tal crescimento não é aleatório:
“Os vapes possuem um grande apelo entre os jovens. Mesmo que as vendas
estivessem proibidas por aqui há anos, a indústria do cigarro criou
dispositivos eletrônicos que procuram conquistar o público mais jovem a partir
da tecnologia e inovação. Essa estratégia e a facilidade de encontrar estes
produtos, principalmente na internet, fizeram com que seu consumo crescesse
entre jovens”, afirma.
Com a nova determinação do Ministério da Justiça, a
expectativa é que o acesso a este tipo de produto seja efetivamente proibido no
Brasil, tal como prevê a determinação da Anvisa de 2009.
Impactos à saúde
O consumo de tabaco e derivados tem caído no Brasil
ao longo dos últimos anos, mas este ainda é um grave problema de saúde pública.
Dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) mostram que o
percentual de usuários de derivados do tabaco foi de 12,8% em 2019. Em 2013, a
prevalência de tabagismo foi de 14,9%. Embora estes números sugiram uma
sistemática queda no número de fumantes no País, o impacto que pacientes com
doenças relacionadas ao consumo de tabaco ainda é alto para o sistema de saúde
brasileiro: uma pesquisa de 2020 do Instituto de Efetividade Clínica e
Sanitária (IECS) estimou que doenças causadas pelo tabagismo custam
aproximadamente R$ 125 bilhões ao ano ao País.
Embora fumar seja um hábito secular, a preocupação
está longe de ser injustificável: os cigarros possuem em sua composição mais de
4.700 substâncias, muitas delas nocivas à saúde, além da nicotina que causa
dependência. Dentre os elementos químicos nocivos encontram-se o monóxido de
carbono, mesma substância expelida pelo escapamento dos carros, além de
plutônio, formol, pesticidas e metais pesados como arsênio, chumbo e cádmio.
O Dr. Rafael Klas da Rocha Leal explica a importância de campanhas de conscientização sobre o tema: “Não existem produtos ou versões do fumo que sejam seguras. Todas, sem exceção, são prejudiciais à saúde: cigarros tradicionais, eletrônicos, cigarros de palha, fumo de rolo, charuto, cachimbo, narguilé, entre outras. Não existe dose segura para consumo de nenhum desses produtos e todos estão associados a dependência e desenvolvimento de doenças”, finaliza.
Paraná Clínicas
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