A resolução da Anvisa determina novo rótulo de alimentos
As novas regras
para rotulagem de alimentos entram em vigor no dia 9 de outubro de 2022. A
grande novidade é a adoção da rotulagem nutricional frontal, em formato de
lupa, além de mudanças na tabela de informação e nas descrições nutricionais. A
Dra. Maria Edna de Melo, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), que acompanha a
implementação da rotulagem frontal nas embalagens dos alimentos, traz abaixo
alguns pontos de preocupação da comunidade médica quanto à implementação
destas regras.
Quais
as preocupações que ainda cercam os médicos em relação à nova rotulagem?
Uma preocupação
que temos é justamente a implementação plena desse modelo de
rotulagem, que é extremamente importante para conscientizar de forma fluida e
fácil sobre o conteúdo de ingredientes críticos nos alimentos.
Porém a maior preocupação
é no que concerne à modificação dos ingredientes para fugir dos
pontos de corte no qual o produto ganha a sinalização de excesso de açúcar, de
gordura saturada e/ou de excesso de sal.
Existe uma tendência à
modificação na composição dos produtos retirando o açúcar,
porém, colocando uma quantidade de adoçantes, que é desnecessária e que não
pode – do ponto de vista de saúde - ser oferecida de uma forma indiscriminada
para a população em geral. Até porque esses produtos têm o limite de consumo
diário, e quando não se sabe quanto estamos consumindo, facilmente podemos
ultrapassar esses limites, principalmente as crianças que têm um peso menor,
porque os limites são definidos por peso corporal.
Bebidas
de embalagens retornáveis, como os refrigerantes, ainda têm mais um tempo para
se adequar à nova rotulagem. Por que essa demora justamente num produto que tem
alto teor de açúcar?
Não há explicação
racional para essa demora. Hoje a gente acompanha a diminuição do tamanho dos
produtos, isso não só na indústria alimentícia, mas até mesmo na de material de
limpeza. Vemos que a indústria consegue reduzir o tamanho da porção ou das
embalagens de uma forma rápida para que as vendas não caiam e a comercialização
continue num determinado patamar. Então quando se tem algo que é importante
para a saúde pública, não tem como justificar. A gente fica
esperando que tanto as autoridades que aprovaram a nova rotulagem deem uma
explicação, assim como também a indústria, que sempre hasteia uma bandeira de
responsabilidade social de forma tão veemente.
Quais
pontos o consumidor deve estar atento sobre esta adequação na rotulagem?
O
consumidor deve que exigir a sinalização dos rótulos dos alimentos. Se um determinado alimento não contém as lupinhas na
embalagem, o consumidor precisa sinalizar e denunciar na Anvisa. Temos que
somar forças denunciando que algo não está sendo vendido conforme pede a
regulamentação. A gente tem que fiscalizar e fazer essa resolução funcionar.
Essa discussão sobre rotulagem vem desde 2014, portanto já tivemos um prazo
grande para implementação.
A nossa
regulação do apetite é muito primitiva. As regiões mais
desenvolvidas do nosso cérebro participam pouco nesse processo. O córtex
pré-frontal participa da tomada de decisão diante de um determinado estímulo,
como quando estamos diante de um alimento: então a sinalização com as lupas nos
ajuda fornecendo informações para que possamos ponderar e fazer melhores
escolhas.
Normalmente consumimos alimentos sem ter percepção de que aquilo tem algum ingrediente em excesso que pode prejudicar a nossa saúde. Assim nunca vamos ponderar porque a única informação que vai chegar para nossa consciência é somente o da palatabilidade, ou seja, vou comer o alimento porque é gostoso. Mas a partir do momento que sabemos que determinado alimento tem muito açúcar, muita gordura saturada e muito sal - mesmo aquelas pessoas que não sabem exatamente o prejuízo que esses ingredientes podem causar – seremos auxiliados para escolhas mais saudáveis.
É lógico que não se
espera uma revolução nos números de obesidade e das doenças crônicas com
relação a isso, mas é importante saber exatamente, ou pelo menos parcialmente,
aquilo que estamos consumindo.
SBEM-SP
- Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Estado de São Paulo
https://www.facebook.com/sbem.saopaulo/
https://www.instagram.com/sbemsp/
https://www.youtube.com/c/SBEMSP
bit.ly/PODCASTSBEMSP
Nenhum comentário:
Postar um comentário